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A sombra de Paulo Skaf na queda de Josué Gomes na Fiesp

Ex-presidente da entidade endossou a eleição de seu sucessor, mas foi imbuído de críticas por sindicatos insatisfeitos com a nova gestão

Por Felipe Mendes Atualizado em 18 jan 2023, 13h27 - Publicado em 18 jan 2023, 12h17

O histórico primeiro-ministro do Reino Unido, Winston Churchill, dizia que a política é quase “tão excitante como a guerra e não menos perigosa”. E justificava: “Na guerra, a pessoa só pode ser morta uma vez, mas na política diversas vezes”. A queda de Josué Gomes à frente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, a Fiesp, tem um pouco disso. Empresário cheio de predicados, com atuação em diversos setores, sobretudo no ramo têxtil, Gomes assumiu a entidade em janeiro de 2022 avisando de antemão que não é político e, portanto, não pregava por sua reeleição. Ele descentralizou responsabilidades e nomeou executivos da indústria tradicional para cargos importantes dentro do corpo diretivo e do conselho.

O presidente deposto, no entanto, abriu brecha para a insatisfação quando deixou de lado o trato com os sindicatos que representam indústrias “menores”, mesmo tendo sido eleito com apoio deles. A pedido de Paulo Skaf, que transitava como poucos entre as diversas associações do setor, houve uma comunhão pela eleição de Gomes. Skaf, que presidiu a Fiesp de 2004 a 2021, organizou eventos e pediu um voto de confiança para seu sucessor. Deu certo. Gomes venceu, em chapa única, o pleito – seu principal adversário, José Ricardo Roriz, teve a candidatura indeferida.

Uma vez eleito, Gomes disse que seu objetivo era tocar a Fiesp como comandava o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) – a ideia era não causar alardes, focar em projetos de educação e delegar maior poder para os diretores. Acontece que a Fiesp dita o rumo do debate econômico e político do país e, portanto, há muito interesse envolvido por trás da entidade. Descontentes com a perda de relevância no dia a dia da federação, diversos empresários se reuniram e foram bater na porta de Skaf, que relutou a participar de um motim, mas abriu as portas de sua casa para confraternizar com os dissidentes. Skaf ouviu relatos de que Gomes era “prepotente” e “ausente” no dia a dia da entidade, mas decidiu não tomar partido contra seu sucessor.

“O Skaf tem vários defeitos, mas ele não liderou a derrubada do Josué. Da mesma maneira que ele convocou os ‘caras’ e pediu para votar no Josué, eles foram lá dizer que ele tinha de ajudar agora, que o Josué tinha virado um problema. Ele até tentou colocar panos quentes, mas não teve jeito. Os caras protocolaram o documento pedindo a assembleia para discutir o impeachment”, diz um representante da indústria que defende Gomes.

Em seus longos anos à frente da entidade, Skaf aplaudiu decisões de Luiz Inácio Lula da Silva e foi um dos principais fomentadores de protestos pelo impeachment de Dilma Rousseff. Em 2022, apoiou a tentativa de reeleição de Jair Bolsonaro. Político, no maior sentido da palavra, Skaf foi alçado à presidência da Fiesp, em 2004, como um outsider. Derrotou o então presidente da federação, Horacio Lafer Piva, atual conselheiro da Klabin, de forma surpreendente, dando maior ênfase para o trato com sindicatos menores. Afinal, em uma democracia, cada voto conta, independentemente de raça, credo ou conta bancária. E, quando empossado, Skaf fez… política. “O Paulo ficava na Fiesp dezoito horas por dia, marcava presença em tudo que é festa, de qualquer sindicato da Fiesp. Ele recebia o ‘cara’ e cuidava. E, com isso, virou adorado por todos”, afirma esse representante.

Gomes talvez não tenha entendido isso. Foi defenestrado pensando em defender os interesses da grande indústria, em prol de uma reindustrialização do país, mas esqueceu-se de fazer política com os segmentos menores da indústria. Sai quando, de fato, o setor ganha um forte interlocutor no governo para defender seus interesses em Brasília: o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, que acumula a função com a de ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). E mesmo quando os riscos de um impeachment eram iminentes, Gomes pouco tentou dissuadir seus dissidentes da ideia de demovê-lo do poder. Faltou união, diálogo e… política.

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