Lançado pelo Banco Central há exatos três anos, o Open Finance prometia levar a uma revolução na indústria financeira do país. Sua proposta, a possibilidade de clientes compartilharem informações entre diversas instituições e movimentar as suas contas bancárias a partir de diferentes plataformas, e não apenas pelo aplicativo ou site do banco em que têm conta, parecia suficientemente inovadora para atrair muitos usuários. Tal objetivo, contudo, não foi atingido. Ao contrário do Pix, outra iniciativa do BC para a digitalização dos serviços financeiros, o Open Finance até agora não decolou. Basta comparar os números dos dois serviços para entender como ambos se colocaram em caminhos diversos. Atualmente, o Open Finance conta com 28 milhões de usuários, um desempenho modesto perto dos 160 milhões que aderiram ao Pix. Afinal, o que houve com o sistema financeiro aberto?
Uma pesquisa recente encomendada pela empresa de caixas eletrônicos TecBan ao Instituto Ipsos constatou que cerca de 30% dos brasileiros resistem a ingressar no Open Finance por questões de segurança. Eles temem que o compartilhamento de dados afete a privacidade de suas informações. Também chama atenção o fato de que 75% das pessoas não renovam a licença do sistema aberto após um ano de uso, o que pode ser resultado tanto da insatisfação com os serviços prestados quanto do desconhecimento de que a autorização precisa ser renovada. Se qual for o motivo, a verdade é que o Open Finance permanece como uma promessa não cumprida. Para especialistas, uma saída possível é ampliar as vantagens para os consumidores. “Dois terços da população bancarizada estão dispostos a compartilhar seus dados financeiros em troca de benefícios”, afirma Rogério Melfi, gerente da área de Open Finance na TecBan.
No final do ano passado, o Banco Central atualizou regras na tentativa de tornar o sistema mais sedutor. Entre as inovações está a renovação simplificada, que elimina burocracias para novas permissões de compartilhamento, e a renovação por tempo indeterminado, em lugar do limite anterior de doze meses. “A simplificação aumentará a taxa de adesão”, afirma Luciana Kairalla, diretora-geral de Open Finance do banco digital Nubank.
Novas mudanças previstas para abril têm por objetivo impulsionar o Open Finance. Entre elas, está a “transferência inteligente”, funcionalidade que permitirá a movimentação financeira automática de recursos entre contas pertencentes ao mesmo titular. Um exemplo prático é o cheque especial: ao obter autorização do usuário, recursos de uma conta podem ser transferidos automaticamente para cobrir outra quando o saldo estiver em território negativo. “Essa abordagem não apenas reduz despesas com o cheque especial, mas também promove o hábito de poupança”, diz Gustavo Bresler, diretor de operações da fintech Iniciador e vice-coordenador do Grupo de Trabalho do Open Finance do Banco Central. Outra novidade a ser introduzida nos próximos meses é o agendamento recorrente, função que possibilitará ao usuário programar pagamentos com valor fixo, como mesadas de filhos.
A nova agenda do Open Finance está em sintonia com a ideia do Banco Central de criar um “superapp”. De acordo com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, a evolução do sistema aberto resultará, em no máximo dois anos, no surgimento de um aplicativo único, que substituirá os apps atuais dos bancos. “Será um aplicativo agregador, que dará acesso a todas as contas”, disse Campos Neto.
Embora o Open Finance não receba a mesma atenção midiática do Pix, sua importância e seu impacto no cenário financeiro não devem ser subestimados. Especialistas acreditam que as novas funcionalidades deverão tornar o sistema uma ferramenta indispensável para os brasileiros. Tanto é assim que um estudo da consultoria americana Oliver Wyman projeta que o número de usuários poderá chegar a 60 milhões até 2025. Embora não tenha alcançado ainda seu potencial, o modelo aberto comprova a vocação inovadora do Banco Central, que nos últimos anos fez do sistema financeiro brasileiro um dos mais avançados do mundo. O sucesso do Pix, afinal, está aí para confirmar essa visão.
Publicado em VEJA de 16 de fevereiro de 2024, edição nº 2880