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Ambição global: fintechs brasileiras começam a conquistar mercados no exterior

Elas são impulsionadas por um dos ecossistemas financeiros mais sofisticados do mundo

Por Luana Zanobia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 25 Maio 2025, 08h00

Nos últimos anos, poucos países forjaram um sistema financeiro tão sofisticado quanto o Brasil. Em meio a décadas de inflação galopante, choques cambiais e juros elevados, bancos e reguladores nacionais foram obrigados a adotar novas tecnologias para sobreviver — e, claro, prosperar. O resultado foi um ambiente fértil para o nascimento de fintechs, como são chamadas as jovens instituições financeiras com sólida base digital. Agora, esse know-how começa a cruzar fronteiras. O Nubank, maior banco digital da América Latina, está se preparando para sua próxima grande investida: tornar-se um protagonista mundial. Para isso, convidou Roberto Campos Neto, ex-presidente do Banco Central do Brasil, para a vice-presidência da instituição e chefe global de políticas públicas. Ele poderá iniciar seu expediente no Nubank em julho.

EUROPA - Pismo: o Reino Unido foi a porta de entrada para a internacionalização
EUROPA – Pismo: o Reino Unido foi a porta de entrada para a internacionalização (Timon Schneider/Alamy/Fotoarena/.)

A escolha é estratégica. Campos Neto não apenas comandou o BC durante uma das fases mais inovadoras da história do sistema financeiro brasileiro, como se tornou referência internacional de modernização do setor. Entre seus legados estão o Pix, que simplificou as transferências bancárias, e o Open Finance, que ampliou a competição entre instituições. Agora, o Nubank quer usar essa expertise como passaporte para ganhar escala fora da América Latina. “Estamos confiantes de que sua vasta experiência técnica nos proporcionará uma liderança valiosa para o crescimento de nosso portfólio na América Latina e em futuras geografias”, afirmou, em nota, David Vélez, fundador e executivo-chefe do banco.

A chegada de Campos Neto ocorre no momento em que o Nubank acelera a expansão para fora. O banco tem 14 milhões de clientes entre o México e a Colômbia, e mais de 104 milhões no Brasil. A abertura de capital na bolsa de Nova York, em 2021, já deixava claro que a fintech não pretendia se limitar ao mercado brasileiro. “Por ser uma empresa listada nos Estados Unidos, há também a expectativa por parte dos investidores de que o banco mantenha um ritmo de crescimento internacional”, diz Diego Perez, presidente da Associação Brasileira de Fintechs.

EXPANSÃO - Banco Inter em Nova York: milhões de clientes em solo americano
EXPANSÃO - Banco Inter em Nova York: milhões de clientes em solo americano (./Reprodução)
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A ambição internacional não é exclusividade do Nubank. O Banco Inter iniciou sua jornada no exterior pelos Estados Unidos, onde soma 4,5 milhões de clientes. A escolha inicial pelo mercado americano reflete o objetivo de, no futuro, oferecer uma conta multimoedas. “Ao começar por um mercado complexo, o banco ganha musculatura para avançar com mais facilidade para outras geografias”, diz Cassio Segura, diretor de mercados internacionais do Inter. O próximo passo será na América Latina: a estreia na Argentina está prevista para os próximos dois meses. “Queremos entregar uma solução robusta, mas simples”, afirma Segura.

A Europa também é desbravada pelas fintechs brasileiras. A Pismo, que oferece plataformas de processamento em nuvem para comércio eletrônico, escolheu o Reino Unido como porta de entrada. Deu certo. Em 2023, foi comprada pela americana Visa, uma das maiores empresas de serviços financeiros do mundo, por 1 bilhão de dólares. Antes, havia recebido aportes de gigantes como a também americana Amazon. Sua vantagem é uma solução que integra serviços bancários e de cartões, enquanto concorrentes dependem de múltiplos sistemas e integrações complexas.

arte fintechs

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O Brasil, de fato, é um celeiro de inovação financeira. Atualmente, segundo levantamento da consultoria PwC, o país abriga 58% das fintechs da América Latina, tendo atraído mais de 10 bilhões de dólares em investimentos no setor na última década. “Essa base sólida está se transformando em oportunidade”, afirma Cristiano Andrade, chefe de investimentos estrangeiros do Department for Business and Trade, órgão do governo britânico que prepara empresas brasileiras para operar no mercado do Reino Unido. “Aquilo que foi criado para resolver problemas internos agora serve de modelo para outros países.” As intermináveis turbulências econômicas do Brasil, afinal, serviram para dar origem a inovações que começam a conquistar o mundo.

Publicado em VEJA de 23 de maio de 2025, edição nº 2945

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