A concentração de renda no Brasil bateu recorde em 2018, quando o rendimento médio mensal real obtido com o trabalho da parcela de 1% da população de maior renda atingiu 33,8 vezes o da parcela com menor rendimento, de acordo com a série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O 1% da população tinha rendimento médio mensal de 27.744 reais, enquanto os 50% da população tinham renda de 820 reais, menos que o salário mínimo em vigor no ano.
“O aumento da concentração de renda tem a ver com a recessão de 2015 e 2016, que afetou o mercado de trabalho e provocou aumento no desemprego. (…) As pessoas foram demitidas, diminuíram a renda e, quando voltaram ao mercado, voltaram em empregos mais informais e menos favoráveis”, afirmou Maria Lucia Vieira, gerente da Pnad.
O índice de Gini é um indicador que mede distribuição, concentração e desigualdade econômica e varia de 0 (perfeita igualdade) até 1 (máxima concentração e desigualdade). Quando calculado para o rendimento médio mensal recebido de todos os trabalhos, ele subiu de 0,501, em 2017, para 0,509, em 2018. O índice tinha caído entre 2012 (0,508) e 2015 (0,494) – o patamar mais elevado da série.
Desde o início da pesquisa, houve uma diminuição na proporção de domicílios atendidos pelo programa Bolsa Família no país, de 15,9% em 2012 para 13,7% em 2018. Nas regiões Norte e Nordeste, 25,4% e 28,2% dos domicílios, respectivamente, recebiam esse benefício em 2018.
Em todo o país, 10,4 milhões de pessoas (5% da população) sobrevivem com 51 reais mensais, em média. Se considerados os 30% mais pobres, o equivalente a 60,4 milhões de pessoas, a renda média per capita subia a apenas 269 reais. A desigualdade se agravou no último ano. A renda domiciliar per capita dos 5% mais pobres caiu 3,8% na passagem de 2017 para 2018, ao mesmo tempo em que a renda da fatia mais rica (1% da população) cresceu 8,2%.