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Como a 1ª CEO de uma orquestra sinfônica no Brasil tirou a OSB de uma crise

Ana Flávia Cabral Souza Leite recuperou as finanças da Orquestra Sinfônica Brasileira, restaurou a credibilidade e criou projetos

Por Camila Pati Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 8 mar 2025, 09h35

No universo da música sinfônica, a presença feminina em cargos de liderança ainda é rara. “A gente costuma dizer que foi muito difícil para as mulheres entrarem no mundo profissional da música sinfônica, e para as mulheres gestoras foi mais ainda”, afirma Ana Flávia Cabral Souza Leite, presidente da Fundação Orquestra Sinfônica Brasileira (FOSB), mantenedora da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), que em 2025 celebra 85 anos. “As musicistas já tinham se integrado, mas as mulheres ainda não estavam na gestão.”

Ana Flávia não apenas rompeu essa barreira como fez história: tornou-se a primeira CEO a comandar uma orquestra sinfônica no Brasil, em 2017 e, desde 2021, ocupa também a posição de vice-presidente executiva da OSB — feito inédito no mundo.

Da crise ao resgate 

Advogada especializada em gestão de bens culturais, Ana Flávia assumiu a OSB em um dos momentos mais turbulentos da instituição. Em dezembro de 2016, a orquestra estava politicamente dividida, afundada em dívidas, com patrocínios interrompidos e salários atrasados.

Foi preciso recorrer à experiência como negociadora no departamento de arbitragem de um escritório de advocacia nos primeiros anos de sua carreira. “A gente foi promovendo o diálogo”, diz. “Fazendo uma analogia, não existe uma sinfonia se os músicos não se ouvirem, se não souberem tocar na hora certa. A execução de uma sinfonia é o exercício de viver em sociedade.”

Ana Flávia lembra dos desafios de assumir a gestão sem garantias financeiras. “Imagina um CEO assumir uma empresa em crise, sem estabilidade e sem orçamento definido”, diz. Para resgatar a credibilidade da instituição, reabriu oito projetos que haviam sido reprovados pelo Ministério da Cultura, habilitou a FOSB a receber patrocínios e regularizou as prestações de contas pendentes.

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Os resultados apareceram: a fundação voltou a pagar salários e encargos sociais em dia, quitou nove meses de vencimentos atrasados, honrou 35 rescisões trabalhistas e regularizou 100 notas fiscais pendentes. Desde que assumiu a gestão, Ana Flávia conseguiu captar 190 milhões de reais de doadores, entre empresa e indivíduos.  A OSB capta recursos por meio de patrocínios privados via leis de incentivo fiscal, como a Rouanet, a lei do ICMS e a do ISS.

Conexões Musicais

Um dos marcos da transformação da OSB foi a criação do Conexões Musicais, um projeto que leva educação musical a alunos de baixa renda. Com alcance nacional, a iniciativa já passou por 38 cidades, oferecendo aulas para 9 mil alunos e promovendo 103 concertos didáticos assistidos por 80 mil espectadores.

O projeto não só ensina música, mas forma mini orquestras e coros dentro das escolas, com a participação direta dos músicos da OSB. Quando chegam com seus instrumentos — violinos, clarinetes, trombones e trompas —, a recepção é sempre entusiasmada. “Às vezes, a recepção é mais calorosa do que seria para a Madonna”, brinca Ana Flávia.

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O impacto do Conexões Musicais foi reconhecido internacionalmente: em dezembro de 2024, recebeu o Music Cities Awards, prêmio concedido por uma entidade parceira da Organização das Nações Unidas na categoria melhor iniciativa de apoio à educação musical e desenvolvimento de carreira.

Diversidade 

Além do Conexões Musicais, Ana Flávia criou a Orquestra Jovem, um programa voltado para a formação musical com diversidade de participantes, focado em jovens músicos pretos, LGBTQIAP+ e mulheres. Com monitores formados pelos próprios músicos da OSB, a Orquestra Jovem se tornou o projeto da fundação que mais recebe patrocínios.

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“A gente sabe que as empresas também estão preocupadas em promover essas políticas de integração e ações afirmativas. Trouxemos essa possibilidade para a sociedade”, afirma Ana Flávia.

Juntas, as iniciativas criaram uma cadeia de formação musical sem precedentes no Brasil. “Transformamos a OSB em muito mais do que uma orquestra. Hoje, somos uma fundação com compromisso com a educação musical”, ressalta a CEO. Seu objetivo é consolidar essa missão como um legado duradouro. “Do ponto de vista artístico, queremos transformar a instituição orquestral em uma grande comunicadora e educadora para o Brasil.”

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