O fim do inimaginável ano da pandemia se aproxima e, com isso, o setor de turismo, que encolheu mais de 90% no início do surto, dá sinais de retomada. Com o real desvalorizado e diversas restrições de circulação no exterior, os passeios pelo Brasil ganharam impulso. Segundo a Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), atualmente a procura é de 70% para o mercado doméstico e 30% para o exterior. Há, no entanto, uma demanda crescente por destinos fora do Brasil. O desejo de voltar a se aventurar, reprimido pela quarentena, vem ao encontro de descontos-relâmpago sedutores oferecidos por algumas companhias.
A Latam, a maior empresa de aviação do país, considera que “o mercado internacional segue bastante estagnado”, mas vem “aumentando gradualmente sua oferta, com descontos em torno de 30% em comparação ao mesmo período do ano passado”. Segundo a Decolar, maior agência de viagens on-line do país, em alguns casos os descontos podem chegar a 55%. As melhores promoções vêm de companhias americanas, como a American Airlines. Atualmente, mesmo com a disparada do dólar, na casa dos 5,70 reais, é possível encontrar passagens para Nova York pelo equivalente a 1 700 reais, menos da metade do observado em 2019. Já ir a Miami para curtir o Ano-Novo está 51% mais barato.
Há, contudo, um entrave neste ponto: apenas cidadãos americanos, residentes legais portadores de green card e familiares de primeiro grau, além de algumas categorias específicas, podem entrar no país por voos vindos do Brasil. O mesmo ocorre na Argentina e em quase toda a União Europeia, onde apenas a Croácia está totalmente aberta aos brasileiros — uma boa notícia, por sinal, uma vez que é um país de paisagens deslumbrantes e com a maior redução nos preços de hospedagem.
“Mesmo com o dólar alto, se não houvesse restrições, a procura seria enorme”, diz Guilherme Valle, coordenador da Selections, agência de turismo de luxo. “Muita gente está comprando passagem para os EUA imaginando que as fronteiras vão se abrir já no começo do ano.” Ele ressalta ainda que muitos brasileiros com cidadania europeia — e que, portanto, estão autorizados a entrar no continente — aproveitaram ofertas nas últimas semanas, especialmente para Lisboa. Segundo a CVC, a maior operadora de turismo do país, a capital portuguesa é hoje a cidade do Velho Mundo com passagens mais em conta.
Outro fator que preocupa as operadoras é a eclosão de novos registros de contaminação pelo vírus. A Organização Mundial da Saúde alertou sobre os mais de 700 000 casos na Europa na última semana. Paris, que em 2019 recebeu 19 milhões de visitantes, anunciou toque de recolher a partir das 21 horas. Medidas semelhantes foram tomadas por Itália e Espanha.
Não faltam razões para priorizar os destinos totalmente abertos ao turismo, como Turquia, Marrocos e Caribe. O mais procurado, segundo fontes consultadas por VEJA, tem sido Cancún, no México, que exige apenas o preenchimento de um formulário. “Preço e segurança foram decisivos. Eu e meu marido fechamos uma viagem de dez dias com tudo incluído por 8 000 reais, bem menos do que os valores que pesquisei para o Nordeste”, conta a administradora Alessandra Kozlowski, que vai celebrar dez anos de casamento no México. O setor hoteleiro de luxo também vem oferecendo boas oportunidades. Uma estada de cinco noites nas paradisíacas Ilhas Maldivas, que antes girava em torno de 4 000 dólares por pessoa, sai pela metade do preço.
Outro fator crucial na retomada é a flexibilização. A maioria dos hotéis e companhias aéreas tem permitido a remarcação de viagens sem custo adicional, um benefício fundamental em tempos de incerteza. É preciso, porém, ficar atento às promoções mais bombásticas e a sites pouco conhecidos. Sobre isso, Rosele Penz, da agência Atelier de Roteiros, faz uma alerta: “A tarifa pode ser muito atrativa, mas é preciso ter cuidado com as taxas, como de embarque e combustível, que podem até fazer dobrar o valor final”. Ainda há muita promoção para os interessados, mas, aos poucos, as companhias estão começando a ser menos generosas, pois a demanda está aumentando consideravelmente. Ou seja: quem faz parte do grupo de felizardos que pode viajar não deve perder tempo. A hora é agora.
Publicado em VEJA de 28 de outubro de 2020, edição nº 2710