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Avanço do 5G leva medicina de ponta para regiões remotas do Brasil e do mundo

Tecnologia amplia as possibilidades de uso da inteligência artificial nessa área

Por Camila Barros Atualizado em 30 ago 2024, 11h22 - Publicado em 30 ago 2024, 06h00

A distribuição de médicos e leitos hospitalares pelo Brasil é uma das faces da desigualdade no país. Enquanto a região Sudeste concentra 3,7 profissionais por 1 000 habitantes, a razão cai para 1,7 no Norte, onde a situação é mais crítica. Se até pouco tempo atrás corrigir tais disparidades parecia impossível, hoje há uma alternativa viável para reduzir as distorções: o uso da tecnologia de conectividade. A expansão da 5G, a quinta geração de redes móveis, que alcança velocidade até 100 vezes maior que a da 4G, tem aberto novas portas no modelo de medicina a distância. “A principal contribuição da tecnologia 5G é o acesso à saúde nas regiões com menor disponibilidade de profissionais, porque permite maior qualidade no acompanhamento de pacientes por equipes de saúde remotas”, diz Conrado Tramontini, gerente de Inovação do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo.

Em 2024, o Parque Indígena do Xingu, em Mato Grosso, foi palco de um experimento que introduziu o exame de ultrassom assistido remotamente. Embora o projeto esteja em fase de testes, espera-se que a tecnologia encurte o tempo de espera por avaliação médica no Xingu. “Esse modelo ajudará muitos indígenas que estão na fila de atendimento, desde gestantes até pessoas com pedra na vesícula”, diz Walamatiu Yawalapiti, agente de saúde que realizou o procedimento. O teste funcionou assim: no centro de saúde local, o profissional indígena fez o exame seguindo orientações em tempo real de médicos do Hospital das Clínicas (HC), em São Paulo. Da capital paulista, os especialistas conseguiram ver as imagens do ultrassom captadas a 1 500 quilômetros de distância.

arte 5G

A conexão 5G teve papel decisivo no experimento, permitindo que os dados fossem transmitidos instantaneamente. Isso é essencial para procedimentos médicos, já que atrasos podem comprometer a qualidade do diagnóstico. “Transmitir tamanha quantidade de imagens era impossível com a 3G e difícil com a 4G”, diz Marco Bego, diretor-executivo do Instituto de Radiologia do HC. Não à toa, a área de saúde é vista como a maior beneficiada pela expansão da tecnologia. Um estudo da consultoria PwC estima que novas aplicações da 5G no setor adicionarão 530 bilhões de dólares ao PIB global até 2030 — o número representa 80% do potencial econômico da tecnologia.

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O mundo avança a passos largos nos procedimentos médicos a distância. Em junho passado, uma equipe chinesa realizou a primeira cirurgia transcontinental da história: de Roma, na Itália, um cirurgião operou remotamente um paciente que estava em Pequim, capital da China — ou seja, separado por 8 000 quilômetros de distância. O procedimento foi uma prostatectomia, como é chamada a retirada da próstata, e ocorreu por meio de um console cirúrgico conectado remotamente a um conjunto de braços robóticos no hospital de Pequim.

Em entrevista à imprensa chinesa, o médico responsável pela cirurgia destacou que o maior desafio foi assegurar uma conexão suficientemente estável para minimizar o tempo de resposta da máquina, o que é particularmente complicado em longas distâncias. No Brasil, as cirurgias robóticas a distância ainda não se tornaram realidade, mas os testes com procedimentos não invasivos ganham impulso. As tecnologias e especialistas para realizar isso estão concentrados nas grandes cidades do Sul e Sudeste. As primeiras iniciativas mostram que essa capacitação poderá chegar a lugares distantes desses locais.

ACELERANDO - Ambulância com 5G: transmissão rápida de informações
ACELERANDO - Ambulância com 5G: transmissão rápida de informações (./Shutterstock)
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Os centros de saúde também avançam em projetos de adoção da 5G para uso interno. Desde 2023, em parceria com a consultoria Deloitte e a operadora TIM, o Hospital Sírio-Libanês testa ambulâncias equipadas com redes 5G, projetadas para compartilhar as informações vitais do paciente com o corpo médico antes da chegada ao hospital. Nos testes, a tecnologia reduziu em 27 minutos o tempo de atendimento em casos cardiológicos, o que pode diminuir os danos colaterais em vítimas de infarto e AVC. Também desde 2023, o Hospital Israelita Albert Einstein mantém dois laboratórios de estudo da 5G para avaliar a estabilidade e a segurança da tecnologia, um projeto feito em parceria com as operadoras Claro e Vivo.

Uma das iniciativas é usar a inteligência artificial para exames de ressonância magnética capazes de prever o risco de AVC. “Até aqui, os experimentos foram bem-sucedidos, sendo que os resultados são promissores com o volume de dados que a 5G consegue transmitir”, diz Denise Rahal, gerente de Parcerias e Operações em Inovação do Einstein. Não há dúvida: a 5G tem potencial para revolucionar o atendimento de saúde, encurtando distâncias e salvando vidas.

Publicado em VEJA de 30 de agosto de 2024, edição nº 2908

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