A preparação das companhias aéreas para voltar a voar
Embrulhadas para evitar deterioração, as aeronaves começam a ser preparadas para a retomada; em agosto, malha deve operar em 35% da capacidade pré-pandemia
Em um movimento que indica o retorno gradual dos passageiros aos aeroportos brasileiros, as companhias aéreas começaram a retirar seus aviões dos pátios para que possam alçar voo novamente. Em abril, quando o setor sofreu um tombo e amargou queda de 96% da malha aérea em comparação com o mesmo período de 2019, as companhias correram guardar as aeronaves nos hangares e preservar ao máximo seus equipamentos para, assim, evitar um gasto ainda mais expressivo na parte de manutenção. Cabe lembrar que a maior parte da frota é alugada por meio dos chamados “acordos de leasing“, que precisaram ser renegociados em razão da pandemia. Com os aviões parados em solo, todas as equipes de conservação foram acionadas para proteger os componentes mais importantes das aeronaves das ações do tempo, já que muitas ainda ficarão meses paradas e fora de operação. Agora, mesmo com uma recuperação por ora tímida, as empresas já iniciaram os processos de “despreservação” das máquinas, que exigem uma série de cuidados e envolvem processos como desembalagem de motor e trem de pouso, preparação do motor para giro e energização interna, externa, de sistemas e equipamentos, com o objetivo de deixar essas aeronaves aptas novamente para voo.
“Para o próximo mês, voltaremos a conectar importantes cidades do interior de estados brasileiros, reforçando a vocação regional da Azul e a nossa conectividade, que amplia as opções de voos e destinos para nossos clientes. Recompondo parte da oferta, nossa malha crescerá 290% em agosto em comparação com abril, nos permitindo atender as pessoas que precisam continuar se deslocando pelos mais diversos motivos. O transporte aéreo é fundamental para contribuir com a retomada da economia e servir um país de dimensões continentais como o Brasil”, afirma Abhi Shah, vice-presidente de Receitas da Azul. Em agosto, a companhia terá 300 voos diários e retomará operação em oito destinos no país, os novo acréscimos farão a Azul chegar a 35% da capacidade de operação pré-pandemia. Para se ter uma ideia, a Azul chegou a preservar, num processo que envolve a embalagem de peças importantes como motor e trem de pouso, 113 das 146 aeronaves da companhia. Até a última quarta-feira, 22, 39 já haviam sido sido desembaladas pela Azul, totalizando 72 em operação e 74 ainda paradas nos hangares.
Em junho, a demanda por voos domésticos registrou queda de 85% em comparação com o mesmo mês de 2019, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Foi o terceiro pior resultado mensal desde 2000, quando se iniciou a série histórica. As maiores retrações foram verificadas justamente nos meses anteriores: em abril, quando a queda foi de 93,1% e em maio, quando a redução atingiu 91%, foram os meses mais impactados pela pandemia do novo coronavírus. A tímida e gradual melhora dos números serve de algum alento para o setor. A oferta teve retração de 83,6% em junho na comparação anual e a demanda por viagens internacionais teve retração de 95,4% no mês, em relação ao mesmo período de 2019. A oferta teve queda de 89,3% na comparação. Os dados foram compilados pela Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear).
Procurada por VEJA, a Gol afirmou que suspendeu “qualquer projeção até que o ambiente operacional volte ao normal; o foco continua em buscar proteger empregos, reduzir os custos e na preparação para o retorno ao serviço normal no devido tempo”. No começo de julho, a companhia estimava que mercado doméstico voltaria “a patamares anteriores à pandemia da covid-19 em meados de 2021, mas isso não significa necessariamente que será nos mesmos níveis de 2019, mas a períodos em que as aéreas tiveram margem acima do considerado ponto de equilíbrio”. A Latam Brasil afirmou que irá aumentar suas operações em agosto e setembro no mercado doméstico brasileiro, cujo crescimento representa mais de 50% em ambos os meses. “A ampliação em relação a julho, cuja média diária de voos operados pela empresa está em torno de 110, ainda está bem abaixo das operações da companhia em comparação com 2019, quando a média diária era de 750 voos no Brasil. No entanto, o movimento para agosto e setembro representa um aquecimento da demanda, ainda que tímido, mas que fortalecerá os principais centros de conexão da empresa – Guarulhos e Brasília”, disse a companhia em nota.