Ex-sócio do trio de empresários que detêm hoje o controle das Lojas Americanas, o empresário Luiz Cezar Fernandes acredita ser, no mínimo, curioso que Carlos Alberto Sicupira não soubesse da fraude contábil bilionária perpetrada por diretores da empresa. Sicupira, acionista de referência do grupo varejista ao lado de Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles, era o empresário mais participativo no dia a dia da companhia. “O ‘Beto’ era onipresente. Se você perguntasse a um faxineiro porque ele estava fazendo isso em vez de aquilo, o faxineiro responderia: ‘Foi o Seu Beto que mandou’.”
Para Cezar Fernandes, é certo que, em algum momento, Sicupira desconfiou da postura do corpo diretivo e decidiu optar pelo nome de Sergio Rial, alguém com reputação inconteste no mercado financeiro, para dar um choque na administração da empresa. “Eu não tenho dúvidas de que o Rial foi escolha do Beto. A diretoria tentou propor outro nome, mas o Beto passou na frente e trouxe o Rial”. Para ele, o maior erro de Rial, no entanto, foi tentar fazer uma negociação coletiva para o passivo da companhia. “Todo mundo se sentiu traído. Se ele tentasse negociar caso a caso não teria feito essa fricção no mercado.”
Em depoimento ao Senado, o atual CEO da varejista, Leonardo Coelho Pereira, admitiu a fraude envolvendo contratos fictícios de publicidade e dívidas com fornecedores da ordem de 21,7 bilhões de reais. A empresa acusou ex-diretores de perpetrar a ‘engenharia’ em seus balanços. “É óbvio que os diretores fizeram uma engenharia boa para criar esses lucros artificiais, mas eu não entendo como isso escapou da gestão e do conselho. Não creio que o Jorge Paulo [Lemann] tinha noção do que estava acontecendo, mas o Beto, como membro do conselho, deve ter percebido”, diz Fernandes.
O empresário, que foi sócio dos controladores da Americanas no Banco Garantia, nos anos 1980, aponta que, embora seja difícil apagar a crise de reputação da empresa, a Americanas pode se reerguer se conseguir recuperar a confiança de seus fornecedores e enxugar o número de lojas, sobretudo de unidades instaladas em shopping centers pelo país. “Tem de fazer o dever de casa. Se eles fizerem um processo rápido de enxugamento de lojas que não têm margem, fechando de 40% a 50% das lojas, é possível permanecer no mercado e ir tentando reconquistar a confiança ao longo do tempo. Vai demandar um esforço de transparência muito grande”, diz ele. “A margem da empresa não permite que ela tenha, por exemplo, muitas unidades em shoppings. A empresa vai ter que diminuir sensivelmente para aguentar o tranco.”