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Animais praticam canibalismo em granjas por falta de ração

Segundo associação de produtores, quase 70 milhões de aves morreram devido aos bloqueios que impedem a circulação de caminhões com alimentos

Por Leticia Fuentes Atualizado em 29 Maio 2018, 19h33 - Publicado em 29 Maio 2018, 19h12
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  • Com a greve dos caminhoneiros e, consequentemente, a crise de desabastecimento no país, a falta de rações nas granjas tem levado animais a praticar canibalismo. Vídeos circulando nas redes sociais esta semana mostram aves bicando umas às outras para conseguir se alimentar.

    Nesta segunda-feira 28, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) informou que quase 70 milhões de aves morreram devido aos bloqueios que impedem a circulação de caminhões com rações, insumos para a produção da alimentação animal e outros produtos. Outras 120.000 toneladas de carne de frango e carne suína deixaram de ser exportadas desde o início da greve, que já está no seu nono dia.

    A prática do canibalismo, apesar de ser incomum em condições normais, pode ser engatilhada por fatores externos, como falta de alimento, confinamento prolongado e aglomerações.

    “O canibalismo é um comportamento nato das espécies que surge, normalmente, em momentos de stress”, afirma Osmar Dalla Costa, especialista em bem-estar de suínos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). “Ele pode ser desencadeado por mudanças térmicas acentuadas, alta concentração de animais, baixa resistência em função de alguma doença, fome ou sede, entre outros.”

    O especialista diz que os motivos para esse comportamento são tão diversos que, mesmo quando as condições nas granjas são adequadas, casos de canibalismo podem aparecer, embora não sejam frequentes. Segundo ele, até toxinas presentes nos alimentos podem desencadear um fator estressante que gera esse tipo de comportamento.

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    “Às vezes o canibalismo nem é pela fome”, diz Costa. “O sangue, por exemplo, tem um sabor agradável ao paladar dos animais de um modo geral. Por isso, quando um animal avança em outro que está debilitado e prova aquele sangue, os demais observam seu comportamento e atacam também. Eventualmente, eles acabam matando o mais fraco.” É comum, também, que os animais se alimentem de restos de outros indivíduos que já estavam mortos, diz o pesquisador.

    No caso das aves, a primeira reação que elas têm ao deparar com a falta de alimento é bicar as camas de palha em que são criadas, afirma a especialista em bem-estar de aves Helenice Mazzuco, também da Embrapa. “Porém, o valor nutricional dessas fibras é muito baixo, então os animais têm de buscar outras fontes.”

    É comum, por exemplo, que as galinhas biquem seus próprios ovos para poder se alimentar deles. “É um pouco chocante falar isso, mas, naturalmente, essa é a resposta que eles têm para tentar sobreviver”, afirma.

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    Reação natural

    Além das aves, o canibalismo é observado em suínos, bovinos ou qualquer outro animal. É de conhecimento dos cientistas que macacos, quando em condições de confinamento e escassez de alimentos, podem atacar e se alimentar de outros primatas do grupo. “Muitos se apavoram quando veem essas imagens impressionantes, mas na guerra há relatos de pessoas que também tiveram de fazer isso”, afirma Costa.

    Quanto ao tempo que demora para engatilhar esse tipo de comportamento em situações de fome ou confinamento, os especialistas concordam que não há fórmula matemática – tudo depende da espécie, das condições externas e do próprio indivíduo.

    “Há indivíduos mais agressivos, outros menos; há aqueles que precisam de muita comida, e outros que ficam satisfeitos com pouco. Não dá para saber nem para prever”, diz Helenice. “Quando acontece um caso de canibalismo dentro de uma granja, o animal que começou aquele ataque é encaminhado para um veterinário e será feita uma avaliação para saber se ele pode ser recuperado ou se a solução mais adequada é a eutanásia.”

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