O ex-presidente da aliança Renault-Nissan, o brasileiro Carlos Ghosn, disse nesta quinta-feira, 2, ter sido o responsável pela sua saída do Japão, onde permaneceu em prisão domiciliar aguardando o julgamento por irregularidades financeiras, para se refugiar no Líbano.
Em uma breve declaração divulgada por seus advogados, o empresário eximiu os membros de sua família, especialmente sua esposa, Carole Ghosn, de qualquer responsabilidade. “As alegações na mídia de que minha esposa Carole e outros membros da minha família tiveram um papel importante na minha saída do Japão são falsas e mentirosas. Somente eu organizei minha partida. Minha família não desempenhou nenhum papel”, disse Ghosn em seu comunicado.
O mistério ainda envolve a fuga do ex-executivo, contra quem a Interpol emitiu um mandado de prisão internacional hoje, de acordo com o ministro da Justiça libanês em exercício, Albert Sarhan. O “alerta vermelho” da Interpol pede às autoridades que prendam preventivamente o fugitivo da Justiça japonesa, enquanto aguarda extradição, rendição ou outra ação judicial semelhante.
Ghosn, de 65 anos, está livre sob fiança em Tóquio, desde abril do ano passado, aguardando julgamento. Segundo a emissora japonesa “NHK”, Ghosn tinha dois passaportes franceses, sendo que estava autorizado pela justiça japonesa a manter um desses documentos em uma caixa trancada. O outro passaporte francês, o libanês e o brasileiro ficam sob controle de seus advogados, conforme acordo com a justiça japonesa para a soltura sob fiança do executivo.
Ghosn chegou a Beirute na última segunda-feira em um avião particular, depois de fazer uma escala na Turquia, onde uma investigação foi aberta e sete pessoas foram presas hoje por supostamente facilitar sua fuga.
Por sua parte, a Segurança-Geral libanesa disse na terça-feira que o acusado entrou “legalmente” no país árabe, do qual ele tem nacionalidade, além do brasileiro e francês.
Entenda o caso
Ghosn, que chegou a ser o empresário mais bem pago no Japão e uma referência mundial no setor automobilístico, foi preso em novembro de 2018 e respondia em prisão domiciliar desde abril do ano passado. Ele é alvo de quatro acusações no país: duas por sonegação fiscal, por não declarar seus reais rendimentos às autoridades da Bolsa, e outras duas por quebra de confiança agravada.
Em novembro, o advogado do executivo, Takashi Takano, falou a VEJA. Segundo ele, a prisão de Ghosn seria uma retaliação de executivos da Nissan contra o processo de fusão com a Renault “Ele foi vítima de um complô do governo japonês com altos executivos da Nissan”, acusa ele. A esposa de Ghosn também acusou o governo de conspirar contra o executivo. “É uma lista sem fim de injustiças. Ele passou 130 dias na solitária sem acusação formal. Por que não o tratam como inocente até que se prove o contrário? Meu marido é tido como culpado antes que possa se defender”, disse Carole.
(Com EFE)