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A nova escalada do dólar em meio a tensões políticas

Moeda vai a R$ 5,53 e renova recorde; ambiente político conturbado somado à aversão ao risco e à expectativa de corte da Selic levam à depreciação do real

Por Alessandra Kianek Atualizado em 23 abr 2020, 17h31 - Publicado em 23 abr 2020, 17h24
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  • Com tamanha incerteza que ronda os mercados financeiros e a economia global como um todo, a aversão ao risco, por parte dos investidores internacionais, só cresce devido à pandemia do novo coronavírus e suas consequências, que paralisaram as atividades econômicas globais. E, com esse movimento, é normal que os países emergentes, como o Brasil, acabem sofrendo uma fuga de capital e, consequentemente, uma depreciação maior de suas moedas. Desde o início deste ano, o dólar já subiu 37,8% no Brasil. Quando comparado a outras moedas emergente, o real é o que apresenta o segundo pior desempenho neste ano, ganhando apenas do rand sul-africano. Nesta quinta-feira, 23, o câmbio subiu 2,2% e fechou negociado a 5,5278 reais – novo recorde histórico nominal. 

    Isso mostra que outros fatores também corroboram para essa depreciação. “Quando os investidores olham o Brasil para a tomada de  decisões de alocações de recursos vêem questões internas que sinalizam que o país está pior que os seus pares emergentes”, explica  Fernanda Consorte, economista-chefe e estrategista de câmbio do banco Ourinvest. Pesam nas decisões a situação política desorganizada, com conflitos escancarados entre o Executivo e o Legislativo e entre as esferas federais e estaduais, num momento em que a cooperação é a palavra-chave no mundo. A questão política tomou força nesta quinta-feira com a notícia de que o ministro da Justiça, Sergio Moro, pediu demissão a Jair Bolsonaro ao ser informado pelo presidente da decisão de trocar a diretoria-geral da Polícia Federal, hoje ocupada por Maurício Valeixo. A possível saída de Moro leva o mercado financeiro a projetar riscos maiores para a economia brasileira, escancarando a fragilidade dos pilares do governo. Nesta semana, outro fator se associou a esses e pesou na depreciação do real: a expectativa de corte dos juros da economia brasileira. Os investidores trabalham com uma queda de 0,75 ponto percentual, o que levará a taxa Selic, que está hoje em 3,75% ao ano, a renovar o seu nível mínimo histórico. Especula-se que o corte poderia vir antes mesmo da próxima reunião, agendada pelo Copom para os dias 5 e 6 de maio, em um anúncio extraordinário. 

    O Banco Central tem tentado controlar a escalada da moeda com oferta de leilões no mercado, mas o nível de desconfiança e de incerteza é tão grande que os investidores preferem ficar parados e não realizar ordens de compra. Uma das alternativas da autoridade monetária seria vender reservas à vista, mas, como este é um movimento estrutural, as atuações são limitadas e não têm muito como mudar essa tendência. O mundo todo enfrenta neste momento uma falta de liquidez. A pandemia derrubou as bolsas e o nível de riqueza do globo diminuiu. “Como tem menos dinheiro rondando as economias, o pouco que sobrou vai para países desenvolvidos, considerados mais seguros”, explica Fernanda. 

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    O mercado de câmbio seguirá volátil por um bom tempo, subindo e descendo conforme notícias pontuais forem aparecendo. Mas à medida em que apareçam respostas da ciência contra a Covid-19, com o surgimento de uma vacina ou de um remédio, a recuperação será rápida, com o real voltando a se valorizar. Modelos matemáticos macroeconômicos apontam que o preço justo do dólar hoje está abaixo do valor comercializado atualmente. Segundo a gestora de fundos Claritas, um modelo de curto prazo, que leva em conta o risco-país do Brasil, a taxa de juros americana e os valores importados e exportados, mostra que valor do dólar justo seria 5,30 reais neste momento. Os mesmos cálculos, porém, para o longo prazo projetam o câmbio a 5,00 reais no final deste ano. “O surgimento de uma cura contra a pandemia, a retomada de um ambiente fiscal mais responsável no Brasil e sinais de retorno do crescimento econômico global, com menor aversão ao risco, levarão o real a uma apreciação. Projetamos uma retomada da atividade econômica brasileira ao longo do último trimestre deste ano, e com o dólar próximo de 5,00 reais”, explica Damont Carvalho, gestor da Claritas. Até que a economia global mostre sinais de retomada e que o governo federal encontre um eixo, o dólar seguirá com alta volatilidade.

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