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A queda da Nasdaq relembra a bolha de tecnologia dos anos 2000

Índice americano derrubou a bolsa brasileira; apesar de semelhanças, bolha que ocorreu há 20 anos apresentava um contexto muito diferente do atual

Por Luisa Purchio 3 set 2020, 20h42

Apesar das boas notícias no mercado nacional, o Ibovespa fechou em queda de 1,17%, a 100.721,36 pontos, derrubado pelas bolsas americanas. Em dia de venda de papéis, a Nasdaq, a bolsa que reúne as empresas de tecnologia nos EUA, fechou em baixa de 4,96%, a 11.458,10 pontos. O S&P 500, por sua vez, teve o pior dia desde junho e fechou em baixa de 3,51%, a 3.455,06 pontos. “Os índices de ações americanos tiveram altas fortes nas últimas sessões, com Nasdaq e S&P 500 renovando as máximas históricas. O mercado brasileiro acabou realizando lucros em um movimento que acompanha as ações americanas”, diz Paloma Brum, analista da Toro Investimentos.

Com a apresentação da reforma administrativa pelo Ministério da Economia, que promete aliviar a sensível situação fiscal do país, o Ibovespa chegou a ultrapassar os 103 mil pontos na manhã dessa quinta-feira, 3, mas recebeu um balde de água fria com as notícias do cenário internacional. Essa volatilidade, no entanto, já era prevista pelos especialistas, tanto porque a reforma ainda percorrerá um longo caminho de aprovações quanto porque o cenário ainda é instável para o mercado financeiro. Até a aprovação de uma vacina e a volta da normalidade da economia, o sobe e desce das bolsas deve continuar. Já o dólar refletiu o destravamento da agenda liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes, e fechou em queda de 1,24%, a 5,2915 reais.

Apesar de a justificativa da baixa de hoje nos papeis das Big Techs ser a realização de lucros, algumas especialistas chamam a atenção para o risco de um crescimento demasiado nas ações destas empresas. “As sucessivas subidas no Nasdaq e no S&P indicam uma grande bolha, que em algum momento vai estourar, mas é dessa maneira que o mercado funciona. Isso talvez aconteça na eleição americana, se ela for muito acirrada e o Trump perder, o que pode se reverter em um aumento de impostos”, diz Alexandre Espírito Santo, economista da Órama Investimentos, que chamou a atenção para a recente saída da Exxon e da Pfizer do índice S&P 500 para dar lugar a empresas que oferecem serviços digitais. “A Tesla está valendo mais que o Wal Mart, e a Apple mais que o PIB brasileiro. Será que isso faz sentido a médio prazo? Fiz essas perguntas em 1998 e 1999 e no início do século houve o estouro da bolha. Na época o que eu mais ouvia era que estava acontecendo uma mudança de paradigma”, diz ele.

Nos anos 2000, novos serviços de internet e a popularização dos computadores geraram uma euforia nos investidores, tanto nos grandes e experientes quanto nos novatos. No dia 10 de março de 2000, a Nasdaq estava acima de 5 mil pontos, mas caiu 4% quando empresas começaram as realizações de lucro. Daí por diante, se iniciou um ciclo de baixa e em menos de uma semana o Nasdaq se desvalorizou quase 1 trilhão de dólares. Há 20 anos atrás, porém, a taxa de juros dos Estados Unidos era de 6%, e atualmente está em torno de 0%. Além disso, naquela época, as empresas eram uma aposta de futuro. Atualmente as Big Techs existem, possuem faturamento estratosférico e fazem parte da vida das pessoas.

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Mesmo assim, alguns motivos podem levar a uma repentina desvalorização de ativos. A injeção trilionária de dólares na economia americana pelo Fed seria uma delas. “Essa política monetária expansionista, que coloca muito dinheiro no mercado, pode levar a uma supervalorização de ativos. Para a conta fechar em empresas como a Zoom e a Tesla elas terão de crescer muito, porque a proporção que elas tomaram é muito grande. Se qualquer coisa der errado, elas vão cair, porque ficaram muito caras em relação às empresas que não se beneficiaram desse movimento da tecnologia, como por exemplo os bancos”, diz Adriano Cantreva, sócio da Portofino Investimentos, que chamou a atenção para o fato de o movimento de hoje ser um reajuste dos mercados.

 

 

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