Após o acordo de trégua anunciado ontem pelo governo fracassar, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) realiza na manhã desta sexta-feira, 25, uma reunião, no Palácio do Planalto, com diversos ministros para avaliar o quadro real de paralisação de caminhoneiros no país, no quinto dia de mobilização. “Nós teremos uma reunião de avaliação para entender qual é o quadro efetivamente no país e as medidas necessárias para poder assegurar o abastecimento da população, que não pode pagar por essa paralisação”, disse o ministro-chefe do GSI, general Sérgio Etchegoyen.
Ele lembrou que o governo assinou um acordo com várias entidades de caminhoneiros à noite e os líderes deveriam ter conseguido começar a resolver o problema, com o fim da paralisação, mas eles não conseguiram nada e o acordo não foi cumprido. “Estamos avaliando o que está acontecendo, qual a intensidade do movimento e dos bloqueios, qual a tendência dele”, afirmou ele, informando que convidou para esta reunião ministros e representantes da Casa civil, Defesa, Segurança Pública, Advocacia da União, Transportes e entre outros.
O problema é que o acordo anunciado ontem não foi aprovado por todas os representantes dos caminhoneiros, que não possuem uma liderança centralizada. Uma parcela dos líderes não reconheceu o acordo e afirma que a greve será mantida até que as reivindicações sejam atendidas. A greve começou com um protesto contra o preço do diesel, que acumula alta de mais de 50% desde que a Petrobras mudou sua política de reajuste. Agora, eles querem o fim da cobrança de pedágio para eixos suspensos e a aprovação do projeto de lei 528/2015, que define um valor mínimo para ser pago por cada frete, dando mais garantias de lucros aos motoristas.
“Queremos o cumprimento da pauta, sem isso, vamos continuar parados”, diz Ariovaldo Almeida Jr., diretor do Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos de Ourinhos (SP) ao afirmar que hoje o movimento não tem uma liderança centralizada e os sindicatos locais estão representando os trabalhadores.
O ministro não quis falar sobre a possibilidade deste movimento ser uma espécie de locaute, que é quando os empresários de um setor comandam paralisações, o que é proibido por lei.
O jornal O Estado de S. Paulo apurou, no entanto, que a o governo avalia sim esta possibilidade porque não acredita que o movimento tenha tomado tal proporção apenas por iniciativa dos caminhoneiros, sem apoio dos patrões. Desde a terça-feira essa possibilidade está sendo avaliada e a Polícia Federal vai investigar o possível locaute.
Mas o Planalto avalia que, se não houver de fato locaute, não é este apenas o problema porque metade da categoria é formada por autônomos e estes também estão paralisados e não seguiram o acordo assinado na quinta com o governo. Desde o fim de semana o governo teve informações dos órgãos de inteligência sobre o movimento, não previu que ele pudesse chegar a esse ponto de tamanha preocupação, como explicou um interlocutor direto do presidente. “A situação está ficando muito crítica”, comentou esse assessor presidencial.
O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, por sua vez, reconheceu que há dados que apontam a possibilidade de que a greve dos caminhoneiros seja um locaute. Mas não quis entrar em detalhes sobre que informações teriam para fazer tal avaliação.
O governo sabe que existem o que chama de “oportunistas” que estão participando dos movimentos e temem que a situação fuja do controle e possa levar também a população às ruas, já que o acordo atende apenas a questão do óleo diesel, deixando de lado a gasolina, que está com seu preço liberado, atingindo níveis abusivos em vários locais.
Ainda nesta sexta, no Planalto, será realizada também uma reunião do presidente Michel Temer com os secretários de fazenda dos Estados. O governo quer que os Estados, que cobram ICMS de parte expressiva de imposto do diesel deem sua contribuição e também reduzam sua margem de cobrança para ajudar a solucionar o problema.
A Casa Civil vai voltar a procurar os lideres dos movimentos para fazer novo apelo para que consigam convencer seus companheiros a voltar ao trabalho. O governo teme que a paralisação prossiga por mais tempo e aí sim se instale o caos no país. Embora evitem falar em caos , o sentimento é de que a situação pode começar a sair do controle.
(Com Estadão Conteúdo)