A tecnologia se tornou uma aliada crucial para solucionar problemas urbanos e fomentar o crescimento econômico. O melhor exemplo são as chamadas “cidades inteligentes”, que investem em inovação para se tornarem mais eficientes. Nesses lugares, a conectividade é uma peça-chave para melhorar o acesso dos cidadãos a bens e serviços. A própria gestão municipal evolui, ao recorrer à internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) para integrar os equipamentos que opera, sejam semáforos ou câmeras de segurança. “Não se trata apenas de oferecer acesso à internet rápida, mas de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos”, diz Mauricio Bouskela, coordenador do núcleo de cidades inteligentes e big data do Laboratório Arq.Futuro de Cidades, do Insper. Para isso, a expansão da 5G, a quinta geração da internet móvel, deve intensificar a evolução das cidades inteligentes por ser até 100 vezes mais veloz que a 4G e, portanto, permitir mais processamento de informações.
Em países ricos, a 5G tem elevado o nível de automação das cidades. É o caso de San Francisco, nos Estados Unidos, onde veículos autônomos (leia a reportagem na pág. 70), conhecidos como táxis-robôs, já rodam pelas ruas. A iniciativa, conduzida por empresas como a Waymo (subsidiária da Alphabet, dona do Google), pretende melhorar o transporte urbano, reduzir o trânsito e oferecer uma alternativa de mobilidade mais segura.
No Brasil, Curitiba é a grande vitrine dessa tendência. Vencedora do World Smart City Awards de 2023, prêmio internacional concedido às cidades mais inovadoras, a capital paranaense conta com lixeiras equipadas com sensores que notificam os serviços de coleta quando estão cheias. Isso otimiza as rotas dos caminhões, economiza combustível e reduz as emissões de carbono. A cidade também foi a primeira no Brasil a implementar luminárias públicas com antenas 5G integradas. O sistema permite acompanhar o consumo e a qualidade da energia nos postes, controlar a intensidade da luz e receber alertas em tempo real sobre problemas.
O projeto é fruto de parceria público-privada (PPP) entre a prefeitura de Curitiba, a concessionária de energia Engie e a operadora de telefonia móvel TIM. “A substituição das lâmpadas convencionais por Led reduz o consumo de energia em até 50%”, diz Paulo Humberto Gouvêa, diretor de soluções corporativas da TIM. “Além disso, com a gestão remota da iluminação pública, obtemos uma eficiência energética adicional de até 20%.”
Outras cidades brasileiras estão se tornando mais “inteligentes”. Em São Paulo, o programa Smart Sampa promete instalar, até fim de 2024, 20 000 câmeras de segurança equipadas com sistemas de reconhecimento facial. No Rio de Janeiro, o Centro de Operações Rio (COR) recebeu 29 milhões de reais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social para investimento em ferramentas de inteligência artificial. Criado em 2010, o COR coordena a resposta da prefeitura a ocorrências de grande impacto, como temporais.
Além de melhorar a qualidade de vida das pessoas, aumentar a conexão das cidades traz retornos econômicos. Após pesquisar cerca de 100 casos espalhados pelo mundo, a consultoria americana ThoughtLab concluiu que o PIB per capita das cidades inteligentes poderá crescer até 21% em um período de cinco anos. Nos lugares em que o processo já está amadurecido, a riqueza por habitante deverá aumentar 11% em igual prazo.
Se o Brasil quiser se beneficiar desse movimento, precisa superar seu maior obstáculo: a desigualdade de acesso à internet. É verdade que a internet móvel está presente em 84% dos domicílios, e 77% das cidades já estão autorizadas pela Agência Nacional de Telecomunicações a operar a telefonia 5G, mas a qualidade da conexão está longe do ideal. Segundo o Núcleo de Informação e Coordenação da Ponto BR, associação dedicada ao desenvolvimento da internet, só 22% dos usuários contam com acesso satisfatório à rede. Enquanto esses números não melhorarem, o “QI” das cidades brasileiras continuará baixo.
Publicado em VEJA de 28 de junho de 2024, edição nº 2899