A visão realista de Persio Arida sobre os novos gastos públicos
O economista da equipe de transição do novo governo mais aceito pelo mercado descarta a visão de que aumentos seriam "temporários"

O economista Pérsio Arida, ex-presidente do Banco Central e um dos criadores do Plano Real, é até agora o nome da equipe de transição do novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que mais agrada ao mercado. Nesta quarta-feira, 9, ele deu declarações importantes sobre sua visão a respeito das medidas necessárias para a economia do país. Em evento online promovido pela Câmara de Comércio França-Brasil, Arida defendeu um imposto único, o Auxílio Brasil e a necessidade de tornar permanentes os gastos que precisarão ser aprovados para o ano que vem.
“É até um termo meio equivocado, porque muito do que se está falando são aumentos de gastos permanentes, e não temporários“, disse ele a respeito do termo waiver fiscal, que significa “licença para gastar”. A expressão tem sido utilizada para descrever a saída que pode ser encontrada para aprovar os gastos que estão fora do orçamento e foram prometidos por ambos os candidatos à presidência, principalmente a extensão do Auxílio Brasil em 600 reais até o final de 2023.
“Nós temos de cuidar dos mais pobres. O Auxílio Brasil, com esse volume de dinheiro, pode ser melhor focado, é evidente. Mas é um passo importante. Temos de cuidar dos mais pobres e eliminar a pobreza absoluta no Brasil”, disse ele, defendendo ainda a importância de se investir na educação pública para diminuir as distâncias sociais no país. “É o caminho de longo prazo para resolver os problemas de desigualdade”, disse ele.
Persio defendeu ainda a criação de um imposto único sobre o consumo, o chamado Imposto de Valor Agregado (IVA), que reúne Cofins, PIS, ICMS e ISS. A proposta foi defendida pelo vice-presidente do governo eleito, Geraldo Alckmin (PSB), durante a campanha, e Persio acredita que ela deve avançar dentro do âmbito de uma reforma tributária, que estaria amadurecida. A ideia é aumentar a produtividade do país por meio da simplificação dos tributos.
“Segundo o próprio vice-presidente já falou publicamente, ela deve ser uma prioridade do próximo governo. E isso é uma ótima notícia”, disse Arida. “Se forem feitas essas duas reformas, a reforma do IVA e a abertura da economia para o comércio internacional, nós estamos criando dois fatores que certamente elevarão muito a produtividade brasileira.”
Selic
Arida alertou ainda que a taxa de juros do país, hoje em 13,75% ao ano, dependerá da responsabilidade fiscal e também da trajetória dos juros americanos, que se chegar a algo como 6% ao ano, seria prejudicial ao Brasil por tirar investimentos do país e atraí-los para os Estados Unidos. Em relação à antecipação da alta de juros pelo Banco Central brasileiro em relação ao restante do mundo, ele acredita que foi uma decisão acertada. “Estaríamos em situação pior”, disse ele.