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Black Friday deixa fraude para trás e impulsiona o varejo brasileiro

Depois do estigma 'tudo pela metade do dobro', data se consolida no calendário do comércio; setor tem maior alta trimestral desde 2017

Por Alessandra Kianek Atualizado em 4 jun 2024, 15h06 - Publicado em 22 nov 2019, 06h00
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  • Black Friday caiu no gosto do brasileiro. Tradicional dia de descontos nos Estados Unidos, idealizado para liquidar estoques antigos às vésperas do Natal, a farra das compras está incorporadíssima ao calendário do varejo nacional. O evento teve a sua estreia no Brasil, de modo experimental, em 2010, mas a gatunagem de alguns lojistas quase pôs tudo a perder nos primeiros anos: foram descobertos diversos casos de comerciantes que inflaram os preços antes de reduzi-los. As redes sociais logo apelidaram a estratégia de “black fraude”, e pulularam memes com o slogan-­galhofa “tudo pela metade do dobro”. Para o bem de todos, o tempo depurou a Black Friday, tanto pelo lado dos consumidores, que se acostumaram a pesquisar antes de comprar, quanto pelo dos vendedores, que entenderam que o prejuízo reputacional tende a ser maior que o lucro com a trapaça — e a pecha de embuste foi ficando para trás.

    Já há segmentos do varejo para os quais a última sexta-feira de novembro, que neste ano será no dia 29, se tornou mais importante que o Natal. A expectativa sobre as vendas de eletroeletrônicos, por exemplo, é de faturamento de 14 bilhões de reais, bem acima dos 11 bilhões esperados para dezembro. “A Black Friday é a ocasião em que o consumidor se planeja para comprar produtos premium a preços mais acessíveis. Ele fica namorando o produto o ano inteiro e espera a promoção para realizar o sonho”, afirma Henrique Mascarenhas, diretor da empresa de pesquisas GfK.

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    NATAL GORDO – Shopping já decorado em São Paulo: expectativas em alta (Kaio Lakaio/.)

    O cenário de expectativa elevada neste fim de ano vem na esteira da melhora do desempenho do setor como um todo. Embora ainda tímidas, as vendas do comércio varejista no país cresceram 1,6% no terceiro trimestre deste ano, registrando a maior alta trimestral desde os três primeiros meses de 2017. O aumento compensou um primeiro semestre extremamente fraco, segundo o levantamento mais recente do IBGE. Trata-se de uma boa notícia não apenas para comerciantes, mas para a economia brasileira: o setor de serviços, do qual o comércio faz parte, responde hoje por 76% do PIB nacional. Nos últimos dois anos, o comércio no país cresceu na casa de 2% ao ano e deve fechar 2019 com um porcentual parecido — muito maior do que o desempenho pífio da indústria. A melhora já verificada neste ano é reflexo da inflação baixa, do aumento da concessão de crédito para pessoas físicas, da queda da taxa de juros e da alta da confiança do consumidor, tudo isso aliado à liberação de recursos do FGTS.

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    A recuperação do consumo será o motor da engrenagem que ajudará a impulsionar o (leve) avanço do PIB brasileiro no ano, e este, ao crescer, vai alavancar ainda mais as vendas daqui por diante. Mas não é com isso, é claro, que o consumidor está preocupado. Ele está pensando, conforme pesquisas da GfK e da plataforma de comércio eletrônico Zoom, em economizar para comprar, na ordem de preferência: smartphones, TVs com mais de 50 polegadas e tecnologia 4K, computadores (os adaptados para videogame são os mais procurados), tênis e eletrodomésticos.

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    (./.)

    De acordo com o levantamento feito pela Zoom, dos 4 398 entrevistados em setembro em todo o país, mais de 90% afirmaram que pretendem realizar alguma compra na Black Friday, e 60% disseram que deverão gastar mais de 1 000 reais. Do lado de lá do balcão, 21% dos empresários brasileiros, que atuam no comércio e no ramo de serviços, devem aderir ao dia de promoções, fatia acima dos 16% que participaram no ano passado, segundo pesquisa feita pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) com 1 177 empresários de todos os portes que atuam nas cinco regiões do país. Especialistas alertam, porém, sobre a importância de o consumidor pesquisar preços antes de comprar, evitando, assim, cair em armadilhas, que ainda estão por aí. Para isso, é possível acompanhar os valores dos produtos em sites de comparação de preços e checar as listas de empresas que já tiveram reclamações em portais de defesa do consumidor.

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    O sucesso da Black Friday é tanto que contaminou positivamente outros setores. Há promoções sendo oferecidas por restaurantes, salões de beleza, clínicas de estética, escolas, cursos… A lista é infinita. “A vantagem para o consumidor está em conseguir preços mais baixos, enquanto para o varejista está na criação de uma nova data de consumo, sustentada por uma grande propaganda. Com essa comunicação ampla e disseminada, a pessoa se sente estimulada e mais propensa a gastar”, explica Claudio Felisoni, presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar). Não há razão, pois, para sentir culpa: comprar é bom para o consumidor, bom para o vendedor e também para a economia.

    Publicado em VEJA de 27 de novembro de 2019, edição nº 2662

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