Um dos principais consultores de Lula, que desponta na liderança das intenções de voto à Presidência, o ex-ministro da Fazenda (de 2006 a 2014) Guido Mantega não contesta o trabalho do atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Mantega entende que existe uma boa condução no comando da autarquia monetária, que levou, em 2020, a taxa básica de juros, a Selic, a seu menor patamar histórico: 2% ao ano. “O Roberto Campos faz um bom trabalho. Em 2020, ele seguiu o que o Banco Central Europeu e o Federal Reserve fizeram. Me parece um homem inteligente, corajoso e conversável”, diz Mantega.
“Ele injetou crédito no mercado e jogou a taxa de juros lá embaixo. Acho que até baixo demais. Mas tudo bem. Em meio a uma crise, é difícil dosar. E naquele momento foi bom, porque desanuviou as estruturas produtivas que precisam de crédito, estimulando, por exemplo, o setor de construção. Foi uma política correta, em sintonia com as principais economias do mundo”, continua.
Caso Lula venha a ser eleito, o Partido dos Trabalhadores (PT) terá de “conviver” com Roberto Campos Neto, já que, desde fevereiro de 2021, o Banco Central ganhou status de “autônomo” e “independente”. Com isso, a autarquia fica livre, por exemplo, de ingerências pelo Executivo. Indicação do atual ministro da Economia, Paulo Guedes, Roberto Campos Neto tem mandato fixo à frente da entidade até 31 de dezembro de 2024.
De olho no futuro, Mantega entende que o Banco Central se vê obrigado a praticar juros mais altos, o que tende a dificultar a geração de emprego e a retomada da economia. Ele acredita que a autarquia tem sua atuação limitada à tentativa de controle da inflação por meio da taxa Selic. “O Banco Central não deveria olhar só para a inflação, embora a regra de metas coloque um cabresto na instituição. Era necessário que se preocupasse também com a criação de empregos e com a atividade econômica”, diz Mantega. “A inflação, no Brasil, não é de demanda, como nos Estados Unidos, onde há um problema de acesso a suprimentos. Aqui, boa parte da população perdeu renda, emprego e poder aquisitivo. O Bolsonaro vai deixar um Orçamento desequilibrado e confuso. O próximo governo vai herdar uma ‘herança maldita’ e o Banco Central vai ter de continuar praticando juros mais elevados.”
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