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Como a corrida eleitoral nos EUA pode influenciar leilão de 5G no Brasil

No momento, governo brasileiro se vê numa encruzilhada; preconizar os EUA de Trump em detrimento à chinesa Huawei pode ser arriscado ao agronegócio local

Por Felipe Mendes Atualizado em 4 jun 2024, 13h56 - Publicado em 15 jul 2020, 16h14

A decisão do Reino Unido de banir a chinesa Huawei no país deixou parte do público perplexo, mas já era esperada por especialistas de telecomunicações. A nação, que adotou uma postura separatista em relação à União Europeia, decidiu preconizar o apoio ao governo de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, em detrimento do salto tecnológico imediato. Com a exclusão da Huawei, a rede 5G do Reino Unido sofrerá um atraso de até três anos e demandará um custo extra de 2 bilhões de libras (o equivalente a 13,6 bilhões de reais). O caminho trilhado pelos britânicos serve de alerta ao Brasil, que adiou o leilão da quinta geração da tecnologia móvel no país para 2021 devido à pandemia de coronavírus. Alinhado politicamente aos EUA e parceiro comercial chinês, o governo brasileiro encontra-se numa encruzilhada. Ao atender os anseios de Trump, certamente sofrerá retaliações da China. E o maior prejudicado com isso será o agronegócio. Mas, uma eventual derrota de Trump para o candidato democrata Joe Biden nas eleições pode acender o sinal verde a um acordo com a companhia de telecomunicações chinesa.

É quase unânime que a Huawei é a empresa mais bem posicionada neste momento para desenvolver soluções para a nova geração da tecnologia móvel. Com isso, especialistas apontam que o Brasil deveria adotar uma postura cautelosa e pragmática a fim de não prejudicar as importantes relações comerciais com o governo chinês, que é o principal importador de commodities agrícolas brasileiras. Paira no ar, no entanto, as acusações de Trump e do secretário de Estado americano, Mike Pompeo, de que os chineses estariam usando suas empresas como forma de espionagem. “A única coisa que se pode dizer é que não há elementos para descartar essa hipótese”, diz Raul Colcher, diretor executivo da Questera Consulting e membro sênior do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos, o IEEE. “Mas, embora seja impossível dizer que a hipótese não seja real, há de se destacar que ocorreram outros casos de insegurança tecnológica com infraestruturas que não são chinesas.”

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Vale ressaltar que a decisão do Reino Unido de proibir o uso de equipamentos da Huawei para redes 5G não se assemelha necessariamente ao pensamento da União Europeia. Duas das três principais operadoras de telefonia móvel do Brasil, as principais interessadas na adoção do 5G, são europeias: a Tim é italiana, enquanto a Vivo Telefônica é espanhola. A Claro, por sua vez, é uma companhia do conglomerado mexicano América Móvil. Não há, entre elas, qualquer antipatia à Huawei e isso deve ser levado em consideração. “A indústria das telecomunicações tem se manifestado, ainda que com discrição, por cautela por parte do governo brasileiro com essa decisão”, diz Murilo César Ramos, professor da Universidade de Brasília (UnB) e diretor geral da consultoria Ecco. “A maior parte das redes móveis no Brasil já funciona com equipamentos da Huawei.”

Na última terça-feira 14, a Claro se tornou a primeira empresa a disponibilizou o 5G no país, ainda que de forma experimental. A quinta geração foi ativada em regiões nobres do Rio de Janeiro e de São Paulo por meio de um “atalho”. Utilizando-se de uma tecnologia desenvolvida pela Ericsson, empresa sueca que rivaliza com a Huawei, a operadora de telecom conseguiu ligar o 5G nas frequências (espécies de “rodovias” por onde trafegam os sinais) já utilizadas para 4G, 3G e 2G. A mesma estratégia foi adotada recentemente por operadoras que quiseram antecipar a cobertura em países como EUA, Alemanha e Suíça, por exemplo. Claro que ainda não será com força total, mas o ganho de velocidade já se mostra exponencial. Além da Ericsson e da Huawei, a finlandesa Nokia é uma das postulantes no certame.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, em entrevista recente à CNN Brasil, afirmou que o ideal é deixar os chineses ZTE e Huawei brigarem com os “nórdicos” em condições de igualdade. Ele ressaltou, no entanto, que as suspeições de espionagem podem atrapalhar o principal foco, que é o salto da tecnologia móvel. “Essa suspeição geopolítica veio em um momento ruim. No momento exatamente em que nós temos que dar um salto quantitativo, tecnológico”, apontou Guedes.

Para Roberto Dumas, especialista em economia chinesa do Ibmec, qualquer decisão deve ser analisada criteriosamente pelo governo brasileiro. “Seria ingenuidade achar que se posicionar a favor dos EUA pode gerar uma carta branca no comércio internacional com eles. Donald Trump já apontou suas armas mercantilistas para outros países, inclusive ao Brasil, em relação ao aço. Se, por acaso, o presidente Jair Bolsonaro seguir o mesmo caminho e decidir banir a Huawei do país, certamente sofreremos retaliações”, afirma ele. Embora o jogo tenha sido adiado, as peças estão no tabuleiro. Resta saber qual será o movimento verde e amarelo.

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