Cemig: Volta por cima com retorno às raízes mineiras
A estatal de energia passou por uma reestruturação baseada na estratégia de ganho de eficiência, venda de ativos e foco na operação em Minas Gerais
A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) é uma empresa de economia mista que deixou para trás um passado recente de alto endividamento e serviços deteriorados, causados por um baixo índice de aplicação de recursos na melhoria da infraestrutura, para se tornar o destaque no setor de energia elétrica desta primeira edição do ranking TOP 30. A reestruturação da companhia mineira começou há cerca de sete anos, quando representava apenas 5% do total de investimentos do Plano de Desenvolvimento da Distribuição do Brasil. Em 2025, o percentual alcançou 12%. Até 2029, completando um ciclo de dez anos, está prevista a injeção de 59 bilhões de reais em suas operações no estado. Desse total, 36,9 bilhões de reais estão sendo direcionados para a distribuição de energia, retomando o foco no coração das atividades da empresa por meio da modernização da rede que atende mais de 9,5 milhões de clientes. Em geração, estão previstos investimentos da ordem de 5,9 bilhões de reais, inclusive em fontes renováveis. Para transmissão, o plano é a aplicação de 5,7 bilhões de reais, com a modernização de linhas e subestações, aumentando a resiliência do sistema. Até 2027, deverão ser instaladas 200 novas subestações em todas as regiões de Minas Gerais, ampliando em 50% a oferta de energia. Antes de 2018, a Cemig inaugurava, em média, cinco ou seis por ano. Somente em 2024, foram entregues mais de trinta novas unidades.
Para fazer os investimentos necessários, a Cemig vendeu ativos não estratégicos, que trouxeram 12 bilhões de reais para o caixa da companhia. “Fizemos desinvestimentos em áreas que consumiam muito capital. Vendemos, por exemplo, nossas participações na Light (distribuidora do Rio de Janeiro), na Renova (empresa de energia eólica da Bahia) e na usina Santo Antônio (hidrelétrica em Rondônia)”, diz Reynaldo Passanezi Filho, presidente da Cemig. Entre dezembro de 2020 e dezembro de 2024, a empresa promoveu a redução de 123 sociedades minoritárias, de um total de 180 empresas nas quais tinha participação — decisão que a salvou de prejuízos bilionários no período.
A estratégia de venda de ativos e de retomada do foco de atuação em Minas Gerais, aliada ao aumento da eficiência da operação, garantiu a volta por cima de uma empresa que tinha um nível de alavancagem muito alto, com uma relação dívida líquida/Ebitda de cerca de cinco vezes, e que hoje está em um patamar de endividamento saudável, tendo fechado o balanço de 2024 com proporção de apenas 1,3.
O grande desafio, agora, é manter e aprofundar essas conquistas. “Toda empresa estatal está exposta aos ciclos políticos, e o atual da Cemig se fecha no ano que vem, com o fim do governo de Romeu Zema”, diz Vitor Sousa, analista dos setores de petróleo, elétrico e saneamento da corretora Genial Investimentos. “Após esse período de reconstrução da empresa, o melhor caminho seria a privatização, até para garantir a renovação de concessões de geração que estão para vencer.” Sousa se refere a duas hidrelétricas em Minas Gerais, Emborcação e Nova Ponte, cujas concessões só podem ser renovadas pela Cemig (se a companhia continuar sendo uma estatal) em um modelo que limita a rentabilidade da venda da energia gerada por elas. Depois do desafio de gestão, vem o desafio político.
Publicado em VEJA, outubro de 2025, edição VEJA Negócios nº 19
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