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Como fica a tributação dos mais ricos se a isenção do IR for aprovada?

Tributo para quem ganha acima de R$ 50 mil mensais terá cobranças estimadas entre R$ 18,7 mil e R$ 120 mil

Por Luana Zanobia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 18 mar 2025, 16h02 - Publicado em 18 mar 2025, 12h13

Em uma tentativa de redistribuir a carga tributária e corrigir distorções históricas, o governo Lula propõe uma reforma que promete transformar o sistema de arrecadação de impostos a partir de 2026. O plano central envolve a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) para rendimentos de até 5.000 reais mensais, ao mesmo tempo que impõe uma nova taxação sobre os chamados “super-ricos” — aqueles com renda superior a 50.000 mensais (600.000 reais por ano).

A medida visa compensar a perda de arrecadação, estimada em 27 bilhões reais anuais, decorrente da desoneração da classe média baixa. Para cobrir esse rombo, o governo espera arrecadar 25,22 bilhões de reais com a taxação dos super-ricos. Se implementada, a mudança afetará um pequeno grupo de contribuintes — cerca de 100.000 pessoas no topo da pirâmide econômica brasileira —, enquanto outros 10 milhões de brasileiros serão isentos do IR.

Como será a taxação dos super-ricos?

A proposta é progressiva e inclui todas as formas de renda, desde salários até aluguéis e dividendos. Vale ressaltar que a cobrança incidirá apenas sobre a diferença entre o imposto já recolhido e o valor total devido. Por exemplo, se um contribuinte pagou 8% de IR, ele precisará complementar com 2% para alcançar os 10%, no caso de rendimentos acima de 1 milhão de reais. Esse princípio se aplica proporcionalmente às demais faixas de renda.

A seguir, uma simulação das novas alíquotas:

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• Renda anual entre R$ 600 mil e R$ 750 mil: alíquota de 2,5%; imposto mínimo de R$ 18.750;

• Renda anual entre R$ 600 mil e R$ 900 mil: alíquota de 5%; imposto mínimo de R$ 45 mil;

• Renda anual entre R$ 600 mil e R$ 1,05 milhão: alíquota de 7,5%; imposto mínimo de R$ 78,75 mil;

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• Renda anual entre R$ 600 mil e R$ 1,2 milhão: alíquota de 10%; imposto mínimo de R$ 120 mil.

O ministro Fernando Haddad, que lidera a reforma, enfatiza que a medida é um passo em direção a um sistema tributário mais justo. Segundo ele, “quem tem renda superior a 50.000 reais por mês pagará um pouco mais, mas de forma proporcional”. O foco da taxação, no entanto, vai além dos salários. A proposta mira principalmente lucros, dividendos e rendimentos isentos, como aqueles provenientes de investimentos imobiliários e agrícolas — áreas tradicionalmente beneficiadas por regimes tributários favoráveis.

Sob o sistema atual, um assalariado com renda mensal de 6.000 reais paga uma alíquota efetiva média de 12%, enquanto rendimentos equivalentes provenientes de dividendos ou de fundos isentos, como Fundos Imobiliários (FII) e Letras de Crédito (LCI e LCA), não sofrem tributação. Isso perpetua uma desigualdade estrutural que, segundo especialistas como Sérgio Gobetti, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), precisa ser enfrentada.

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“Hoje, quem tem rendimentos provenientes de capital paga muito menos imposto que os assalariados”, afirma Gobetti. Segundo ele, a proposta corrige essa falha e, ao mesmo tempo, mantém o Brasil alinhado com práticas tributárias de países da OCDE.

Países como França, Reino Unido e Estados Unidos possuem alíquotas mais altas sobre rendimentos de capital e dividendos, o que torna a taxação dos super-ricos no Brasil alinhada às práticas internacionais.

Se aprovada, a nova estrutura fiscal terá um impacto direto sobre o consumo, argumenta Manoel Pires, coordenador do Observatório Fiscal da FGV. Ele explica que, ao desonerar a classe média baixa e aumentar a tributação sobre os mais ricos, a proposta deve estimular a demanda agregada. “A redistribuição de renda tem um efeito expansionista, pois a parcela da população que será beneficiada tende a consumir mais, impulsionando setores como comércio e serviços.”

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Essa previsão é sustentada por exemplos internacionais. Em países que implementaram políticas redistributivas semelhantes, como a Alemanha e a Suécia, o aumento no consumo das classes de renda mais baixa ajudou a compensar a eventual fuga de capitais ou o aumento da carga tributária sobre a elite.

Ainda que a proposta tenha apoio considerável entre a população, ela enfrenta resistência de setores empresariais e políticos. A oposição argumenta que a criação de um imposto mínimo de 10% sobre os super-ricos poderá afastar investimentos e reduzir o ritmo de crescimento econômico. Críticos também apontam que o Brasil já possui uma carga tributária elevada e que a solução estaria em reduzir o gasto público, e não em aumentar impostos. Apesar da boa vontade do governo, o caminho para aprovação dessa reforma da renda deverá encontrar resistência no Congresso.

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