A bolsa de valores de São Paulo despencou após o pedido de demissão do ministro da Justiça, Sérgio Moro. Às 11h45, o principal índice acionário da B3 cravava uma queda de 6,38%. A volatilidade do mercado aumentou conforme notícias eram publicadas informando do pedido de demissão Moro. O ex-juiz era considerado um dos pilares do governo de Jair Bolsonaro, junto do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, General Heleno.
Sem Moro junto do governo, os investidores entendem que o governo federal está deixando de lado as promessas de campanha para assumir uma postura ainda mais populista, algo que não é bem visto pelos financistas. A premissa inicial era de que os chamados “superministros” teriam carta branca do governo federal para implementar suas políticas públicas. Assim, além de Moro, que já definiu sua saída, o mercado também especula sobre a situação de Guedes, escanteado após Bolsonaro endossar o plano Pró-Brasil do ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto. Assim, o risco é duplicado aos olhos dos investidores. Se Moro era a segurança institucional do governo, Guedes é visto como o fiador da recuperação econômica do país — abortada pela pandemia do novo coronavírus.
Guedes, na manhã desta sexta, cancelou sua participação em um evento online organizado pelo banco Itaú. Ele participaria, às 11h00 de uma “live” com investidores. A decisão do cancelamento de sua participação foi tomada durante uma reunião com secretários do Ministério. Logo após o anúncio de que não iria mais falar com esses investidores, surgiu a informação de que o ministro se encontraria com Braga Netto para discutir o andamento das políticas econômicas do governo. Na quinta, ficou evidente o descontentamento de Guedes com a interferência do General na área econômica. Além de não ter participado da elaboração do programa Pró-Brasil, o ministro da Economia chamou o programa, que estava sendo apelidado pelos militares de “Plano Marshall”, de “Plano Dilma 3”, em alusão ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 1 e 2, formulados pela ex-presidente Dilma Rousseff enquanto ela ainda era ministra-chefe da Casa Civil do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
É um momento delicado do governo Bolsonaro. Com Guedes escanteado e Moro exonerado, seus principais pilares de sustentação foram retirados. Dois dos grupos de apoio ao governo, o mercado financeiro e a população que apoiou a operação Lava Jato — comandada por Moro — reveem o amparo. O recado do mercado financeiro está dado: um tombo monumental das ações, principalmente as de estatais, como Petrobras, Banco do Brasil e Eletrobras. Se a pandemia do Covid-19 já deixava o futuro nebuloso para o Brasil, a crise política que se instaura anuvia ainda mais o cenário.