Apagão cibernético levanta discussão sobre regulação das big techs
Para especialistas, dependência global por serviços da Microsoft pode ser nociva
Um apagão cibernético nos sistemas da Microsoft afetou a operação de diversos serviços em todo o mundo na madrugada desta sexta-feira, 19. A companhia comunicou que a falha já foi resolvida, mas que o impacto residual do problema continua afetando alguns serviços do Office 365. Para especialistas, o caso ajuda a ilustrar como o mundo, atualmente, é dependente dos serviços prestados por poucas empresas de tecnologia – monopólio que pode trazer riscos à economia global.
“O apagão levanta a discussão da regulação das grandes empresas de tecnologia, dado que seu impacto em nível global é eminente”, diz José Cláudio Securato, doutor em economia e presidente da Saint Paul Escola de Negócios. “A evolução tecnológica é inevitável, vai avançar, mas fatores como esse trazem à tona a reflexão de aumento da regulação e investimentos em cibersegurança.”
A interrupção foi causada por uma falha em um dos sistemas de segurança da empresa norte-americana de segurança cibernética CrowdStrike, que tem a Microsoft como uma de suas clientes. A companhia informou que sua ferramenta Falcon, utilizada para detectar possíveis invasões hackers, teve um problema de atualização de software.
Com a pane nos serviços da Microsoft, o mundo inteiro enfrentou falhas e interrupção de serviços, desde voos a transações em contas bancárias.
Algumas companhias aéreas já começaram a retomar lentamente algumas operações nesta manhã. As americanas United Airlines e Delta informaram que retomaram algumas operações, depois de cancelarem todos os voos mais cedo. A FlightAware, empresa que fornece dados de rastreamento de voos, estimou que 21.000 viagens sofreram atrasos devido ao apagão.
“É importante perceber que toda a empresa hoje é uma empresa de tecnologia”, aponta Paulo Henrique Andrade, CEO do IturanMob e especialista em tecnologia. “E está tudo centralizado em uma única empresa, porque a Microsoft é a principal fornecedora de sistema operacional, somos totalmente dependentes dela.” O executivo defende que é a hora de as empresas pensarem em medidas para reduzir essa dependência.
Impacto no Brasil
No Brasil, os principais afetados pela falha foram os bancos que possuem aplicativos ligados ao sistema de segurança Falcon. Pela manhã, usuários relatavam falhas nas conexões do Bradesco, Banco Pan e Banco Neon. O Nubank também teve seus canais de atendimento ao cliente afetados, ocasionando em mais tempo de espera nas interações. Já os bancos Itaú e Banco do Brasil informaram em seus canais de atendimento que funcionam normalmente.
Entre as aéreas, a Azul divulgou um comunicado informando que alguns voos podem sofrer atrasos devido a problemas no sistema de gestão de reservas. A companhia solicita que os passageiros com voos marcados para hoje e que ainda não realizaram o check-in cheguem ao aeroporto com antecedência e se dirijam ao balcão de atendimento da empresa. Já a Latam disse que não registrou impactos no sistema, mas pede que, por segurança, os clientes verifiquem o status de suas viagens no site da companhia.
Algumas distribuidoras de energia elétrica relataram problemas temporários em sistemas comerciais e de atendimento ao consumidor em função do apagão, segundo e a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). A agência informou ainda que não houve impacto em seus sistemas computacionais, bases de dados e plataformas de atendimento ao consumidor, de forma que as atividades continuam operando normalmente. Também não houve impactos no Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e, com isso, não há intercorrências na operação do Sistema Interligado Nacional (SIN).
A Copel, responsável pela distribuição de energia elétrica no Paraná, disse que parte de seus sistemas de distribuição e atendimento ao cliente foi afetada “brevemente” durante a madrugada, mas sem prejuízo aos clientes. “Todas as plataformas já foram restabelecidas e operam normalmente nesta manhã”, diz o comunicado divulgado pela empresa.