Carta ao leitor: A indústria que brota do agro
Polo de maior crescimento da agropecuária, o Centro-Oeste vai diversificando sua economia graças à própria base do campo

Na história da economia, a agricultura e a pecuária muitas vezes forneceram as bases que precederam as atividades de manufatura. O campo esteve por trás da revolução industrial na Inglaterra e do desenvolvimento espantoso dos Estados Unidos. Em grande parte do Brasil também tem sido assim. É natural que polos da agropecuária permitam o acúmulo de capital e fomentem a industrialização. O café fez isso por São Paulo. Uma reportagem desta edição, na página 14, mostra que fenômeno semelhante vem ficando cada vez mais nítido na região que despontou como o grande novo celeiro do Brasil nas últimas décadas: o Centro-Oeste. Ali, a começar por produtos diretamente ligados aos insumos que saem das fazendas, como cereais e carnes, vão brotando fábricas em número crescente.
Mas o agro também provê as matérias-primas de outros setores, como os de celulose e biocombustíveis. Em ambos, o Centro-Oeste se destaca. Para a expansão da produção de celulose, há 75 bilhões de reais em investimentos anunciados por empresas. Isso é só um exemplo que indica que a região continuará a ser a de maior crescimento em termos de geração de riqueza pela indústria — foi de 173% o aumento de sua participação no bolo nacional de 1996 a 2022, enquanto o Sudeste perdeu 11%.

Nos biocombustíveis, há uma história à parte e, por isso, a evolução do setor é assunto de outra reportagem (na pág. 34). Nessa frente, o Brasil está se firmando como uma potência de energia verde sem paralelo no mundo. Uma recente lei, a do Combustível do Futuro, ajudará a dar impulso a mais avanços, desde o tradicional etanol até biodiesel, biometano e o novo combustível sustentável de aviação, conhecido pela sigla SAF. Esse contexto está nas motivações da Stellantis, uma das maiores montadoras do mundo, em seu anúncio de 30 bilhões de reais em investimento no país, parte deles num centro de desenvolvimento de propulsão híbrida-flex. Quem fala sobre isso é o sócio e chairman da empresa, John Elkann, em entrevista na seção Direto ao Ponto (na pág. 7). As oportunidades se multiplicam no Brasil e, felizmente, há muitas empresas e investidores dispostos a fazer delas bons negócios.
Publicado em VEJA, março de 2025, edição VEJA Negócios nº 12