Custo-Brasil impõe pesado fardo à economia e mobiliza setor produtivo por medidas
Empresariado articula uma ampla frente de atuação para pressionar o poder público para destravar o potencial da indústria brasileira
O país carrega há décadas um fardo que limita sua competitividade, inibe investimentos e reduz o potencial de crescimento: o chamado custo-Brasil. O termo, amplamente difundido entre empresários e economistas, sintetiza um conjunto de distorções que atravessam a economia — burocracia complexa, carga tributária excessiva, infraestrutura precária, energia cara e insegurança jurídica, para citar apenas algumas. Somados, esses fatores impõem às empresas um ônus estimado em 1,7 trilhão de reais por ano e tornam o produto nacional mais caro e com menos condições de disputar espaço nos mercados internacionais. Diante desse quadro, cresce a mobilização do setor produtivo por medidas que aliviem velhos gargalos e modernizem o ambiente de negócios, em uma tentativa de destravar o potencial da indústria brasileira e recolocar o país na rota do desenvolvimento sustentável.
Sob a liderança da Confederação Nacional da Indústria (CNI) — entidade que cunhou a expressão “custo-Brasil” ainda nos anos 1990 — e com o apoio do Movimento Brasil Competitivo, que reúne representantes de diferentes setores da economia, o empresariado articula uma ampla frente de atuação para pressionar o poder público e acelerar a adoção de medidas que reduzam esse peso sobre a produção nacional. “O custo-Brasil encarece os preços no mercado interno e, ao mesmo tempo, limita a capacidade de competir no exterior”, diz o empresário Felipe Castro, sócio da Agroindustrial Serra Verde, em Boa Vista (RR). “O momento eleitoral que se aproxima é oportuno para enfrentarmos essa situação.” A empresa vende para consumidores locais e para países da região do Caribe, mas enfrenta dificuldades para ampliar sua presença em mercados de maior escala. “Os processos burocráticos e os gargalos de logística arrefecem o nosso impulso exportador”, afirma Castro. “As condições de produção dos nossos competidores internacionais são melhores que as nossas.”
O custo-Brasil se manifesta na distância que separa o ambiente produtivo nacional do contexto observado nas principais economias do mundo. Quase todos os fatores que oneram a indústria, da carga tributária à burocracia e à infraestrutura, resultam em custos mais altos aqui do que no exterior. O acesso à energia é um exemplo eloquente: o gás natural usado nas fábricas americanas chega a custar até seis vezes menos do que o gás no Brasil, diferença que impõe à indústria nacional um ônus anual estimado em 21 bilhões de reais apenas com esse insumo.
Além do gás, as deficiências em infraestrutura — que vão das telecomunicações e transportes à energia e à mobilidade urbana — acrescentam 284 bilhões de reais por ano ao custo das empresas. Caminhões parados em estradas deterioradas, ferrovias ociosas e outros gargalos logísticos compõem um cenário que limita o crescimento e encarece a produção. O resultado é uma sucessão de ineficiências que se reflete nos preços finais e pesa também no bolso do consumidor.
A carga tributária é uma das principais componentes do custo-Brasil. Somando tributos federais, estaduais e municipais, a arrecadação equivale a 34,2% do PIB , a proporção mais alta entre os países da América Latina (leia a reportagem na pág. 46). A complexidade do sistema de impostos impõe mais uma pena: segundo o Banco Mundial, empresas brasileiras gastam 1 500 horas por ano apenas para cumprir obrigações fiscais. “Vamos mostrar à população e sensibilizar os agentes públicos para o fato de que o custo-Brasil prejudica a todos, sem exceção, e não somente o empresariado”, diz o empreendedor do setor de plástico Léo de Castro, vice-presidente da CNI. “É uma luta que interessa a toda a sociedade.”
Uma campanha nacional a ser lançada em breve vai expor os principais entraves. Entre os temas prioritários estão a regulamentação da navegação de cabotagem, cujo marco legal foi aprovado há quatro anos, e do transporte ferroviário. “Enquanto isso não acontecer, caminhões continuarão congestionando estradas cheias de problemas, sujeitos a incidentes e com fretes que encarecem o produto na ponta do consumidor”, afirma o dirigente da CNI. O movimento empresarial busca transformar o combate ao encarecimento da produção em política de Estado. Criado em 2023 pelo Ministério do Desenvolvimento, o Grupo de Trabalho para a Redução do Custo-Brasil reúne catorze órgãos federais e entidades do setor privado. O grupo definiu catorze projetos prioritários em tramitação no Congresso que, segundo a CNI, podem gerar uma economia anual de até 530 bilhões de reais à atividade produtiva.
Um dos projetos propõe a reforma do ensino, com foco na ampliação dos cursos profissionalizantes. “A mão de obra ineficiente responde por quase a metade do custo-Brasil”, diz o administrador Rogério Caiuby, conselheiro-executivo do Movimento Brasil Competitivo. “Uma oferta mais ampla e qualificada no mercado de trabalho traria ganhos concretos para empregadores e empregados.” Em um país que precisa voltar a crescer, atacar o custo-Brasil é mais do que uma pauta econômica — é uma iniciativa vital para assegurar um futuro melhor.
Publicado em VEJA de 17 de outubro de 2025, edição nº 2966









