Ícone de fechar alerta de notificações
Avatar do usuário logado
Usuário

Usuário

email@usuario.com.br
ASSINE VEJA NEGÓCIOS

Custo-Brasil impõe pesado fardo à economia e mobiliza setor produtivo por medidas

Empresariado articula uma ampla frente de atuação para pressionar o poder público para destravar o potencial da indústria brasileira

Por Marco Damiani
18 out 2025, 08h00

O país carrega há décadas um fardo que limita sua competitividade, inibe investimentos e reduz o potencial de crescimento: o chamado custo-Brasil. O termo, amplamente difundido entre empresários e economistas, sintetiza um conjunto de distorções que atravessam a economia — burocracia complexa, carga tributária excessiva, infraestrutura precária, energia cara e insegurança jurídica, para citar apenas algumas. Somados, esses fatores impõem às empresas um ônus estimado em 1,7 trilhão de reais por ano e tornam o produto nacional mais caro e com menos condições de disputar espaço nos mercados internacionais. Diante desse quadro, cresce a mobilização do setor produtivo por medidas que aliviem velhos gargalos e modernizem o ambiente de negócios, em uma tentativa de destravar o potencial da indústria brasileira e recolocar o país na rota do desenvolvimento sustentável.

artes Eco indústria

Sob a liderança da Confederação Nacional da Indústria (CNI) — entidade que cunhou a expressão “custo-­Brasil” ainda nos anos 1990 — e com o apoio do Movimento Brasil Competitivo, que reúne representantes de diferentes setores da economia, o empresariado articula uma ampla frente de atuação para pressionar o poder público e acelerar a adoção de medidas que reduzam esse peso sobre a produção nacional. “O custo-Brasil encarece os preços no mercado interno e, ao mesmo tempo, limita a capacidade de competir no exterior”, diz o empresário Felipe Castro, sócio da Agroindustrial Serra Verde, em Boa Vista (RR). “O momento eleitoral que se aproxima é oportuno para enfrentarmos essa situação.” A empresa vende para consumidores locais e para países da região do Caribe, mas enfrenta dificuldades para ampliar sua presença em mercados de maior escala. “Os processos burocráticos e os gargalos de logística arrefecem o nosso impulso exportador”, afirma Castro. “As condições de produção dos nossos competidores internacionais são melhores que as nossas.”

O custo-Brasil se manifesta na distância que separa o ambiente produtivo nacional do contexto observado nas principais economias do mundo. Quase todos os fatores que oneram a indústria, da carga tributária à burocracia e à infraestrutura, resultam em custos mais altos aqui do que no exterior. O acesso à energia é um exemplo eloquente: o gás natural usado nas fábricas americanas chega a custar até seis vezes menos do que o gás no Brasil, diferença que impõe à indústria nacional um ônus anual estimado em 21 bilhões de reais apenas com esse insumo.

PROPOSTA - Léo de Castro, da CNI: “Superar entraves é uma luta que interessa a toda a sociedade”
PROPOSTA – Léo de Castro, da CNI: “Superar entraves é uma luta que interessa a toda a sociedade” (./Reprodução)
Continua após a publicidade

Além do gás, as deficiências em infraestrutura — que vão das telecomunicações e transportes à energia e à mobilidade urbana — acrescentam 284 bilhões de reais por ano ao custo das empresas. Caminhões parados em estradas deterioradas, ferrovias ociosas e outros gargalos logísticos compõem um cenário que limita o crescimento e encarece a produção. O resultado é uma sucessão de ineficiências que se reflete nos preços finais e pesa também no bolso do consumidor.

A carga tributária é uma das principais componentes do custo-Brasil. Somando tributos federais, estaduais e municipais, a arrecadação equivale a 34,2% do PIB , a proporção mais alta entre os países da América Latina (leia a reportagem na pág. 46). A complexidade do sistema de impostos impõe mais uma pena: segundo o Banco Mundial, empresas brasileiras gastam 1 500 horas por ano apenas para cumprir obrigações fiscais. “Vamos mostrar à população e sensibilizar os agentes públicos para o fato de que o custo-Brasil prejudica a todos, sem exceção, e não somente o empresariado”, diz o empreendedor do setor de plástico Léo de Castro, vice-­presidente da CNI. “É uma luta que interessa a toda a sociedade.”

artes Eco indústria

Continua após a publicidade

Uma campanha nacional a ser lançada em breve vai expor os principais entraves. Entre os temas prioritários estão a regulamentação da navegação de cabotagem, cujo marco legal foi aprovado há quatro anos, e do transporte ferroviário. “Enquanto isso não acontecer, caminhões continuarão congestionando estradas cheias de problemas, sujeitos a incidentes e com fretes que encarecem o produto na ponta do consumidor”, afirma o dirigente da CNI. O movimento empresarial busca transformar o combate ao encarecimento da produção em política de Estado. Criado em 2023 pelo Ministério do Desenvolvimento, o Grupo de Trabalho para a Redução do Custo-­Brasil reúne catorze órgãos federais e entidades do setor privado. O grupo definiu catorze projetos prioritários em tramitação no Congresso que, segundo a CNI, podem gerar uma economia anual de até 530 bilhões de reais à atividade produtiva.

Um dos projetos propõe a reforma do ensino, com foco na ampliação dos cursos profissionalizantes. “A mão de obra ineficiente responde por quase a metade do custo-Brasil”, diz o administrador Rogério Caiuby, conselheiro-­executivo do Movimento Brasil Competitivo. “Uma oferta mais ampla e qualificada no mercado de trabalho traria ganhos concretos para empregadores e empregados.” Em um país que precisa voltar a crescer, atacar o custo-­Brasil é mais do que uma pauta econômica — é uma iniciativa vital para asse­gu­rar um futuro melhor.

Publicado em VEJA de 17 de outubro de 2025, edição nº 2966

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

SUPER BLACK FRIDAY

Digital Completo

A notícia em tempo real na palma da sua mão!
Chega de esperar! Informação quente, direto da fonte, onde você estiver.
De: R$ 16,90/mês Apenas R$ 3,99/mês
SUPER BLACK FRIDAY

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 7,50)
De: R$ 55,90/mês
A partir de R$ 29,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$47,88, equivalente a R$3,99/mês.