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A Igreja Católica é rica mesmo? Eis o que o sucessor do Papa Francisco encontrará

No imaginário popular, a Igreja Católica é luxuosa e opulenta, mas as contas do Vaticano mostram uma realidade bem mais dura

Por Márcio Juliboni Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 abr 2025, 19h53 - Publicado em 24 abr 2025, 19h45

Em 2013, ao ser eleito para comandar a Igreja Católica, o então cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio adotou o nome de Papa Francisco. A escolha continha diversos recados implícitos e outros nem tanto à comunidade eclesiástica, aos fiéis e ao mundo em geral. Como membro da Ordem dos Jesuítas, o novo papa desejava despojar a Santa Sé do luxo e da pompa ostentados por seus antecessores. Mas, afinal, a Igreja Católica é tão rica, quanto se pensa? Até o papado de Francisco, morto na segunda-feira 21, a resposta continha mais suposições do que certezas. Coube a ele promover outra revolução no cotidiano da milenar instituição: dar mais transparência às finanças católicas.

O que se viu, contudo, está longe da opulência que povoa o imaginário popular. Problemas bastante mundanos, como déficits fiscais decorrentes de quedas na arrecadação e de aumentos nos gastos, se agravaram desde a pandemia de covid-19, entre o fim de 2019 e meados de 2021. Veja, a seguir, o que se sabe sobre as finanças e o patrimônio da Igreja Católica, a religião de 1,4 bilhão de pessoas no mundo.

Quantas propriedades, a Igreja Católica possui?

 

Os livros de História contam que a igreja enriqueceu, durante a Idade Média, por meio da doação de bens e propriedades de nobres que desejavam se redimir aos olhos de Deus. Assim, a instituição se tornou uma das maiores proprietárias de terras da Europa. Mas, quanto disso sobrevive no século XXI?

A resposta mais exata está no relatório elaborado pela Apsa, o órgão da Cúria Romana responsável por administrar as propriedades da Santa Sé. Segundo o último levantamento, divulgado em 2023, a igreja administra direta ou indiretamente mais de 5 000 imóveis, entre igrejas, edifícios no Vaticano, prédios comerciais, residenciais e propriedades rurais. Além disso, pouco mais de 4 200 desses imóveis estão na Itália.

Em 2023, esse portfólio foi avaliado pela Apsa em 2,7 bilhões de euros (cerca de 18 bilhões de reais, pelo câmbio atual). A imprensa especializada, no entanto, sublinha que a cifra é subestimada, já que edifícios de elevado valor histórico foram contabilizados pelo valor simbólico de apenas 1 euro cada. Os especialistas lembram ainda que a Apsa administra a maior parte, mas não todos os imóveis católicos.

A locação desses imóveis é uma importante fonte de renda para o Vaticano. Ainda de acordo com a Apsa, em 2023, a renda dos aluguéis totalizou 45,9 milhões de euros, dos quais, 37,9 milhões foram direcionados para o caixa da Santa Sé.

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A Igreja Católica tem lucro?

 

Até a eleição do Papa Francisco, pouco se sabia sobre as finanças do Vaticano. Francisco procurou profissionalizar a gestão das receitas e enquadrá-las em padrões internacionais de contabilidade, além de obrigar sua divulgação pública. É verdade que os relatórios financeiros publicados pela Secretaria de Economia da cidade-Estado mostram que os católicos ainda engatinham em matéria de transparência nas contas públicas, mas já é possível compreender alguns pontos.

O principal é que o Vaticano vem registrando sucessivos déficits operacionais. Em 2023, por exemplo, o déficit operacional foi de 83,5 milhões de euros, um aumento de 7% sobre o rombo de 78,2 milhões reportado no ano anterior.

No total, as receitas operacionais (sim, este é o termo usado no relatório do Vaticano) somaram 1,152 bilhão de euros em 2023. A cifra foi apenas 2,5% maior que os 1,124 bilhão obtidos em 2022. As despesas operacionais, contudo, cresceram ligeiramente mais – 2,7% – e encerraram o ano retrasado em 1,236 bilhão de euros.

Mesmo quando se considera o resultado financeiro decorrentes de investimentos, a situação não melhora muito. No ano retrasado, o resultado financeiro líquido da Igreja Católica foi de 34,8 milhões de euros. Após completar a conta com rendas não recorrentes de 2,9 milhões de euros, o resultado final foi um déficit total de 8,8 milhões de euros no ano retrasado.

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De onde vem o dinheiro da Igreja Católica?

 

Também faz parte do imaginário popular, a suposição de que a maior parte da renda da instituição venha de doações dos fiéis, mas o relatório do Vaticano mostra que isso não retrata bem a realidade. Em 2023, a receita total do Vaticano, incluindo aplicações financeiras, foi de 483,7 milhões de euros – uma alta de 7% sobre o ano anterior.

As doações são a maior fonte de renda da igreja, mas representaram apenas 45% de suas receitas em 2023 – o equivalente a 217,6 milhões de euros. A segunda fonte de receitas é a geração própria, composta pela renda obtida com o aluguel de seus imóveis, transações comerciais e prestação de serviços. Em 2023, a geração própria somou 205,3 milhões de euros, o equivalente a 42% do total. A maior fonte de recursos próprios é a gestão dos imóveis, que contribuiu com um total de 101,7 milhões no ano retrasado – incluindo os recursos transferidos pela Apsa.

O lucro com investimentos financeiros é o terceiro maior provedor de recursos. Em 2023, as receitas financeiras brutas somaram 45,8 milhões de euros, ou 10% do total contabilizado pelo Vaticano.

Onde o Vaticano gasta o dinheiro?

 

Segundo a Secretaria de Economia da Santa Sé, no ano retrasado, o total de despesas do Vaticano foi de 495,4 milhões de euros, incluindo despesas financeiras. A cifra representa uma alta de 2% sobro o ano anterior. Apesar dos esforços para conter os gastos, que subiram menos que as receitas, o resultado final continuou negativo.

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Como todo Estado, a maior parte dos recursos é consumida pela manutenção da máquina pública. As despesas gerais e administrativas consumiram 35% das receitas no ano retrasado. Praticamente empatadas, ficaram os gastos com pessoal, que representaram 34% do total. As doações e as obras de caridade responderam por apenas 26% dos desembolsos. Já as despesas financeiras levaram outros 2%.

Veja as demonstrações financeiras mais recentes do Vaticano, relativas a 2023:

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