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Crise do petróleo e coronavírus causam a maior queda da bolsa desde 1998

"Um dia absolutamente estressante, devastador”, diz analista perante tombo de 12,16% do Ibovespa

Por Machado da Costa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Victor Irajá Atualizado em 9 mar 2020, 18h08 - Publicado em 9 mar 2020, 17h24

O mercado financeiro viveu um dia de caos. O acirramento dos ânimos entre Arábia Saudita e Rússia devido à queda dos preços de petróleo e os desdobramentos da epidemia de coronavírus (Covid-19) levaram pânico aos mercados como há muito não se via. No Brasil, o Ibovespa teve o pior pregão em mais de duas décadas. Nem mesmo hecatombes como o atentado de 11 de setembro (2001) ou a quebra do banco Lehman Brothers (2008) levaram a tamanha derrocada. O principal índice de ações da bolsa de valores de São Paulo, a B3, fechou em queda de 12,16% nesta segunda-feira, 9, após entrar em “circuit breaker” às 10h31 — quando o índice já apontava um derretimento de 10,02%.

Uma desvalorização pior do que esta data de 10 de setembro de 1998, quando a Rússia decretou moratória. O resultado foi um tombo de 15,83% naquele dia. “Hoje foi um dia absolutamente estressante, devastador”, diz Glauco Legat, analista-chefe da corretora Necton. “O humor dos investidores mudou drasticamente”, resume.

O tamanho da derrocada das ações, superior à de grandes eventos históricos, reflete o momento de histeria do mercado financeiro. Já se sabe que os efeitos do Covid-19, embora graves, serão limitados sobre a economia mundial. Contudo, há desdobramentos improváveis como os desvelados após a reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

No sábado, os maiores vendedores da commodity sentaram para decidir como lidar com a queda dos preços. Entretanto, o pedido dos países do Golfo Árabe, de reduzir a oferta de petróleo para manter as cotações mais altas, foi rechaçado por Vladimir Putin, presidente da Rússia. Em retaliação, o príncipe saudita Mohammad bin Salman decidiu aumentar a produção do país e dar um desconto de 10%. Se os investidores já tentavam se segurar em algo para manter os valores dos papeis apesar do avanço da doença pelo mundo, a Opep empurrou do precipício o mercado global.

O atrito fez despencar os preços da commodity. O petróleo tipo Brent, negociado em Londres, fechou com queda de 23,88%, cotado a 34,46 dólares. Já o WTI, negociado em Chicago, caiu 25,02%, a 30,95 dólares. No Brasil, a queda recaiu principalmente sobre a Petrobras: baixa de 31,2%, com ações cotadas a 15,70 reais. A correria para vender é digna dos piores dias de pânico da história. Explicações lógicas pouco se aplicam num dia como este. “Apesar da decisão da Arábia Saudita causar um grande impacto no mercado hoje, a medida não deve ter uma duração de longo prazo, e o principal ponto de estresse no momento ainda são as incertezas sobre o real impacto econômico do coronavírus, este sim, com potencial de duração de longo prazo, pelo menos enquanto não houver a produção de uma vacina”, escreveu Ernani Reis, analista da Capital Research.

O dólar teve um comportamento mais racional, diferentemente de outros momentos. A moeda americana subiu 1,97%, fechando a 4,73 reais. A disparada foi contida pela enxurrada de dólares feita pelo Banco Central. Logo nos primeiros minutos de negociação, a autoridade monetária disponibilizou 3 bilhões de dólares para acalmar os ânimos. A moeda americana já batia a casa dos 4,80 reais quando o BC anunciou o leilão de dólares à vista — ou seja, uma injeção monetária na veia do mercado para não deixar faltar dólares durante o dia. A alta, contudo, está distante dos maiores dias de estresse da economia brasileira. Em 18 de maio de 2017, na esteira do vazamento da delação do empresário Joesley Batista — que implicou diretamente o então presidente, Michel Temer, num aparente esquema para comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha —, o dólar superou 10% de alta, enquanto que o Ibovespa fechou com queda de 8%.

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