Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Alexandre Schwartsman: via de mão única

Apesar da retomada no fim do ano, não há garantia de recuperação da economia em 2021; auxílio sem contrapartida fiscal e aceleração da pandemia preocupam

Por Alexandre Schwartsman *
Atualizado em 3 mar 2021, 17h04 - Publicado em 3 mar 2021, 17h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Harry Truman, presidente dos EUA, certa vez pediu um economista com apenas uma mão, exasperado, diz a lenda, com aqueles que davam sua opinião sempre com alguma espécie de seguro — na expressão em inglês, “on one hand” e “on the other hand”, o nosso popular “por outro lado”. No caso, o resultado do PIB em 2020, requer vários “por outro lado”, mas o mais importante, no final das contas, é que não garante a recuperação da economia em 2021.

    De fato, a queda de no ano passado, 4,1% segundo dados (preliminares) divulgados nesta quarta-feira, 3, foi a terceira maior da história, inferior apenas às observadas em 1981, resultado dos erros de política econômica em 1980, e 1990, ano do malfadado Plano Collor, mais um erro grotesco de política econômica.  Ao contrário desses casos, e da recessão de 2014-2016,  a queda não se originou de barbeiragens na condução da economia, mas da necessidade de lidar com uma grave crise sanitária que obrigou à virtual paralisia da atividade econômica no período de março a maio (ou junho), expressa na retração pouco superior a 11% na primeira metade do ano, fenômeno inédito na história nacional.RelacionadasEconomiaPIB do Brasil: o desempenho da economia diante da pandemia, em númerosEconomiaSegunda metade do governo Bolsonaro se inclina para populismo econômicoEconomiaPedro Jobim: 2ª década perdida acabou; será o fim de décadas perdidas?

    A recuperação, vitaminada entre outras coisas pelo generoso auxílio emergencial, foi também vigorosa, embora o PIB do último trimestre do ano passado ainda tenha ficado 1,1% abaixo do registrado no final de 2019, imediatamente antes do impacto da pandemia. Apesar da recuperação rápida, embora incompleta, não podemos concluir que completaremos o famoso “V”, isto é, o retorno ao nível pré-crise em poucos trimestres.  Por mais perto que estivéssemos disso ao final do ano passado, duas forças agora se interpõem.

    Uma delas é o fim do auxílio. Em retrospecto, foi, como dissemos, generoso, talvez em excesso. Segundo o IBGE, a queda do emprego, dentre trabalhadores formais e informais, atingiu no pior momento um universo considerável de 14 milhões de pessoas; o auxílio, porém, foi estendido a 68 milhões, um conjunto quase 5 vezes maior. Sem dúvida ajudou a impulsionar o consumo, particularmente de bens: por exemplo, as vendas no varejo superaram o patamar anterior à crise. Todavia, custou 326 bilhões de reais, equivalente a 4,4% do PIB. Sua remoção na virada do ano, com o nível de emprego ainda perto de 8 milhões abaixo do registrado em fevereiro, deve tirar o fôlego do consumo.

    A segunda força é a persistência da epidemia. O distanciamento social que ela obriga, em parte por regulação do setor público, em parte (possivelmente mais importante) pelo próprio receio de contaminação, já foi o principal vento contrário à recuperação do setor de serviços, que acumulou queda de 7% ano passado. Os serviços são, justamente, o maior setor da economia e, de longe, o principal empregador.

    Continua após a publicidade

    Ocorre que a epidemia se aprofundou no Brasil no início desse ano. Vivemos o momento com maior número de novos infectados e o recorde em termos de mortes decorrentes da doença. Isso não só amedronta a população, como recentemente tem forçado os governos locais a retomarem medidas de distanciamento para evitar o colapso de seus sistemas de saúde. Colabora, e muito, para isso a postura omissa do governo federal no enfrentamento à doença, inclusive no que diz respeito ao indesculpável atraso da vacinação.

    Tudo indica que o Congresso irá restabelecer o auxílio, talvez em bases menos liberais que em 2020, mas sem medidas que impeçam aumento ainda maior da dívida pública. Pode ajudar no curto prazo, mas lança dúvidas importantes sobre a sustentabilidade da dívida, elevando o risco de crises à frente. 

    Contudo, sem o controle efetivo da epidemia, mesmo a nova rodada do auxílio não deve evitar contração da atividade econômica nos primeiros meses do ano. A fraca base de comparação em 2020 deve ajudar a registrarmos algum aumento do PIB em 2021, entre 3,0% e 3,5%, mas a recuperação plena ainda parece muito além da nossa escassa capacidade.

    * Alexandre Schwartsman, é doutor em Economia pela Universidade da Califórnia, Berkeley e ex-diretor do Banco Central do Brasil

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.