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Copom freia cortes nos juros e mantém taxa básica em 2%

Com perspectiva de aumento da inflação a curto prazo, BC decide pela manutenção mas não fecha porta para novos cortes para estimular economia

Por Luisa Purchio, Larissa Quintino Atualizado em 16 set 2020, 18h47 - Publicado em 16 set 2020, 18h09

A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, se encerrou nesta quarta-feira, 16, com o anúncio de manutenção da Selic, taxa básica de juros da economia, em 2% ao ano, o patamar mais baixo da história após nove reduções consecutivas pelo colegiado. A notícia atende às expectativas do mercado, que projetaram o índice estável. No mês passado, o Copom não fechou totalmente as portas para novos estímulos, mas afirmou que eles ocorreriam caso houvessem novas informações significativas em relação à questão fiscal do país. Com o aumento da pressão dos alimentos em agosto e setembro, o comitê decidiu por interromper a sequência para evitar um descontrole geral nos preços. Há preocupação, mesmo com um controle a longo prazo. Tanto que, a palavra “inflação” foi citada 17 vezes no comunicado.

“O Comitê avalia que a inflação deve se elevar no curto prazo. Contribuem para esse movimento a alta temporária nos preços dos alimentos e a normalização parcial do preço de alguns serviços em um contexto de recuperação dos índices de mobilidade e do nível de atividade”, disse o colegiado em nota. Mas, devido a lentidão da economia, apesar da retomada gradual das atividades, a aposta vale também para o lado oposto, de desaceleração. Por isso, o Copom não lançou mão no aumento dos juros e decidiu pela estabilidade. “O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções”.

Segundo o Copom, os diversos programas de estímulo creditício e de recomposição de renda, como o auxílio emergencial, podem fazer com que a redução da demanda agregada da economia seja menor do que a estimada, adicionando uma assimetria ao balanço de riscos. “Esse conjunto de fatores implica, potencialmente, uma trajetória para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária”. Para equilibrar tanto o risco de fiscal e de inflação alta com gastos com a pandemia quanto combater a ociosidade que persiste, mesmo com as medidas, o colegiado aproveitou para chamar atenção da classe política, afirmando a necessidade de perseverar o processo de reformas, focando em  recuperação sustentável. “O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia”.

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O cenário macro misto fez com que o BC pregasse, mais uma vez, cautela na política monetária. Entretanto, não fecha a porta para estímulos adicionais. “O Copom entende que a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reconhece que, devido a questões prudenciais e de estabilidade financeira, o espaço remanescente para utilização da política monetária, se houver, deve ser pequeno. Consequentemente, eventuais ajustes futuros no atual grau de estímulo ocorreriam com gradualismo adicional e dependerão da percepção sobre a trajetória fiscal, assim como de novas informações que alterem a atual avaliação do Copom sobre a inflação prospectiva”, diz o comunicado. 

A grande novidade da reunião do Copom ficou pelo anúncio de um instrumento de política monetária adicional, o chamado “forward guidance”, que já é utilizado nos Estados Unidos. Trata-se de uma sinalização sobre o que o Banco Central do Brasil espera sobre o comportamento da Selic no futuro. Hoje o Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, anunciou que manterá a taxa de juros próxima a zero pelo menos até 2023. “O Copom colocou que, por ora, não há perspectiva de alta do juros e anunciou que não pretende reduzir o grau de estímulo monetário, a menos que as coisas piorem. No Brasil há o risco fiscal pesando”, diz Silvio Campos, sócio da consultoria Tendências.

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Cenário

Além do mais recente anúncio do Copom, informações sobre o desempenho econômico recente do País também contribuíram para a previsão da manutenção o Copom. Em setembro, o Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10) marcou inflação a 4,34%, índice maior que os 2,52% de agosto. Além disso, de acordo com a Fundação Getúlio Vargas, no ano o índice acumula taxas de 13,98% e de 17,03% em 12 meses. Por outro lado, porém, o Índice Nacional de Custo da Construção apresentou uma inflação de apenas 0,80% em setembro, abaixo do número de 1,01% em agosto. De acordo com a análise de Silvio Campos Neto, sócio da Tendências, a atual atividade econômica do país, bem como o índice de desemprego que reduzem o consumo, não levam a crer que temos um cenário alarmante de inflação. “Tem chamado atenção nas últimas semanas o movimento de tensão de preços no atacado”, diz ele. “Claro que fica um certo desconforto com o IGPM rodando a 15%, recomendando uma postura um pouco mais cautelosa”, disse.

Apesar da expectativa da manutenção de um juros baixo a longo prazo, vale lembrar que a taxa DI do país está alta, devido ao alto juros cobrado pelo mercado para se investir por aqui diante do risco do país. O Tesouro Direto tem feito muitas captações, aumentando o endividamento público e mantendo no ar uma incerteza sobre até que ponto o governo conseguirá efetivamente cumprir o teto de gastos. Diante disso, a tendência é de novos ciclos de alta no mercado de renda variável.

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