Carta ao leitor: Mais engenheiros, menos criminosos
Falta de profissionais de tecnologia compromete a economia como um todo. É preciso atrair mais jovens para cursar engenharia e tirá-los da rota do crime

A preocupação com o crime cibernético é global. Os meliantes, muitas vezes com domínio da ponta tecnológica, têm invadido cada vez mais empresas e repartições de governo. A consultoria especializada Fortinet estima que os golpes eletrônicos desviam 10 trilhões de dólares por ano da economia formal no mundo, com projeção de crescer 30% até 2030. No Brasil, recentemente, hackers entraram em sistemas financeiros, ameaçando o Pix, e num caso que felizmente foi flagrado evitou-se que levassem 1,2 bilhão de reais da Caixa. Além disso, foram descobertas, em operação de promotores e policiais, ligações do crime organizado com fintechs sediadas na Avenida Faria Lima, coração do capitalismo no país. Essa situação, mas especialmente como as empresas estão reagindo e buscando se proteger da assustadora ofensiva do banditismo digital, é objeto da reportagem “Ameaça cibernética”, na página 22.
A competência técnica demonstrada pelos ladrões é um dado da realidade que precisa ser reconhecido para o combate efetivo contra eles. Mas é também a qualificação no campo da tecnologia que motiva uma empresa como o gigante americano Google a manter aqui um centro de inovação de relevância mundial. Ele foi iniciado em Belo Horizonte há vinte anos, com professores e alunos da Universidade Federal de Minas Gerais. Essa é uma história contada a partir da página 30 (“De BH para o mundo”).
O Brasil ganharia muito se conseguisse multiplicar essa formação e os centros de pesquisa. Uber e Gerdau são exemplos de companhias que buscam ampliar núcleos de engenharia no país. Mas estão esbarrando na escassez de profissionais, tema da reportagem “O apagão de engenheiros” (na pág. 18). Proporcionalmente, em relação a países desenvolvidos e à China, são poucos os brasileiros que seguem essa profissão. Urge motivar mais jovens a encarar a matemática e as ciências exatas. É um desafio a ser superado para destravar o desenvolvimento do Brasil. E, quem sabe, ter menos criminosos.
Publicado em VEJA, setembro de 2025, edição VEJA Negócios nº 18