O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) poderá devolver ao Tesouro Nacional cerca de 100 bilhões de reais neste ano para ajudar nas contas do governo, disse nesta sexta-feira, 21, o conselheiro do banco Carlos Thadeu de Freitas.
O BNDES já devolveu esse ano cerca de 30 bilhões de reais e, segundo Freitas, os demais 70 bilhões devem ser quitados até o fim do ano. Thadeu, que já foi diretor da instituição, disse que o banco tem espaço e fôlego para devolver esse montante. “As contas públicas não podem piorar. Está todo mundo no mesmo barco e se piorar todo mundo afunda junto”, disse ele.
Durante a última década, o Tesouro irrigou o BNDES com quase 500 bilhões de reais, usados para empréstimos a empresas, muitas vezes mais baratos do que o custo de captação da União.
De 2015 a 2018, o banco devolveu ao governo 309 bilhões de reais. No ano passado, BNDES fez acordo com a União, antecipando de 2060 para 2040 o prazo final para devoluções. Comenta-se internamente no banco que Joaquim Levy — que se demitiu do comando do banco no último fim de semana após ter sido cobrado publicamente pelo presidente Jair Bolsonaro — estaria resistindo a uma devolução mais expressiva. “O Levy é um grande economista, mas talvez tenha demorado a entender o novo tamanho do banco”, disse Freitas.
Há receios que as devoluções possam comprometer a capacidade de financiamento da instituição. Mas como a economia ainda não engrenou, há correntes no governo que entendem que a devolução não teria maiores consequências para o banco.
O parecer da reforma da Previdência prevê o fim dos repasses do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para o BNDES. O FAT é uma dos principais fontes de financiamento do banco. “Se isso for aprovado, seria só para 2020. Aí tem que ver como vai ficar a devolução dos demais recursos. No total, faltam uns 200 bilhões de reais”, disse Thadeu.
O executivo afirmou não se deve mais esperar que o banco empreste mais de 70 bilhões de reais anualmente. O BNDES já chegou a emprestar mais de 140 bilhões de reais por ano. O foco daqui para frente devem ser financiamentos para obras de infraestrutura e para médias, micro e pequenas empresas, segundo ele. “Não há mais alternativa para o banco ser maior. Os privados podem emprestar, são muito líquidos e não faz mais sentido ter um BNDES enorme. Se tem que ser focado em pequenos e infraestrutura”, disse ele.
A previsão do executivo é que o BNDES empreste em 2019 cerca de 65 bilhões de reais, abaixo dos 69,3 bilhões de 2018.
Com isso, Freitas afirmou que é hora de se pensar em enxugar o quadro de funcionários por meio de um Programa de Demissão Voluntária (PDV). Isso poderia levar o quadro total do BNDES, hoje em cerca de 2500 pessoas, para no máximo 1800 empregados.
A associação de empregados do BNDES disse que por enquanto não tem conhecimento de um PDV e que não vai iria se manifestar.