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Biografia de Luiz Cezar Fernandes mostra espírito indomável de um dos mais audazes banqueiros do Brasil

Livro narra êxitos espetaculares e tombos épicos

Por Márcio Juliboni Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 28 nov 2025, 12h27 - Publicado em 28 nov 2025, 06h00

Poucos nomes foram tão decisivos para o mercado brasileiro de capitais quanto o de Luiz Cezar Fernandes. Conhecido por fundar os dois bancos de investimentos mais icônicos do país — o Garantia, no início dos anos 1970, e o Pactual, na década seguinte —, Cezar, como é chamado pelos amigos, idealizou também mecanismos que se tornaram indispensáveis para os agentes financeiros, como o Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic), o ambiente em que são negociados os títulos públicos. A taxa de juros pela qual esses papéis são comprados e vendidos ali se tornou a baliza de toda a economia. Por esses e outros feitos, seu nome é frequentemente acompanhado por adjetivos como genial e visionário. Sua teimosia também é lendária, o que lhe custou inúmeros embates com alguns dos maiores pesos-pesados do capitalismo nacional, como os ex-sócios Jorge Paulo Lemann e André Esteves.

A trajetória do banqueiro que nunca teve medo de apostar tudo em suas ideias, saboreando vitórias brilhantes e suportando estoicamente derrotas acachapantes, é apresentada no livro Cezar, escrito pelo jornalista Alessandro Greco e já disponível nas livrarias. “Ele é o sujeito mais skin in the game que já conheci”, diz Greco, referindo-se ao jargão dos financistas para designar quem arrisca seu próprio pescoço em uma empreitada. “É um capitalista de verdade, que aceita as consequências, boas ou ruins, de suas decisões.” Além de encontros semanais com Cezar, Greco entrevistou quase oitenta pessoas, incluindo seus desafetos, ao longo de quase três anos.

CEZAR, de Alessandro Greco (Best Business; 350 páginas; R$ 80,90 e R$ 49,90 em e-book)
CEZAR, de Alessandro Greco (Best Business; 350 páginas; R$ 80,90 e R$ 49,90 em e-book) (//Divulgação)

Segundo de oito filhos de uma família do interior paulista, foi um moleque endiabrado — para desespero dos pais e deleite dos leitores. Seu temperamento indomável resultava em constantes surras do pai até o dia em que, cansado de apanhar, saiu de casa, aos 12 anos, e seguiu para São Paulo. Arrumou um emprego no Bradesco e, irrequieto, aprendeu o trabalho dos outros funcionários. Ainda menor de idade, assumiu a reestruturação das agências menos lucrativas, o que lhe rendeu os primeiros membros do que, ironicamente, batizou de fã-­clube “eu odeio o Cezar”, que só cresceria pela vida afora.

Aos 23, já morando no Rio de Janeiro, casado e com a mulher grávida, recusou uma proposta de mudança para Belo Horizonte pelo dobro do salário e se demitiu do Bradesco. A decisão surpreendeu a diretoria. Cezar não tinha nada em vista, apenas se cansara do banco. Surpreender pessoas com suas decisões é uma de suas marcas. Anos depois, já no Garantia, irritava os outros sócios com os negócios que fechava sem consultá-los. A prova de que estava certo eram os lucros que gerava para o banco. Mesmo assim, concluiu que não tinha mais espaço ali e partiu para sua maior realização: criar o Banco Pactual, em 1983, hoje BTG Pactual, ao lado de Paulo Guedes, o futuro ministro da Economia do governo Bolsonaro, e de André Jakurski, um dos maiores operadores do mercado e que viria a fundar depois a gestora JGP.

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Além dos negócios tradicionais de um banco de investimentos, Cezar defendia a ideia de que o Pactual deveria se dedicar ao que hoje é conhecido como private equity. “Gosto de pegar empresas encrencadas e reestruturá-­las”, diz (leia a entrevista). Apesar dos sucessos na área, Guedes e Jakurski se opunham a alguns projetos que ele considerava promissores. Por isso, o banqueiro decidiu investir o próprio dinheiro neles. Foi o seu maior deslize: os negócios eram piores do que supunha e drenaram a maior parte de seu patrimônio.

Para quitar as dívidas, vendeu sua fatia no Pactual em 1999. A queda, contudo, não o deixou amargurado. “Para ele, é apenas parte da vida que escolheu”, diz Greco. Agora, aos 80 anos, debruça-se sobre a criação da empresa de investimentos Garantia Capital ao lado de novos sócios, o economista André Perfeito e Marcelo Bragaglia, ex-CEO da fintech Scalable. Entre baforadas no inseparável cachimbo, segue em busca de outra chance de voltar ao topo.

“Paulo Guedes seria o nosso Milei”

O ex-ministro da Economia do governo Bolsonaro, Paulo Guedes, seria o único capaz de replicar, no Brasil, o profundo corte de gastos implementado pelo presidente Javier Milei na Argentina para ajustar as contas públicas. É o que diz Luiz Cezar Fernandes, que foi sócio de Guedes na fundação do Banco Pactual, atual BTG Pactual, nos anos 1980. Veja os principais trechos da entrevista concedida por Fernandes a VEJA.

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Como o senhor avalia o governo Lula? O Partido dos Trabalhadores, que gosta muito de gastar, não admite que teremos um grave problema de dívida pública em 2027. O arcabouço fiscal é um natimorto. Nunca será cumprido, porque deixou muitas brechas para o governo gastar por fora da meta. É uma proposta que serviu apenas para enganar os trouxas.

Como o país pode sair da crise fiscal? Talvez, em 2027, haja uma chance. Qualquer que seja o presidente eleito, terá que dar um jeito, porque o mercado não financiará mais uma dívida desse tamanho. Nossos governantes, do PT até Bolsonaro, seguiram a social-democracia, que vive de dar migalhas aos pobres, como o Bolsa Família. É um modelo que precisa ser repensado.

Deveríamos seguir o caminho de Javier Milei na Argentina? O único que poderia fazer isso é o ex-ministro da Economia Paulo Guedes, caso fosse presidente. Não temos políticos que cumpram esse papel hoje. Estou pessimista com as nossas chances de mudança. O próximo governo será uma cópia deste. Pode ser um pouco mais à esquerda ou um pouco mais à direita, mas tanto faz.

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A passagem de Guedes pelo governo frustrou o senhor? Ele fez o possível, porque o governo Bolsonaro era fraco, aliou-se à social-democracia no Congresso para manter o poder e permitiu o orçamento secreto. Não tinha como emplacar um projeto reformista.

A meritocracia era a base dos bancos Garantia e Pactual, que o senhor fundou. Ela incentiva executivos a cometer fraudes para melhorar os próprios bônus? Isso não tem nada a ver com a meritocracia. Se bem-feita, ela estimula que todos se fiscalizem para não fazer besteira. A maioria das empresas se diz meritocrática, mas não é. Alguém no topo sempre usa seu poder imperial para privilegiar aliados e punir desafetos ao distribuir os bônus.

Na sua biografia, o senhor diz que devemos ter muitos sonhos. Quais são os seus? Voltar a ter um banco. Enquanto isso, faço outra coisa de que gosto: reestruturar empresas encrencadas.

Publicado em VEJA de 28 de novembro de 2025, edição nº 2972

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