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Copom eleva Selic pela primeira vez em dois anos e taxa vai a 10,75% ao ano

Mercado estimava alta na taxa básica de juros devido a desancoragem das expectativas de inflação, economia aquecida e incertezas fiscais

Por Luana Zanobia, Larissa Quintino, Camila Pati Atualizado em 19 set 2024, 06h51 - Publicado em 18 set 2024, 18h42
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  • O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, nesta quarta-feira, 18, elevar a taxa Selic de 10,5% para 10,75% ao ano, marcando a primeira alta em mais de dois anos — a primeira no mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A decisão reflete o esforço da autoridade monetária para conter as pressões inflacionárias e a desancoragem das expectativas.

    “O Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 10,75% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, afirmou o colegiado em comunicado da decisão unânime.

    A alta era amplamente esperada pelo mercado financeiro, que estimava em sua maioria o ajuste na magnitude escolhida pelo colegiado.

    O comitê do Banco Central deixou a porta aberta para mais ajustes, sem, entretanto, deixar o guidance para as reuniões seguinte. Segundo o comitê, o ritmo de ajustes e a magnitude total do ciclo de aperto monetário serão ditados “pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”.

    A principal razão por trás do ajuste de 0,25 ponto a desancoragem das expectativas de inflação. O mais recente Boletim Focus aponta que as projeções de inflação para o curto e médio prazo permanecem acima da meta oficial de 3%, evidenciando a perda de confiança dos agentes econômicos na capacidade do governo de controlar a alta dos preços. O cenário tem ainda um crescimento econômico robusto — com previsões de que o PIB brasileiro possa crescer mais de 3% este ano — e um mercado de trabalho aquecido, que impulsiona o aumento da renda e, consequentemente, da demanda. A fragilidade fiscal persistente, somada à falta de um plano claro para cumprir a meta de zerar o déficit público, intensifica as preocupações.

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    Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo maior do que o esperado, o que levou a uma reavaliação do hiato para o campo positivo. A inflação medida pelo IPCA cheio assim como medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes”, afirmou o colegiado. 

    Embora o desempenho econômico acima do esperado seja visto como positivo, o ambiente de incerteza fiscal ofusca os ganhos. O mercado questiona a sustentabilidade desse crescimento em meio a um cenário de fragilidade nas contas públicas e ausência de reformas estruturantes que possam garantir a trajetória de consolidação fiscal. Além disso, a expansão econômica em um ambiente de juros elevados pode resultar em um crescimento desequilibrado, criando uma armadilha para o futuro.

    O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, diz o comunicado.

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    No cenário externo, porém, surgem sinais que podem atenuar a pressão sobre a inflação brasileira. Nesta mesma quarta-feira, o Banco Cental americano (Federal Reserve, Fed) promoveu o primeiro corte de juros desde 2020, revertendo a trajetória de alta que manteve a taxa de juros americana no maior nível em mais de duas décadas. A redução do diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos pode atrair fluxos de capitais para o mercado brasileiro, em busca de maiores retornos, ampliando a entrada de dólares. Isso, por sua vez, tende a aliviar a pressão sobre o câmbio, contribuindo para a valorização do real e, potencialmente, ajudando a conter a inflação por meio da redução dos preços de produtos importados.

    O impacto dessa dinâmica já pôde ser observado no mercado de câmbio: o dólar, que flertava com R$ 5,70 na semana anterior, encerrou o dia cotado a R$ 5,46. No entanto, a valorização do real, por si só, não resolve os desafios internos. Para garantir um ciclo virtuoso de crescimento e inflação controlada, o governo precisará adotar medidas que consolidem a trajetória fiscal e restaurem a confiança dos agentes econômicos.

    Mercado repercute decisão: “comunicado realista”

    O aperto monetário anunciado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) era esperado pelo mercado financeiro. Cristiane Quartaroli, economista chefe do Ouribank, lembra que o mercado já havia antecipado o ajuste e que a maioria das projeções indicava alta de 0,25% da Selic. “O Banco Central já vinha sinalizando em comentários e relatórios que faria esse movimento. Vale destacar que a decisão de voltar a subir os juros tem como base o avanço das projeções de inflação para 2025, principalmente – que passaram a se distanciar da meta de acordo com os últimos relatórios FOCUS disponibilizados pelo Banco Central”, diz Cristiane.

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    Luiz Rogé, economista, gestor de investimentos e sócio da Matriz Asset Management diz que o comunicado foi realista e hawkish, de viés altista no jargão de mercado. “Principalmente porque menciona explicitamente que estamos iniciando um ciclo de alta. E não deixa claro o tamanho da alta porque o comitê depende de dados, depende da evolução das variáveis, seja de inflação, seja do ritmo de atividade, desancoragem, para poder precisar”, diz.

    Gustavo Sung, economista- chefe da Suno Research, diz que gostou do comunicado porque o comitê apresentou todos os riscos que dificultam o trabalho do BC em levar a inflação para a meta. “Apresenta os pontos principais de resiliência atividade, pressão do mercado de trabalho que levou a uma reavaliação do hiato no campo positivo e , principalmente, a desancoragem das expectativas”, diz Sung.

    Ele destaca também que o BC deixou os próximos passos em aberto e que há um ciclo que foi iniciado com esse ajuste na Selic. “Nossa perspectiva é de novas altas, encerrando o ano a 11,25%”, diz.O consenso entre o colegiado também acalma, na visão do economista, os ruídos e incertezas a respeito de uma possível leniência da próxima gestão no combate à inflação. 

    Felipe Rodrigo de Oliveira, economista da MAG Investimentos, também projeta novas altas. “No horizonte relevante de política monetária (1º trimestre de 2026), a projeção de inflação ficou em 3,5%, acima da meta de 3%, indicando a continuidade do ciclo de alta da Selic. Para a próxima reunião, esperamos novo aumento na taxa básica, embora num ritmo mais forte – alta de 0,5 p.p.”, diz. A avaliação do economista é de que a decisão foi acertada. ” A sinalização que os membros do Copom deram nas últimas semanas foi nessa linha. Além disso, subindo 0,25 p.p ele ganha tempo para avaliar os impactos do corte de juros pelo Fed no dólar”, diz

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