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Coronavírus: Economia brasileira pode sofrer efeitos por mais de dez anos

Segundo levantamento do Instituto Fiscal Independente, o aumento da dívida pública pode incutir em um endividamento maior do que o PIB em 2030

Por Victor Irajá Atualizado em 4 jun 2024, 14h59 - Publicado em 13 abr 2020, 17h59

O Instituto Fiscal Independente, do Senado, divulgou um estudo nesta segunda-feira, 13, apontando que a paralisação da atividade econômica e gastos com o combate à pandemia do novo coronavírus (Covid-19) podem incutir em consequências dolorosas para a economia brasileira pelos próximos dez anos. Segundo a instituição, no pior dos cenários, com 22 semanas de paralisação das atividades, a queda do Produto Interno Bruto (PIB) do país pode atingir até 7% neste ano. Contudo, este é apenas o impacto inicial — as perspectivas para os próximos anos não são melhores. Segundo a instituição, os gastos engendrados pelo Governo Federal farão a dívida pública disparar a 84,9% do PIB neste ano. Mas o pior vem depois. Ainda de acordo com o documento, a dívida pública do país deve ultrapassar todos os bens e serviços produzidos no país em até dez anos. Para que isso não acontece, um penoso controle do crescimento do endividamento precisará ser colocado em prática, passado o momento crítico. Isso terá efeitos atrozes sobre o crescimento do PIB e da renda da população por mais de uma década.

A instituição calcula que o novo déficit do governo central deverá ficar em 514,6 bilhões de reais e, para o setor público consolidado, projeta-se déficit de R$ 549,1 bilhões, uma piora de 5,9 pontos percentuais do PIB em relação à projeção de novembro de 2019. Segundo o documento, as projeções catastróficas se dão, obviamente, pela paralisação das atividades econômicas em decorrência das políticas de isolamento e o consequente aumento no desemprego. “Choques recentes de oferta, demanda e condições financeiras vão interromper a trajetória de recuperação da atividade no Brasil. Nesse contexto, elemento adicional que preocupa é a elevada taxa de desemprego no Brasil, que tem caído lentamente nos últimos três anos e pode voltar a subir a depender da extensão e duração dos impactos”, alerta o IFI.

O instituto aponta também o agravamento das tensões dos países produtores de petróleo, como Arábia Saudita e Rússia, como ingrediente de aprofundamento do problema, principalmente para estados dependentes de receitas provenientes do pagamento por royalties. “O agravamento da crise do coronavírus e do petróleo impõe também desafios à gestão da política fiscal do país. Haverá desaceleração de receitas de tributos associados à atividade econômica, mas também do recolhimento de royalties”, aponta. O relatório projeta quedas de receita de até 151 bilhões de reais, em dissonância ao aumento expressivo de gastos com a saúde e a proteção de empresas e empregos.

Os dados do faturamento do setor varejista indicam quedas de 25%, nos oito primeiros dias de abril, corroborando um quadro de provável queda expressiva da atividade econômica em 2020. A previsão mais ponderada do Instituto Fiscal Independente, baseando-se nas atuais projeções, indica uma retração de 2,2% da economia brasileira neste ano, contra um crescimento de 1,8% esperado antes da doença atingir o país. O estudo leva em consideração o tempo de isolamento necessário para mitigar os impactos na saúde, ainda incipientes. A piora das expectativas é inversamente proporcional ao período de isolamento, segundo o estudo. “Considerando premissas para os cenários base (isolamento até o final de junho e redução de 60% da atividade setorial), otimista (final de abril e 45%) e pessimista (final de agosto e 65%), a variação do PIB em 2020 passaria de 1,8% para -2,2%, 0,5% e -5,2%, respectivamente”, aponta o documento.

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