As empresas de varejo que o investidor americano está buscando, segundo o BTG
Mercado Livre, Lojas Renner, Raia Drogasil, Assaí e Carrefour são citadas como empresas 'mais líquidas' e interessantes aos olhos do investidor estrangeiro
As dúvidas em relação ao cenário macroeconômico do Brasil claramente aumentaram, com incertezas cada vez maiores em relação à execução da agenda fiscal e à taxa Selic terminal no país, que tem efeitos potenciais negativos para o consumo nos próximos trimestres. Apesar disso, algumas companhias de varejo brasileiras vêm gradualmente melhorando seus fundamentos nos últimos trimestres e ainda estão com “valuations”, ou preços, atraentes o suficiente para capturar a atenção dos investidores — especialmente os estrangeiros. A leitura é do banco BTG Pactual, em relatório distribuído nesta sexta-feira a clientes.
No documento, os analistas Luiz Guanais, Gabriel Disselli e Pedro Lima comentam sobre os encontros que tiveram com empresas e investidores durante a LatAm CEO Conference em Nova York, em que puderam constatar que os investidores americanos estão procurando principalmente por nomes “altamente líquidos” no mercado brasileiro, como Mercado Livre, Lojas Renner, Raia Drogasil, Assaí e Carrefour — sendo as duas últimas com um viés um pouco mais negativo.
“Notamos nas últimas semanas que o Brasil viu evidências de um sentimento de maior otimismo dos consumidores, com uma confiança crescente nas finanças domésticas e uma disposição maior para gastar, reforçando as expectativas para os resultados das companhias do terceiro trimestre deste ano”, dizem os analistas. “Mas esse otimismo renovado pode ser afetado por uma inflação mais forte do que o esperado e um aumento das taxas de juros nos próximos trimestres. Diante disso, mantemos a mesma visão compartilhada pelos investidores: os ‘valuations’ estão mais baratos do que no passado e as metas operacionais melhoraram nos trimestres mais recentes, mas os ventos macroeconômicos colocam incertezas sobre qual o momento de compra.”
No relatório, o BTG Pactual cita alguns pontos-chave para o investimento no setor de varejo e consumo, baseado nos pontos de vista dos investidores ouvidos durante o evento em Nova York. O primeiro é que a exposição ao setor deve ser leve, diante das incertezas macro e do cenário de aversão ao risco ainda presente. Em segundo lugar, o fato de os preços das ações do setor estarem baratos representa uma oportunidade, mas não é suficiente para justificar o investimento nos nomes mais ligados ao ambiente doméstico — uma escolha que precisa ser feita caso a caso. O banco também dá ênfase ao “consenso de compra” que investidores europeus e americanos têm relação ao Mercado Livre, em especial após quedas recentes e diante do espaço para ganhos de margens após o investimento da empresa para impulsionar sua platafoma logística e de crédito.
O relatório de análise do BTG também detalha a situação de algumas companhias especificamente. No caso da Renner, o BTG afirma que a companhia vem se esforçando para aumentar a produtividade na base de lojas. Conforme informações da própria empresa, há 460 cidades com potencial para novas lojas e 90 localidades já mapeadas, considerando não apenas as cidades maiores, mas também regiões menores, onde a saturação e a competição são mais suaves. “Esperamos que as margens da companhia recebam um impulso dos ganhos de eficiência no segundo semestre deste ano e em 2025.”
Também de acordo com o relatório, a Raia Drogasil (RD) dividiu com os participantes do evento a sua visão em relação ao recente ajuste de preços anunciado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), que recalibrou os preços de produtos farmacêuticos para contabilizar a retirada do ICMS da base de cálculo do PIS/Cofins, com efeitos projetados para 2025. “Esse ajuste pode resultar em um único impacto para o portfólio da RD no próximo ano, potencialmente comprimindo as margens brutas no segundo trimestre de 2025, ainda que marginalmente.”