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‘Não acredito em venezuelização’, diz diretor da Câmara Brasil-Argentina

Diretor-presidente da associação comercial entre os dois países, Federico Servideo afirma que vizinho precisa das exportações

Por Victor Irajá Atualizado em 19 ago 2019, 18h20 - Publicado em 16 ago 2019, 19h22
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  • O diretor-presidente da Câmara de Comércio Brasil-Argentina, Federico Servideo, afirmou que a instituição que comanda não acredita em um movimento de fechamento de mercado caso a chapa composta por Alberto Fernández e Cristina Kirchner vença as eleições de outubro. A economia da Argentina depende das relações comerciais com outros países – incluindo o Brasil – e não pode bancar um isolamento econômico. “Fernández não foi muito explicito nas propostas econômicas”, diz. “Ele é bastante ambíguo, mas não acreditamos em uma ‘venezuelização’ da Argentina. O país precisa das exportações.”

    Nascido na Argentina, Servideo minimizou a declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, na tarde de quinta-feira, 15, quando indagou sobre em que momento o Brasil precisou da Argentina para crescer e ameaçou que o país deixe o Mercosul caso Kirchner promova um fechamento da economia do país – nesta sexta-feira, 16, o presidente Jair Bolsonaro corroborou a fala do ministro e disse que deixa o bloco caso a Argentina “crie problema”. “Me pareceu uma mensagem para os argentinos, uma sinalização de que o Brasil tem condições de procurar outros parceiros potencialmente tão atrativos quanto a Argentina, que representa mais da metade dos destinos de produtos industrializados brasileiros.”

    O chamado “efeito Orloff”, porém, deveria preocupar o ministro Guedes. Um comercial de TV da vodca exibia um homem, sábio e sóbrio, que profetizava a um homem sobre os efeitos de se beber o destilado e não encarar uma ressaca no dia seguinte. O slogan refletiu bem a realidade do Brasil e da Argentina durante os últimos séculos. Com mazelas parecidas, como as ditaduras militares instaladas entre os anos de 1960 e 1970; a crise inflacionária e o déficit público galopante nos anos 1980; e as eleições de populistas de esquerda – Lula e Dilma nos cantos de cá, Néstor e Cristina Kirchner do outro lado da fronteira –, brincava-se que qualquer burburinho político ou econômico que atingisse as estruturas de um dos países refletiria, numa situação similar, na nação vizinha pouco tempo depois.

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    Hoje, de fato, as situações são diferentes. A inflação argentina ultrapassa os 50% enquanto o Brasil conviverá com uma confortável taxa de 3,76% ao fim de 2019, segundo o Boletim Focus. Apesar do afastamento de tendências políticas, com o possível descolamento da sinergia política entre os países se o atual presidente Mauricio Macri, de fato, for derrotado, o aprofundamento da crise argentina pode não representar boas notícias para o Brasil.

    “A gente pode até crescer com ela [a Argentina] entrando numa recessão, mas não é bom ver um dos principais parceiros econômicos nessa situação. O Brasil já tem dificuldade para crescer, e o mundo caminha para uma recessão”, destaca Paulo Vicente, professor de Estratégia da Fundação Dom Cabral.

    Apesar de Guedes dizer que a instabilidade dos “hermanos” provoca apenas uma oscilação no câmbio, a Argentina é o terceiro maior parceiro econômico do Brasil, atrás apenas de China e Estados Unidos. O país exportou cerca quase 15 milhões de dólares para a nação comandada por Mauricio Macri durante o ano passado e tem com a Argentina um superávit comercial de 3,8 milhões de dólares.

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    Dos 17,8 bilhões de dólares exportados em produtos para a Argentina em 2017, 8,8 bilhões foram de veículos e autopeças brasileiras. A Argentina é o principal destino de carros brasileiros, que representa 70% de todas as exportações brasileiras de carros – e a crise no país vizinho já provoca impactos nas contas brasileiras. Em julho, antes da chapa kirchnerista consolidar-se como favorita nas eleições de outubro, a crise econômica na Argentina já afetava as exportações do Brasil. O número de carros vendidos para os argentinos caiu 15,3% em comparação com o mesmo mês do ano passado – de 49.705 para 42.115.

    “Macri não conseguiu imprimir uma nova dinâmica na economia argentina. O outro grupo, quando esteve no poder, também não resolveu. A situação da Argentina é ruim independente de quem vença”, encerra Vicente.

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