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Conexão amazônica: como vai funcionar o projeto de Elon Musk no Brasil

O homem mais rico do mundo apresenta ao governo plano para instalar estações de satélite e fornecer internet a escolas em áreas remotas na floresta

Por Felipe Mendes Atualizado em 4 jun 2024, 11h52 - Publicado em 27 Maio 2022, 06h00
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  • A visita foi rápida e durou pouco mais de cinco horas. Mas a passagem do bilionário Elon Musk por um resort de luxo na cidade de Porto Feliz, no interior de São Paulo, serviu como ponto de partida para um ambicioso programa que promete disponibilizar internet de alta velocidade por satélites em escolas da Amazônia. Pelos planos de Musk apresentados ao ministro das Comunicações, Fábio Faria, e a executivos do setor de telecomunicações presentes na reunião ocorrida na Fazenda Boa Vista, duas estações de satélites deverão ser instaladas na região até meados de julho por uma de suas empresas, a Starlink.

    Chamadas tecnicamente de gateways, as unidades ficarão em Manaus e na cidade de São Gabriel da Cachoeira, no extremo oeste do estado do Amazonas, e farão conexão com os satélites de baixa altitude que o bilionário tem autorização para operar sobre o território brasileiro até 2027. Cada gateway tem capacidade para cobrir um raio de 1 000 quilômetros, o que permitirá a conexão de aproximadamente 1 000 escolas em áreas remotas aos serviços da Starlink dentro da região amazônica. O bilionário sinalizou, inclusive, a perspectiva de oferecer gratuitamente os serviços de conexão às escolas da região. “Existe a possibilidade de ele doar esses acessos para algumas escolas assim que os gateways começarem a operar”, diz Faria. Na reunião, Musk anunciou ainda que cederá ao governo imagens feitas por sua constelação de satélites do território brasileiro que podem ajudar no monitoramento de desmatamento e focos de incêndio na floresta.

    arte Musk

    Desde fevereiro, a Starlink opera no país como fornecedora de serviços de conexão de internet e telecomunicações por satélite para empresas e clientes privados em regiões remotas não atendidas pelas provedoras de telefonia e internet convencionais. Hoje a empresa trabalha a partir de um gateway instalado em São Paulo e oferece uma cobertura que abrange boa parte do interior paulista, além de regiões dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina. Com as duas novas bases, a companhia abrirá uma nova frente de operação no país, enquanto amplia sua área de atuação nas regiões Sul e Sudeste — além do Brasil, apenas o Chile conta com os serviços da Starlink na América do Sul. Em média, um cliente da Starlink paga cerca de 3 000 reais pelo terminal de conexão e antena e outros 530 reais mensais de assinatura do serviço.

    O programa de conectividade da Amazônia conduzido pelo Ministério das Comunicações é um desdobramento do leilão de 5G no país, que arrecadou 47,2 bilhões de reais em novembro. Entre as condições estabelecidas no edital do leilão está a interligação de todas as escolas do país à rede de telefonia móvel de alta velocidade. Somando a quantia destinada pelas vencedoras do leilão — Algar Telecom, Claro, Neko/Surf Telecom, TIM e Vivo —, o total de recursos para conexão às escolas, conforme calculado pela Anatel, é de 3 bilhões de reais. Em abril, o ministério concluiu a licitação para conectar 12 000 escolas remotas, sob responsabilidade da empresa americana Viasat e da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa com parceiras subcontratadas. Nos próximos meses, deve licitar mais 7 000 escolas, o que chegará a um total de 19 000 em todo o país previstas no programa. “Em regiões mais distantes e isoladas como a Amazônia, estimava-se que essa conexão de alta velocidade chegasse apenas em meados de 2027. Com os satélites, a gente consegue conectar essas escolas imediatamente”, diz Faria.

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    O modelo de operação da Starlink é baseado no formato de constelação de satélites não estacionários de baixa órbita, que giram em torno da superfície terrestre a cerca de 550 quilômetros de altitude. Para efeito de comparação, os satélites de comunicação tradicionais, geoestacionários, ficam em órbitas de aproximadamente 35 000 quilômetros da Terra. A empresa possui hoje mais de 2 000 satélites com atuação em 25 países, cerca de 250 000 clientes e funciona em uma parceria com a SpaceX, companhia privada de lançamento de foguetes, também pertencente a Elon Musk. “Os satélites da Starlink são de tecnologia bastante avançada, mas projetados basicamente para operar com telecomunicações”, explica Ricardo Galvão, físico, engenheiro e ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Os artefatos produzidos pela empresa de Musk oferecem conexão a uma velocidade de transmissão de dados de, em média, 300 megabits por segundo — mais de quinze vezes mais rápida que a oferecida hoje no país. Na demonstração que fez aos representantes das telefônicas, todos ficaram impressionados com a diferença.

    CONSTELAÇÃO ARTIFICAL - Foguete da SpaceX: mais de 2 000 satélites em órbita -
    CONSTELAÇÃO ARTIFICAL – Foguete da SpaceX: mais de 2 000 satélites em órbita – (SPACEX/.)

    Excêntrico e controverso, Elon Musk ganhou notoriedade por suas ousadas — e arriscadas— estratégias de negócios, como a recente proposta de compra do Twitter por 44 bilhões de dólares, negociação atualmente paralisada devido às exigências do bilionário em torno da verificação de autenticidade dos perfis existentes na rede social. No que diz respeito à Starlink, Musk protagonizou uma ação de grande impacto ao fornecer à Ucrânia os serviços para suprir as deficiências da rede de internet afetada pela guerra. Dois dias após a invasão, o vice-primeiro-ministro ucraniano Mykhailo Fedorov, tuitou para Musk: “Enquanto você tenta colonizar Marte, a Rússia tenta ocupar a Ucrânia! Enquanto seus foguetes pousam com sucesso vindos do espaço, foguetes russos atacam”. Musk respondeu no mesmo dia: “O serviço Starlink agora está ativo na Ucrânia”, publicou. “Mais terminais a caminho.” Atualmente, cerca 150 000 ucranianos se valem dos 10 000 terminais de conexão enviados ao país, doados por entidades e empresas americanas, uma operação estimada em mais de 15 milhões de dólares. Animado com seus projetos no Brasil, Musk prometeu a seus interlocutores no interior de São Paulo que em breve estará de volta. Dessa vez para se embrenhar em meio à Floresta Amazônica e conhecer in loco a região que se transformou em alvo de seu interesse.

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    FÁBIO FARIA: “Projeto é uma ação de ganha-ganha”
    Responsável pela vinda de Elon Musk ao Brasil, o ministro fala sobre a parceria com o bilionário sul-africano.

    Como se deu a aproximação com Musk e a Starlink? Primeiro, eu mandei uma carta para ele. A gente teve uma reunião em novembro, quando falei da oportunidade oferecida pelo leilão do 5G para interligar as escolas em regiões remotas por satélite e o convidei para vir para o Brasil. Os olhos dele brilharam. Disse que sempre teve interesse nas causas ambientais e que queria fazer o projeto. A gente ia para a Amazônia, mas três dias antes da viagem, prevista para março, houve uma escalada na guerra da Ucrânia. Como a empresa dele, a SpaceX, tem uma parceria com a Nasa e com o governo americano, foi recomendado que ele não viajasse. No fim, ele veio a São Paulo, mas a Amazônia teve de ficar para mais tarde.

    Muitos perguntam o que o Elon Musk tem a ganhar com essa iniciativa. Existe algum tipo de subsídio por parte do governo? Não há subsídio algum. O que nós vamos ter é conexão para as escolas em áreas distantes e a contribuição deles para o monitoramento para a proteção da Amazônia. É uma parceria ganha-ganha. Vai ser bom para o governo brasileiro, que vai receber essa conectividade, mas também para ele, que tem interesse nessa ação ambiental e social. Ele é dono da Tesla, uma montadora de carros elétricos, que tem uma preocupação com sustentabilidade.

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    Comenta-se que a SpaceX e Starlink têm interesse na base de Alcântara. Existe tal interesse? Não tem nenhuma chance de eles operarem em Alcântara. A base fica na Linha do Equador, onde só dá para fazer lançamento de satélites geoestacionários, que ficam a mais de 30 000 quilômetros da Terra. Os dele orbitam a 550 quilômetros. Isso não procede.

    Publicado em VEJA de 1 de junho de 2022, edição nº 2791

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