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A resposta da Toyota ao plano do governo de popularização dos carros

Governo deve detalhar ainda hoje o plano de barateamento dos carros, anunciado na semana passada

Por Pedro Gil Atualizado em 5 jun 2023, 18h37 - Publicado em 5 jun 2023, 14h07
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  • O governo deve oficializar ainda nesta segunda-feira, 5, detalhes do plano de barateamento dos carros, que devem ter redução de até 10,79% no valor final, com isenções de IPI, PIS/Cofins, segundo feito no último dia 25 pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. O desconto adotará três critérios: o social (quanto menor o carro, mais acessível, maior será desconto), o ambiental (carros que poluem menos) e a densidade industrial (quanto maior o percentual de itens produzidos no país na montagem, maior a dedução). O percentual, ou um bônus, serão aplicados diretamente no valor do carro. Diretor de assuntos governamentais da Toyota no Brasil, Roberto Braun falou a VEJA sobre o plano do governo, lamentou a demora no detalhamento do plano, o que travou as vendas no setor, e garantiu: um carro “pelado” — sem os adereços que hoje compõem até os veículos mais básicos do mercado — não passa pela estratégia de vendas da montadora japonesa. A aposta é no mercado de veículos híbrido-flex, com baixa pegada de carbono, mas cujo preço pode chegar a 200 mil reais.

    Como o setor recebeu o anúncio do plano de barateamento, anunciado pelo vice-presidente Alckmin? Nós estamos acompanhando essa discussão. Participamos de algumas conversas. É uma forma de impulsionar a indústria. Gerar ou manter os empregos. Mas vemos alguns desafios: ao longo dos últimos anos os veículos foram incorporando novos equipamentos para atender questões de segurança, emissões e conectividade. Tudo isso aumentou o custo e aumentou os preços. A inflação também aumento os preços, com a falta de semicondutores e a própria logística internacional, que ficou desorganizada com a pandemia. Para trazer a valor presente: um carro popular, como o Fusca, chegaria hoje ao valor de 80 mil reais. O preço atual não está tão fora da realidade.

    80 mil reais é bastante fora do orçamento do brasileiro. O que fazer então para tornar o carro mais acessível? O que não dá para fazer é eliminar as conquistas dos consumidores ao longo desses anos. A gente percebe que o consumidor brasileiro não quer um carro pelado. Essa discussão e redução do imposto, facilitar o financiamento, isso tudo ajuda, mas é uma solução de curto prazo. No médio prazo, é necessário trabalhar com medidas estruturais que ajudem a trazer para cima a média de renda do brasileiro. E com isso ele passa a ter acesso a bens de consumo duráveis, como automóveis. A reforma tributária vai facilitar a apuração e cobrança dos impostos, de forma mais equilibrada e mais justa. Isso traz um impacto para toda a cadeia produtiva brasileira. Isso traz mais segurança jurídica e previsibilidade.

    A demora no anúncio dos detalhes do plano do governo de barateamento do setor atravanca as vendas?  Com certeza. Quando você tem uma informação que fale de mudança, isso causa algum impacto no mercado. Já temos visto isso (retração de vendas) a partir da expectativa de anúncio do plano. O ideal é que a medida seja implementada rapidamente.

    Economistas têm criticado a proposta do governo por não condicionar a isenção a uma taxa de exportação. Como acessar o mercado externo? A Toyota tem um modelo de negócio de muito sucesso, que é a diversificação do mercado, com foco no doméstico e na exportação. Hoje, 40% da nossa produção é voltada para o mercado externo. Os veículos híbridos atendem a essa demanda. A Toyota é a única que produz esse modelo pleno, com dois motores: um elétrico, de alta eficiência, e um flex, que usa etanol. É uma pegada de carbono muito baixa. Essa tecnologia tem sido muito demandada por aqui e no exterior. Hoje, somos número 1 em exportação no Brasil. Das exportações brasileiras, 24,5% são da Toyota. A Volkswagen é a segunda, com 24,2%. Essa estratégia de configuração de produto com alta demanda tanto no Brasil quanto lá fora vai na contramão do setor, que está em crise. Temos três plantas em funcionamento, duas delas trabalham em três turnos, 24 horas por dia. E estamos anunciando mais um investimento para fazer um híbrido compacto, o mais barato do mercado (nota da reportagem: entre 120 mil reais e 180 mil reais). O investimento será de 1,7 bilhão de reais em São Paulo. A ideia desse produto é dar acessibilidade ao mercado de híbrido-flex. Vamos efetivar com isso 700 vagas temporárias de trabalho.

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    Um produto pelado no limite da legislação passa pela estratégia de barateamento da Toyota? Nosso entendimento é fabricar um produto que o consumidor deseja. E entendemos que ele não quer um carro pelado.

    Roberto Braun, diretor da Toyota
    Roberto Braun, diretor de assuntos governamentais da Toyota no Brasil (Divulgação/Divulgação)

    A indústria já é muito subvencionada, apesar de gerar cada vez menos empregos. Isso não é um contrassenso? Os incentivos que a indústria tem são muito voltados a novas tecnologias, o que ajuda a trazer novas tecnologias ao Brasil. Mas a indústria hoje está em um volume menor, por isso menos empregos. O setor já comercializou 3,8 milhões de unidades anualmente, e hoje vendemos 2 milhões. O ideal é voltar a ter um crescimento sustentável. Para isso, a gente precisa ter renda do consumidor crescendo de forma consistente.

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    O que estamos falando, basicamente, é que o país empobreceu. É isso? A renda do consumidor não acompanhou.

    Nos últimos anos, várias montadoras deixaram o país. Como a Toyota tem visto o Brasil? A Toyota tem feito investimentos bastante significativos, principalmente no setor híbrido-flex. São três modelos. Isso significa uma confiança no país. Não paramos investimentos nem durante a pandemia. Estamos trabalhando para o crescimento do mercado doméstico, junto com exportação. No ano passado, exportamos 96 mil veículos. Somos os maiores exportadores brasileiros. Isso significa que estamos confiando no Brasil, trazendo as mais modernas tecnologias de certificação. Pretendemos continuar nesse caminho.

    A tecnologia de veículos elétricos exige investimento também em infraestrutura. Isso não atrasaria os planos da Toyota com os novos modelos? Se você falar da tecnologia híbrida, ela é autocarregável. Dispensa carregamento externo. Em comparação a um veículo a combustão, a pegada de carbono é 70% menor. Um carro híbrido-flex não tem limitação de infraestrutura. Com os outros dois modelos que possuímos, já vendemos 60 veículos desde 2019.

    Então a resposta da Toyota ante o projeto de popularização dos carros anunciado pelo governo é o híbrido-flex, apesar do preço? A aposta da Toyota é nos veículos híbridos — 40% do nosso mix de produção de um Corolla e um Corolla Cross são híbridos. A demanda é forte. Exportamos para 22 países da América Latina e Caribe. Quanto mais a gente exporta carro, mais a gente gera empregos e investimentos no Brasil. Estamos participando de eventos no exterior, junto com o governo brasileiro, para promover biocombustíveis. É uma excelente alternativa para a descabornização. O Brasil exportou o conceito de híbrido-flex para a Índia.

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