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Banco Central relaciona juros baixos à continuidade de agenda reformista

Instituição diz que a manutenção do estímulo à atividade econômica passa pela diretriz do controle de gastos públicos

Por Victor Irajá Atualizado em 4 jun 2024, 15h43 - Publicado em 11 ago 2020, 12h53
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  • O cenário mudou. Se, antes, o brasileiro estava acostumado a conviver com juros de dois dígitos, a diretriz adotada desde a gestão de Ilan Goldfjain no comando do Banco Central (BC) alterou a conjuntura da política monetária do país. Nesta terça-feira, 11, a instituição comandada por Roberto Campos Neto divulgou a ata da reunião do Comitê de Política Monetária, o Copom, indicando “cautela” para a realização de novos cortes na taxa básica de juros, a Selic — mas, mais uma vez, deixando a porta aberta para mais reduções. Na última semana, o comitê ceifou a Selic de 2,25% para 2% ao ano, avaliando, segundo o documento, a necessidade de mais estímulos à economia, em decorrência da baixa atividade da economia, graças à paralisação de negócios por causa da Covid-19. “O comitê considera que a pandemia deve continuar a ter efeitos heterogêneos sobre os setores econômicos. Dada a natureza do choque, o setor de serviços deve continuar a apresentar maior ociosidade que os demais”, discorre a ata. A instituição, por sua vez, exorta a necessidade da continuidade da agenda de reformas, proposta pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, desde o início da gestão do presidente Jair Bolsonaro, e que ganhou nova urgência com a pandemia.

    Se, antes, o cenário fiscal era motivo de preocupação para o ministro, com a abertura dos cofres para a realização de investimentos em saúde e em benefícios sociais para manutenção de emprego e subsistência para os mais vulneráveis, fora os diferimentos e queda de arrecadação, o cenário ficou ainda mais tortuoso. “Perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia”, diz o Copom. “O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia”, avalia o relatório.

    O BC sugere que a evolução da atividade econômica doméstica à luz dos indicadores e informações disponíveis indicam que os dados recentes sugerem uma recuperação parcial da atividade econômica. “Os programas governamentais de recomposição de renda têm permitido uma retomada relativamente forte do consumo de bens duráveis e até do investimento”, disserta o documento, alertando para a gravidade da crise decorrente da pandemia para o setor de serviços, atingido frontalmente pela doença e que, mesmo mundo afora, a recuperação observada nos países que já controlaram o coronavírus de forma mais precisa exibem recuperação mais robusta, mas têm o setor de serviços afetado de forma mais latente. Com relação à economia internacional, os dados já disponíveis para o PIB do segundo trimestre não surpreenderam, mas evidenciaram que a profundidade da atual retração econômica só é comparável a da Grande Depressão. Há alguns sinais promissores de recuperação que, contudo, se mostra incompleta: a forte retomada no consumo de bens não é acompanhada no setor de serviços”, afirma o comitê.

    Sobre novos cortes na Selic, o Banco Central deixa claro que pode decidir por reduções nos próximos encontros, mas admite que devem ocorrer de forma gradual, graças, também, à necessidade do país de financiar os gastos e mais gastos com a pandemia. “O Copom entende que a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reconhece que, devido a questões prudenciais e de estabilidade financeira, o espaço remanescente para utilização da política monetária, se houver, deve ser pequeno”.

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    O colegiado ainda justifica sua decisão calcando-se no argumento de que a alta da inflação, conceito temido pelo brasileiro, está fora do radar, admitindo que a variação dos preços está em níveis compatíveis com o cumprimento da meta. As expectativas de inflação para 2020, 2021 e 2022 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 1,6%, 3,0% e 3,5%. Segundo o comitê, a inflação no curto prazo tende a mostrar arrefecimento após alta mais forte em julho. Em relação à reunião anterior, as projeções de curto prazo se mantêm relativamente estáveis, com os impactos da depreciação do real e da alta nos preços das commodities. Os serviços, por sua vez, sinalizaram aumento nos preços, graças à reabertura gradual das economias no país.

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