Carta ao leitor: O Brasil que surpreende
O país imenso abriga negócios e outras iniciativas estimulantes, e tem muito potencial para fazer mais

As dimensões do Brasil, sejam as territoriais, sejam as de população, representam uma vantagem. É sabido que a multidão de 213 milhões de brasileiros tem, infelizmente, um baixo nível educacional. Ainda assim, há gente com boa formação e espírito empreendedor. Essas exceções acabam sendo parte do pano de fundo da reportagem “Programadas para crescer” (na pág. 50). Ali há dados como o de que contamos com 500 000 desenvolvedores de software. Entre emergentes, só perdemos para a Índia nesse quesito. O mercado de TI no Brasil movimenta 50 bilhões de dólares. E, como mostram as histórias relatadas, empresas e profissionais brasileiros estão em plena ascensão, tanto no atendimento a clientes internacionais quanto na atração de investidores nos negócios de software criados no país. São surpreendentes os casos da reportagem e a conquista de destaque do Brasil nesse campo de inovação.

A área de sustentabilidade fornece outro exemplo animador (“É possível transformar”, na pág. 38). Projeto desenvolvido pela empresa sueca Tetra Pak, o Recicla Cidade está gerando renda, mobilizando comunidades e dando origem a políticas públicas em 39 municípios do interior. Em um ano, o volume de material reciclado em determinadas cidades cresceu 80%. Há muito por fazer, pois apenas 3,6% do lixo gerado no Brasil é coletado de modo seletivo. Mas o programa está se disseminando, com resultados promissores nas frentes social, econômica e ambiental. Promissor também é o avanço que pode vir na logística. A reportagem “Um caminho mais suave” (na pág. 20) mostra as perspectivas das hidrovias. Elas devem ganhar impulso com a concessão de trecho de 600 quilômetros do Rio Paraguai em Mato Grosso do Sul, no primeiro leilão à iniciativa privada desse modal. É mais um terreno em que o Brasil tem grande potencial de ganho, tanto econômico, porque apenas 5% do volume de cargas hoje segue por hidrovias, de frete mais baixo, quanto ambiental, por ser um meio menos poluente.
Fortalecer as vantagens comparativas é vital para o Brasil não apenas pela evolução econômico-social que precisamos alcançar. É também uma defesa ante um mundo mais complexo. Esse é o assunto da reportagem de capa “Domínio ameaçado”, a partir da página 26. Sem controle sobre o que ocorre lá fora, precisamos mais que nunca aproveitar bem tudo o que temos aqui.
Publicado em VEJA, maio de 2025, edição VEJA Negócios nº 14