A paralisia da economia com a queda da demanda como consequência do novo coronavírus fez o Brasil registrar deflação em maio, assim como aconteceu no mês anterior. Segundo dados divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira, 10, a queda de 0,38% é a maior deflação mensal em 22 anos para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, a inflação oficial do país). O comportamento descendente da inflação neste mês foi puxado, principalmente, pela retração nos preços dos combustíveis, que assim como em abril registrou queda.
A deflação acontece quando os preços de produtos e serviços caem em um determinado período. É um movimento contrário ao da inflação, quando os preços sobem. Uma das principais causas da deflação prolongada é a economia em crise, quando os consumidores compram menos e forçam as empresas a reduzirem preços. O comportamento de inflação baixa foi uma das razões que fizeram com que o Comitê de Política Monetária (Copom) fizesse um novo corte na taxa básica de juros, a Selic, como forma de estímulo monetário. O corte de 0,75 ponto porcentual. A próxima reunião do comitê está marcada terça e quarta-feira da próxima semana. No acumulado deste ano, o IPCA registra recuo de 0,16%, e, em 12 meses, a variação foi de 1,88, bem abaixo da meta de inflação deste ano, de 4%.
No resultado do IPCA de maio, o maior impacto negativo do índice nesse mês veio do grupo Transportes (-1,9%), puxado principalmente pela queda no preço dos combustíveis (-4,56%). O setor é o que mais pesa no bolso do consumidor brasileiro. A queda nos preços do combustível associada a menor mobilidade devido a medidas de distanciamento social influenciam os preços para baixo. “A gasolina é o principal subitem em termos de peso dentro do IPCA e, caindo 4,35%, acabou puxando o resultado dos transportes para baixo, assim como as passagens aéreas, que tiveram uma queda de 27,14% e foram a segunda maior contribuição negativa no IPCA de maio”, explica o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.
Outros grupos que tiveram deflação em maio foram o de vestuário (-0,58%) e habitação (-0,25%). Em relação ao vestuário, o IPCA registrou queda nas roupas femininas (-0,88%), nos calçados e acessórios (-0,74%), nas roupas masculinas (-0,55%) e nas roupas infantis (-0,29%). Na habitação, a maior contribuição negativa veio da energia elétrica, que recuou 0,58%. No dia 26 de maio, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou que irá manter a bandeira tarifária verde, sem cobrança adicional na conta de luz, até o fim do ano.
O maior crescimento no índice do mês veio do grupo Artigos de residência (0,58%), puxado pela alta dos artigos de TV, som e informática (4,57%). “Esse aumento pode ter relação com o dólar, com o efeito pass-through, quando a mudança no câmbio impacta os preços na economia. E artigos eletrônicos normalmente são mais afetados porque têm muito componentes importados. Então a desvalorização do real acaba impactando o preço desses produtos também”, analisa o gerente. Em maio, os preços dos eletrodomésticos e equipamentos aumentaram 1,98%, enquanto os de mobiliário caíram 3,17%.
Já o grupo Alimentação e bebidas (0,24%) desacelerou em relação a abril, quando cresceu 1,79%,. Os preços de alguns itens como cenoura (-14,95%) e as frutas (-2,1%), que haviam subido em abril, recuaram em maio. Com isso, contribuíram para que a alimentação no domicílio passasse de 2,24% para 0,33%. A alimentação fora do domicílio também desacelerou de abril (0,76%) para maio (0,04%). “É normal que os alimentos tenham uma alta no início do ano, especialmente nos primeiros três meses, por conta das questões climáticas que prejudicam as lavouras. Com isso a gente tem uma alta específica em alguns alimentos. E outros, já agora em maio, se comportam de forma diferente. Com a melhora das condições climáticas, eles começam a ter uma reposição nos mercados e, com isso, uma queda no preço”, explica Kislanov. Após quatro meses consecutivos de queda, as carnes subiram 0,05%. Os preços da cebola (30,08%), da batata-inglesa (16,39%) e do feijão-carioca (8,66%) também tiveram aumento.
Coleta por telefone
Por causa do quadro de emergência de saúde pública causado pela Covid-19, o IBGE suspendeu, no dia 18 de março, a coleta presencial de preços nos locais de compra. A partir dessa data, os preços passaram a ser coletados por outros meios, como pesquisas realizadas em sites de internet, por telefone ou por e-mail. Para o cálculo do índice do mês, foram comparados os preços coletados no período de 30 de abril a 28 de maio de 2020 (referência) com os preços vigentes no período de 31 de março a 29 de abril de 2020 (base).