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CEO da fusão entre Fiat e Peugeot fala sobre a saída da Ford do Brasil

O portugues Carlos Tavares, comandante da Stellantis, diz que não há planos de fechar operações na América Latina, mas burocracia leva companhas "ao limite"

Por Larissa Quintino Atualizado em 19 jan 2021, 15h04 - Publicado em 19 jan 2021, 14h50

O anúncio da Ford de fechar fábricas no Brasil repercutiu em todo o mercado automotivo. O português Carlos Tavares, 62 anos, chefe da aliança entre a FCA — grupo que controla a Fiat e a Chrysler — com a PSA — dona das marcas Peugeot e Citroën — classificou nesta terça-feira, 19, a decisão da montadora americana como um “sinal de alerta” para a relação entre o Brasil e as fabricantes automotivas globais. “Há um ponto que você empilha normas, regulamentações, você chega em um ponto que isso deixa de ser gerenciável”, afirmou em entrevista coletiva de apresentação da Stellantis, nome do grupo que acaba de ser formado pela junção das companhias. “O que aconteceu na semana passada é um sinal de alerta. Há um limite. Ou os países ou regiões querem uma indústria automotiva ou eles não querem”, disse.

Na segunda-feira passada, a Ford anunciou o fechamento de três fábricas no Brasil, encerrando assim a produção nacional de veículos da montadora. A saída da Ford jogou luz no difícil ambiente de negócios brasileiro, que combina um emaranhado tributário com burocracia, constantes mudanças de regras, infraestrutura deficitária, câmbio instável e dificuldade no trato com os sindicatos de trabalhadores.

Apesar do alerta, o executivo afirma que as operações da empresa continuam de forma normal na América Latina. “Para nós, não há um problema. Não estamos nessa situação ainda. Continuamos com a nossa operação e assegurando liberdade de engenharia e produção para nossas equipes desenvolverem produtos para os consumidores da região”, ressaltando que FCA e PSA têm atualmente 17% do mercado na América Latina. Segundo eles, as observações são “amigáveis”, mas mostram que “toda empresa tem seu limite”. Com a fusão entre os dois grupos automotivos, a Stellantis afirma que não considera fechamento de nenhuma de suas unidades fabris, presentes hoje em 30 países.

Além da Fiat e da Peugeot, as marcas mais fortes da união, estão no guarda-chuva do grupo Abarth, Alfa Romeo, Chrysler, Citroën, Dodge, DS, Jeep, Lancia, Maserati, Opel, Ram e Vauxhall. O negócio é estimado em 52 bilhões de euros. A companhia está listada nas bolsas de Milão e Paris e o conglomerado tem, atualmente, 400 mil colaboradores em todo mundo.

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Futuro do mercado

Com o novo grupo, a Stellantis projeta um ganho de 5 bilhões de euros em sinergias entre as diferentes empresas. Isso, segundo Tavares, ocorrerá com a convergência de plataformas veiculares, módulos e sistemas, ganhos em escala na compra de componentes utilizados pela marcas do grupo, e uma integração nas áreas de marketing, tecnologia da informação, qualidade, pós-vendas, entre outras.

De acordo com o CEO da Stellantis, por volta de 2025, todo modelo global do grupo deverá ter ao menos uma versão eletrificada. Atualmente são 29 modelos. Outros 10 serão adicionados até o fim deste ano. Sobre a produção desses veículos, sobrou mais uma crítica à América Latina. Questionado sobre o investimento nessa tecnologia para o mercado brasileiro e argentino, Tavares afirmou que a questão precisa ser endereçada aos governos. “Nós temos tecnologia, temos jeitos de fazer, mas podemos assegurar que essa tecnologia pode ser paga pelo cidadão? Ou você se coloca em perigo e reduz a margem, ou sobe o preço e afasta os consumidores, ou achamos outro jeito. É uma questão para os governos locais, de como eles querem fazer isso, e não necessariamente da indústria automotiva”.

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