“As pessoas sonham com uma trégua”, diz CEO global do Club Med
Henri Giscard d'Estaing, à frente da maior rede de resorts do mundo, afirma que mudanças trazidas pela pandemia vieram para ficar
Como ficará o turismo depois do baque da pandemia do novo coronavírus? Para mim, está claro que as pessoas seguirão preocupadas com protocolos sanitários mesmo depois que a crise passar. Algumas adaptações, portanto, serão parte da nova realidade de forma perene. Percebo também que há muita gente desejando viver experiências únicas longe de casa, onde se tem passado tanto tempo.
O senhor enviou uma carta ao primeiro-ministro francês Jean Castex pedindo a reabertura de seus resorts na temporada de inverno. Não foi precipitado? Existe uma grande comunidade que vive do turismo e ela precisa voltar à vida alguma hora. O governo deve analisar com bom senso qual o melhor momento, pesando os critérios sanitários e econômicos.
Os turistas estão voltando? Depois de reabrirmos resorts em locais como China e Europa, a clientela reapareceu com uma nítida preocupação em se proteger, mas ansiosa para dar uma trégua à rotina do confinamento. No caso do Club Med, noto como uma vantagem o sistema que oferecemos de atividades infantis, com tudo incluído. Privadas da convivência, as crianças querem ficar entre si, assim como os adultos precisam de um respiro.
Em que medida a pandemia afetou o Club Med? A agência da ONU para o turismo estima uma perda de 1,3 trilhão de dólares, a pior desde a II Guerra. Pela primeira vez em setenta anos, fechamos todos os resorts. Recorremos a um empréstimo do governo francês para atravessar este período, que só vai passar mesmo quando a vacina chegar a todos.
A crise trouxe algum aprendizado? Com os ajustes, diminuímos desperdícios e entregamos um serviço mais individualizado, a grupos menores, de modo a garantir o distanciamento. Acabou ficando melhor assim.
Seu pai, o ex-presidente Valéry Giscard d’Estaing, morreu de Covid-19 em 2020. Isso mudou sua visão sobre a doença? Não. Meu pai tinha 94 anos e problemas de saúde. Felizmente, estava com a família quando morreu. Teve uma vida plena, com certeza.
O senhor foi o mais jovem político eleito na França, aos 22 anos. Por que deixou a tribuna? Entendi que seria mais útil no mundo corporativo. Da política, trouxe para os negócios o traquejo para lidar com pessoas, artigo sem o qual simplesmente não sobreviveria.
Publicado em VEJA de 7 de abril de 2021, edição nº 2732