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Crédito à vista

Permissão para se possa criar empresa que conceda empréstimo a pequenos empreendedores abre as portas para melhora do ambiente de negócios no Brasil

Por Ana Luiza Daltro
Atualizado em 4 jun 2024, 15h58 - Publicado em 7 jun 2019, 07h00
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  • OPORTUNIDADE - Ao lado, antiga financeira em São Paulo, e, acima, Elaine Ferri, dona da primeira ESC do país: nova modalidade traz juros menores (Roberto Setton - Nilton Fukuda/Estadão Conteúdo)

    Já fazia algum tempo que a paranaense Elaine Ferri, dona de uma modesta empresa de cobranças que atua em São Paulo, se sentia incomodada com o minguado rendimento de suas economias, aplicadas em uma caderneta de poupança — cerca de 0,5% ao mês. Assim, quando soube que fora sancionada uma lei que permite a qualquer cidadão abrir uma espécie de financeira para emprestar dinheiro a micros e pequenos empreendedores, ela enxergou ali uma oportunidade para fazer com que suas reservas de 50 000 reais crescessem.

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    A medida, que começou a valer no fim de abril, pôs de pé um instrumento de financiamento que vinha sendo discutido desde o governo Dilma — a Empresa Simples de Crédito (ESC). Dez dias depois da publicação, no Diário Oficial, da norma que criava a ESC, Elaine, de 42 anos, recebeu a primeira autorização do país para operar com a novidade. De lá para cá, a Simple Credit — esse foi o nome escolhido pela empresária para batizar seu negócio — já concedeu dois empréstimos, um de 10 000 reais, a ser pago em dez meses, e outro de 25 000 reais, com prazo de um ano. Ela determinou uma taxa de 3,5% ao mês no primeiro caso, e 3,8% no segundo — um terço do que os bancos cobram no cheque especial. “Como investimento essa experiência está sendo excelente, tanto que pretendo aumentar o meu capital em breve — ou, quem sabe, trazer novos sócios”, diz Elaine.

    A ESC foi sancionada pelo governo Bolsonaro para atacar um antigo problema do ambiente de negócios do Brasil: 30% de todas as micros e pequenas empresas (MPEs) não possuem relação alguma com bancos — nem sequer têm uma conta-corrente. Esse porcentual sobe para 55% quando são considerados também os mais de 7,3 milhões de microempreendedores individuais (MEIs) do país. Sem conexão com o sistema financeiro, as companhias têm uma enorme dificuldade de conseguir financiamento ou empréstimos para investir e crescer. Uma pesquisa realizada pelo Sebrae revelou que 20% daqueles tipos de organização já tiveram algum pedido de recursos negado junto aos bancos, que, muitas vezes, nem dispõem de linhas de crédito específicas para tal público. E, quando o crédito é oferecido, as taxas costumam ser muito elevadas para quem tem um giro de caixa acanhado. “O alto custo do crédito no Brasil é, sem dúvida, um dos maiores obstáculos ao florescimento e crescimento dos pequenos negócios”, acredita Marcus Salusse, coordenador de projetos do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV.

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    AÇÃO - Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central: agenda propositiva
    AÇÃO - Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central: agenda propositiva (Pedro Ladeira/Folhapress)

    Estimativas do mercado mostram que as operações feitas pelo novo mecanismo podem chegar a 20 bilhões de reais anuais até 2021 — um crescimento de 10% no nível de empréstimos ofertados no ano passado ao público em questão. Até o fechamento desta reportagem, 25 ESCs já haviam sido registradas país afora. Todas seguem regras rígidas de funcionamento, para afastar os riscos de agiotagem e lavagem de dinheiro. As ESCs só podem operar com capital em moeda corrente (imóveis e outros bens não valem) e que pertença aos próprios sócios, que precisam ser pessoas físicas e devem registrar as suas empresas em uma junta comercial. O faturamento bruto não pode ultrapassar 4,8 milhões de reais por ano, e a única fonte possível de receita é a cobrança de juros. “O perigo de uma institucionalização da agiotagem tem sido muito levantado, porém a criação desse instrumento é, no fundo, uma ação antiagiotagem, e quem não fizer um contrato com o seu cliente pode ir para a cadeia”, alerta José Luis Dias da Silva, consultor jurídico da Associação Nacional de Fomento Comercial.

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    As ESCs, na verdade, fazem parte de um plano maior do governo federal, que vem preparando uma série de mudanças com o intuito de estimular a economia. Elas partem de uma agenda propositiva capitaneada pelo Banco Central, batizada de BC# — uma atualização do que já vinha sendo tocado pela administração anterior sob o nome BC+ —, que tem como linhas mestras inclusão, competitividade, transparência e educação financeira. Na segunda-feira 3, por exemplo, foi anunciada na capital paulista pelo Banco Central a criação da Iniciativa de Mercado de Capitais (IMK), um grupo de trabalho encarregado de simplificar as regras e popularizar as ferramentas de investimento do mercado financeiro. Já o Inova Simples, um regime especial lançado no fim de abril, vai facilitar a formalização e o desenvolvimento de startups no país.

    Novidade por aqui, os instrumentos de microcrédito à margem das instituições financeiras tradicionais são uma realidade já consolidada no exterior — e não apenas em nações ricas e de conhecida cultura liberal, como os EUA. Países pobres como a Índia e Bangladesh são referência em programas nos quais pequenos bancos, instituições não financeiras e mesmo ONGs oferecem a milhões de pessoas empréstimos que às vezes não passam de 50 dólares. Medidas para facilitar a inclusão de quem quer empreender e, no entanto, não conta com recursos para investir no próprio negócio têm um efeito imediato na vida desses cidadãos. Contudo, é no longo prazo que se deve prestar mais atenção.

    A capacidade de crescimento sustentável da economia nacional está, a curto prazo, refém de desequilíbrios difíceis de ser resolvidos, como a crise fiscal. Desse modo, medidas de estímulo e simplificação no plano microeconômico ajudam a iniciativa privada a impulsionar os negócios, a despeito da situação do setor público. São as pequenas e as médias empresas que vão gerar os empregos de que o Brasil tanto precisa hoje — o que permite o consumo, puxa os investimentos, aumenta a arrecadação e, enfim, faz a roda da economia girar. Segundo levantamento da consultoria Rever, cada real emprestado em operações de microcrédito gera 4,50 reais para o PIB a médio e longo prazo, na forma de produção de riqueza e criação de empregos diretos e indiretos. Quanto mais gente como Elaine Ferri ajudar a circular o dinheiro, melhor para o país.

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    Publicado em VEJA de 12 de junho de 2019, edição nº 2638

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