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Avianca: crise mesmo com crescimento

Por muito tempo deficitária, empresa apostou em uma arriscada estratégia de negociação

Por Machado da Costa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 17 dez 2018, 10h45 - Publicado em 14 dez 2018, 18h02
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  • Germán Efromovich é um empreendedor com gosto por negócios arriscados. O empresário brasileiro-colombiano nascido na Bolívia fez fortuna com petróleo na Colômbia, em Rubiales, ao conseguir investimento estrangeiro para extrair o ouro negro no país que estava fechado a capital internacional. Nunca se soube por quanto a Pacific Rubiales foi vendida, mas muitos tinham certeza, no início dos anos 2000, que nunca mais faltaria dinheiro na vida de Germán. Estavam errados. Apostas feitas após ter se tornado um bilionário ruíram. Para salvar parte de seu império, o empresário criou uma intrincada estratégia. Tudo o que aconteceu até agora com a Avianca Brasil estava planejado.

    Quando Germán conseguiu muito dinheiro, ele decidiu aplicá-lo em negócios ainda mais arriscados que os de óleo e gás. Investiu nos estaleiros brasileiros Mauá e Eisa, além das companhias aéreas Avianca, na Colômbia, e Ocean Air, no Brasil. Essa última licenciou o nome da parceira caribenha e passou a adotar o nome de Avianca Brasil.

    Todos os negócios de Germán no Brasil foram deficitários desde o dia zero. Sua fortuna, no entanto, mantinha a operação das companhias. Até que o terremoto causado pela Operação Lava Jato fez ruir seu império. Os estaleiros, envolvidos nos esquemas de aditivos contratuais para o desenvolvimento de sondas de petróleo para a Sete Brasil – subsidiária fantasma da Petrobras –, tiveram os contratos cancelados e pediram recuperação judicial.

    O dinheiro de Gérman queimava milhões de dólares anualmente. “Germán não está quebrado, mas sua liquidez está negativa. O que entra não paga os seus financiamentos. Ele sempre operou muito alavancado”, diz um assessor. Não precisaria muito para que as companhias aéreas deixassem de decolar. Uma crise política e econômica, seguida de um choque cambial e nos preços de combustíveis minaram qualquer chance da Avianca Brasil seguir operando sozinha. Sem o dinheiro do empresário, a Avianca Brasil entrou no “modo desespero”.

    Entre 2017 e 2018, os valores devidos aos arrendadores das sessenta aeronaves da empresa dispararam com a alta do dólar. Saíram de 221 milhões de reais no segundo trimestre de 2017 para 444 milhões de reais no segundo trimestre do ano seguinte. Os gastos com combustíveis explodiram: de 480 milhões de reais naquele primeiro momento para 772 milhões de reais um ano depois. Apesar disso, a empresa continua crescendo acima de 10% ao ano. Sua receita operacional líquida passou de 1,56 bilhão de reais para 2 bilhões de reais nesse período. Um dos motivos foi a inauguração das rotas São Paulo/Nova York e São Paulo/Miami.

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    A companhia então traçou uma estratégia arriscada. Qualquer erro poderia levá-la à falência. No primeiro semestre, Germán e seus executivos levaram a Nova York todos os seus arrendadores. Lá, encontraram-se com o “fundo abutre” Elliott, fundado por Paul Elliott Singer – um dos maiores detentores dos títulos podres da Argentina e atual dono do time de futebol italiano Milan, comprado de Silvio Berlusconi, ex-premiê italiano.  No mercado, ninguém se faz de rogado ao chamar o fundo de agiotas internacionais – nem os credores nem os assessores de Germán.

    A estratégia era utilizar o dinheiro do fundo para reduzir os custos dos arrendamentos. A empresa entendeu que pagava muito mais do que deveria pelas aeronaves e queria renegociar os contratos. O argumento é que o mercado de aviação civil havia mudado e que, para manter a operação, seria necessário o rearranjo. Os arrendadores negaram a investida.

    A decisão então foi suspender o pagamento de todos os contratos até que os donos dos jatos aceitassem os termos da Avianca. Atualmente, ao menos quarenta aeronaves estão sem receber os pagamentos do leasing há, pelo menos, dois meses. Dos sessenta aviões que compõem a frota da empresa, quatro foram retomados. Outros dez estavam com liminar de reintegração de posse deferida.

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    Tudo fazia parte do plano da Avianca para se salvar. Caso a pressão de um calote não funcionasse para dobrar os arrendadores, a saída era entrar com um pedido de recuperação judicial. Foi o que a empresa fez na última quarta-feira 12. O valor do pedido é irrisório perto do total devido pela companhia às empresas de leasing, todas baseadas na Irlanda. O pedido feito à Justiça paulista é de 50 milhões de reais, enquanto os arrendadores pedem 100 milhões de dólares, quase oito vezes mais. Para a Avianca, tanto faz o volume financeiro, desde que com a liminar viesse uma decisão que protegesse as aeronaves.

    Em nota, a Avianca Brasil informa que ‘o pagamento aos seus arrendadores foi interrompido apenas durante o processo de negociação que a empresa estava realizando, como é padrão nesses processos de negociação’.

    Advogados e até membros da companhia não têm dúvidas de que o juiz que deferiu a liminar, Tiago Henriques Papaterra Limongi, da 1ª Vara de Falências de São Paulo, entendeu que entregar as aeronaves no final do ano – momento de alta temporada – seria inconveniente. “Se eu fosse juiz, faria o mesmo”, disse um dos advogados das companhias de leasing.

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    Agora, a Avianca tem até 14 de janeiro para resolver a pendência com essas empresas. O último passo do plano de salvação de Germán inicia-se agora. Um aporte estrangeiro está previsto para acontecer e salvar a operação da companhia. Recentemente, a Avianca Holdings, baseada na Colômbia, recebeu um investimento de 456 milhões de dólares da United Airlines, por uma parceria entre a aérea americana, a colombiana e a panamenha Copa Airlines. De início, as empresas afirmam que a operação brasileira não tem relação com o investimento.

    No entanto, após a decisão de Michel Temer, que permitiu a participação de 100% de capital estrangeiro em empresas aéreas, isso pode mudar. José Efromovich, irmão de Germán, é quem aparece como dono da companhia e poderia vender parte de suas ações para o braço colombiano, controlado por Germán, ou até mesmo para a United. Uma fonte de dentro da Avianca confirma que todos os passos até aqui foram dados para que esse investimento fosse permitido. Impossível não cogitar que a medida provisória, editada por Temer na tarde desta quinta-feira, 13, um dia após o pedido de recuperação judicial, não esteja relacionada ao caso.

    Ao menos o plano elaborado no “modo desespero” está dando certo. Ao contrário dos investimentos de Germán.

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