O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central adotou um tom ainda mais duro e cauteloso na decisão de quarta-feira, 8, quando reduziu a taxa Selic em 0,25 ponto porcentual, para 10,5% ao ano. Segundo economistas, a autoridade monetária ainda deixa em aberto a possibilidade de um novo corte nas próximas reuniões, mas isso dependerá ainda mais da trajetória de desinflação no Brasil e no exterior.
Segundo Vinicius Moura, economista e sócio da Matriz Capital, o comunicado veio “cautelosamente hawkish”, isto é, menos inclinado a novos cortes, e a decisão sem unanimidade mostra que o comitê promoveu uma discussão equilibrada.
Para os próximos encontros, a autoridade deve manter a cautela e a continuidade do ciclo de redução da Selic vai depender da ancoragem das expectativas para a inflação. “Embora tenha decidido por uma redução da taxa de juros, o BC enfatiza a importância de manter a política monetária contracionista para consolidar a desinflação e a ancoragem das expectativas”, disse Moura.
Para Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital, além da divisão entre os membros do comitê pelo corte de 0,25 pp, chama a atenção a preocupação com a frente fiscal no Brasil, com o Copom deixando claro que está acompanhando os desdobramentos da política desenhada pelo governo. “Ele ressalta que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação”, afirma.
Alguns economistas também destacam que, a partir de agora, a política monetária brasileira entra em nova etapa. Isso porque, além da retirada do indicativo para os próximos passos, houve uma maior ênfase no acompanhamento de dados futuros para dar o devido direcionamento ao juro básico da economia. Segundo Helena Veronese, economista-chefe da B. Side, isso não significa que o Copom necessariamente abrirá mão de novas reduções da Selic, mas o tom de cautela deve predominar de agora em diante.
“O BC enfatizou o lento processo de desinflação nos Estados Unidos e suas consequências para as economias emergentes. Aqui nos parece claro que o recado é: quanto mais juros lá, mais juros aqui”, diz.