Atrasos nos pagamentos disparam e atingem 77% das empresas na América Latina
Pesquisa da Coface teve a participação de 304 companhias em seis países: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador e Peru
A inadimplência corporativa voltou a crescer na América Latina. Segundo a pesquisa de pagamentos da Coface, 77% das empresas registraram atrasos nos recebimentos em 2025, ante 51% no ano passado. O levantamento, feito entre setembro e outubro, ouviu 304 companhias em seis países: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador e Peru.
“O dado mostra uma dificuldade crescente das empresas em receber, especialmente no Brasil, na Argentina e no Equador”, afirma Patrícia Krause, economista da Coface para a América Latina.
O Brasil concentra 42% das respostas da pesquisa e apresentou o maior prazo médio de pagamento da região, de 66 dias, acima da média latino-americana de 59 dias. “As empresas estão concedendo mais prazo para manter vendas, num momento em que o crédito segue caro e a demanda enfraquece”, diz Patrícia.
Mesmo com a piora, a economista observa que a pesquisa também mostra que os atrasos estão mais curtos, caindo de 52 para 42 dias, em média. “As companhias parecem mais atentas à gestão de crédito e buscando formas de mitigar risco, mas a pressão sobre o caixa ainda é grande”, avalia.
As causas mais citadas para o aumento dos atrasos foram a alta competição e a desaceleração da demanda (37% das respostas), além dos juros e custos de financiamento elevados (28%). “No Brasil, o principal fator é o efeito da taxa de juros, que continua muito alta e impacta tanto o custo financeiro das empresas quanto a capacidade de pagamento dos clientes”, afirma.
Impacto do tarifaço
A edição deste ano também captou os efeitos do aumento das tarifas norte-americanas sobre produtos brasileiros, imposto pelo governo Trump. “Neste ano a gente colocou, de fato, a questão das tarifas. Foi mencionado por 30% das empresas. É um terço da amostra, então tem sua relevância, mas está como o sexto motivo mais mencionado para os atrasos”, diz Patrícia.
Segundo ela, o impacto inicial foi significativo, mas as empresas conseguiram redirecionar exportações para outros mercados, limitando as perdas. “Claro que teve aquele susto inicial da tarifa, que realmente é um aumento de 10% para 50%. A gente até estava esperando um aumento, mas não que fosse 50%. […] Embora em agosto e setembro tenha havido queda de dois dígitos nas vendas para os Estados Unidos, as exportações para outros destinos cresceram e compensaram as perdas”, explica.
O que as empresas estão fazendo para mitigar riscos
Em relação às estratégias mais utilizadas pelas empresas para mitigar riscos, o relatório aponta que 60% das companhias têm uma área interna de crédito e apenas 28% utilizam seguro de crédito. Para Patrícia, isso mostra chance de para crescimento. “O seguro de crédito é um produto maduro na Europa, mas na América Latina ainda tem muito espaço para crescer. Em um cenário de inadimplência alta, esse tipo de proteção faz diferença.”
Para 2026, o sentimento é de cauteloso otimismo com a maioria das empresas espera estabilidade na economia regional, mas 69% acreditam que seus próprios negócios vão melhorar. A expectativa de um arrefecimento nos juros ajuda. “Mesmo num cenário de atividade fraca, há setores que mostram resiliência e podem se beneficiar de uma queda gradual dos juros”, diz Patrícia.







