Ao menos no campo da economia, o pior da crise importada pela Covid-19 parece ter ficado para trás. Depois da devassa de abril e maio para os empregos formais no país, o número de contratações segue em viés de alta. Em junho, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o Caged, divulgado pelo Ministério da Economia nesta terça-feira, 28, o país somou 895.460 admissões, ante 906.444 demissões. O saldo, é verdade, ainda está negativo em mais de 10 mil vagas, mas o ritmo de ceifa de vagas de emprego desacelera com vigor. Em abril, pouco mais de 600 mil pessoas foram contratadas, enquanto mais de 1,5 milhão de trabalhadores perderam suas vagas de trabalho — o saldo foi negativo em 918.286. Em consonância, o Brasil comemorou a redução em 16% dos desligamentos, e o avanço de 24% nas contratações. Com relação a abril, pior mês em termos das admissões, houve um incremento de 43% e queda de 41% nas demissões.
No acumulado do ano, o saldo do emprego formal fechou o primeiro semestre negativo em quase 1,2 milhão de vagas, resultado de 6,7 milhões de admissões, ante 7,9 milhões de desligamentos. Como esperado, os setores de comércio e serviços foram os mais afetados pela pandemia. Entre janeiro e junho, o comércio amargou o fechamento de 416 mil vagas, enquanto os serviços ceifaram 507 mil empregos, no saldo entre contratações e demissões. “Os desligamentos verificados em junho estão em patamar inferior do que no patamar verificado no ano de 2019. Alguns empresários terminaram demitindo precocemente em março, mas não precisaram fazer isso em abril e os empregados negociaram a submissão de seus contratos de trabalho”, diz o secretário de Trabalho, Bruno Dalcomo, fazendo referência à medida provisória que permitiu a suspensão de contratos e salários.
A agropecuária foi o setor com o melhor desempenho, com a abertura de 36.836 novas vagas, seguido pela construção civil que registrou um saldo positivo de 17.270 postos de trabalho. Comércio e serviços registram saldos negativos com o fechamento de 16.646 e 44.891 vagas, respectivamente — queda em ritmo mais lento do que nos momentos mais graves da crise, com impacto direto das medidas de proteção de emprego e renda adotadas pelo governo. “A política que o governo adotou, como a medida provisória 936, foi um enorme sucesso. É cedo para dizer que está havendo recuperação da economia, mas podemos dizer com segurança que essa política ajudou as empresas a manter os empregados, a não demitir”, diz Hélio Zylberstajn, professor sênior de Economia da Universidade de São Paulo. “A MP evitou mais milhões de demissões, em acordos para a manutenção de empregos”, diz ele.
Segundo o secretário de Emprego, Bruno Bianco, a medida evitou a demissão de 15 milhões de pessoas até junho. “São números, como nós vimos, muito positivos. Nunca se comemora a perda de um emprego”, ponderou ele. “Comemoramos, sim, a melhora da economia e do mercado de trabalho”, afirmou o secretário, que reiterou que os números apontam a reação do mercado de trabalho. “Nós já inciamos essa retomada”, diz Bianco, dando coro ao discurso do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que o Brasil tem condições de assistir a uma recuperação rápida depois do pior momento da pandemia. Segundo o secretário, o trabalho da equipe econômica antes da pandemia preparou o terreno para que o país tivesse melhor desempenho do que teria sido se o país “não tivesse feito o dever de casa”.