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De BH para o mundo: como o Brasil é peça-chave para o Google

Em duas décadas, a big tech fez do país um centro de inovação e formação de talentos, com soluções que ultrapassaram fronteiras e ganharam escala global

Por Camila Pati Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 set 2025, 13h55 - Publicado em 26 set 2025, 06h00

O peso do Brasil dentro do Google pode ser medido sob diferentes prismas. No uso, o país está entre os cinco maiores mercados da maioria das plataformas da companhia, um sinal de como seus serviços estão entranhados no cotidiano dos brasileiros. No campo financeiro, ainda que a empresa não divulgue resultados locais, a operação nacional é vista como estratégica. Há também o aspecto qualitativo: a filial brasileira se tornou referência na formação e exportação de talentos e aparece recorrentemente entre os melhores empregadores. Em 2024, o impacto econômico do grupo no Brasil foi estimado em 215 bilhões de reais. “Estamos felizes por termos ajudado a criar comunidades de desenvolvedores, criadores e clientes que rapidamente adotam novas soluções, inclusive as mais recentes em inteligência artificial, como o Gemini”, afirma Fábio Coelho, presidente da empresa no país.

artes google

Pouca gente sabe, mas a história do Google no Brasil começou fora do eixo Rio-São Paulo. Há vinte anos, em Belo Horizonte, a empresa desembarcou com a compra da mineira Akwan, criada por professores e alunos da Universidade Federal de Minas Gerais e responsável pelo buscador TodoBR. Bruno Pôssas, hoje vice-presidente global do Google, era funcionário da startup quando representantes do Google a visitaram em 2004. Meses depois, em fevereiro de 2005, engenheiros da matriz submeteram a equipe a entrevistas decisivas. “Se não passássemos, tudo estaria em risco”, diz Pôssas. A aprovação veio e, em julho, o negócio foi oficializado, dando origem ao primeiro centro de engenharia do Google na América Latina.

O primeiro desafio do pequeno grupo brasileiro foi provar que o TodoBR superava o próprio Google nas consultas locais. Enquanto o buscador global misturava links de vários países, a versão mineira priorizava documentos nacionais. A tecnologia, incorporada em 2006, acabou melhorando a experiência de busca no mundo inteiro. “Foi um impacto gigantesco”, diz Pôssas. Naquele mesmo ano, os fundadores Larry Page e Sergey Brin vieram ao Brasil para conhecer de perto os escritórios de Belo Horizonte e São Paulo, e chegaram a vestir camisas da seleção brasileira de futebol. Determinada a permanecer no campo da busca, a equipe mineira lançou, em apenas dois anos, mais de noventa melhorias no algoritmo. O desempenho consolidou a reputação do centro brasileiro e atraiu investimentos, abrindo caminho para a expansão dos projetos no país.

Sergey Brin (à esq.) e Larry Page: no Brasil, eles vestiram a camisa da seleção
Sergey Brin (à esq.) e Larry Page: no Brasil, eles vestiram a camisa da seleção (Fabiano Cerchiari/Valor/Agência O Globo/.)
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De Belo Horizonte saíram capítulos decisivos da história do Google: a evolução do Orkut, sistemas de busca local, ferramentas de combate a spam e o Family Link, que auxilia famílias a controlar o tempo de tela das crianças. Vieram depois as informações de saúde revisadas por médicos, resultados de futebol em tempo real e aprimoramentos que tornaram o sistema mais veloz. Em 2024, a equipe desenvolveu soluções como a leitura de QR codes de pagamento via Pix diretamente pelo Google Lens e a integração do Pix ao Chrome, que permite pagar compras on-line pelo navegador. O Brasil também teve papel central no Search Live, a nova experiência de busca conversacional baseada em IA.

Mais recentemente, o anúncio do Modo IA em português ocorreu num momento em que o domínio do Google na busca on-line começa a ser contestado. Em 2025, a participação global da companhia caiu pela primeira vez em mais de uma década para abaixo de 90%, chegando a 87% nos Estados Unidos em março, segundo estudo do grupo financeiro Mirabaud. No Brasil, a tendência é semelhante: de 97% em dezembro de 2019 para 91% em agosto de 2025, o nível mais baixo desde 2009. A queda revela uma mudança no comportamento dos usuários, marcada pelo avanço de plataformas concorrentes e pela transformação do modo como as pessoas buscam e consomem informações. Pôssas rejeita a ideia de declínio. “Se você observa o negócio de busca e tudo o que ele viabiliza para os anunciantes, esse mercado continua crescendo mais de 10% ao ano”, diz. Na visão dele, a inteligência artificial expande o alcance da busca ao atrair consultas mais complexas. “Não existe limite para o tamanho desse mercado.”

Regina Chamma, diretora do Google Play, e Bruno Pôssas, VP de engenharia: carreiras longas e bem-sucedidas na big tech
Regina Chamma, diretora do Google Play, e Bruno Pôssas, VP de engenharia: carreiras longas e bem-sucedidas na big tech (Divulgação; Nereu Jr/Google Brasil/.)
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Para acompanhar a revolução da inteligência artificial, o Google acelerou sua expansão de engenharia por aqui, consolidando o Brasil como o principal polo técnico da empresa na América Latina. Em Belo Horizonte, ganhou um novo andar em seu centro de engenharia, enquanto em São Paulo será inaugurado, em 2026, o segundo centro da companhia, instalado no Instituto de Pesquisas Tecnológicas, na USP. No edifício histórico, atualmente em reforma, funcionará o primeiro Centro de Acessibilidade do Google. Sob a liderança de Alex Freire, a unidade reunirá centenas de especialistas — de engenheiros de software a cientistas de dados e gerentes de produto — e já é responsável por tarefas de escala global, como filtrar 20 bilhões de e-mails por dia e bloquear 99,9% dos spams e tentativas de phishing. “Investir no nosso talento local nos ajuda a ter um olhar mais brasileiro sobre os produtos”, afirma Freire.

A combinação de excelência técnica com adaptação à realidade local tornou-se a marca da operação no Brasil. “O Google Brasil se destaca pela inovação”, afirma Fábio Coelho. “Criamos soluções que nascem aqui e ganham o mundo.” Ele também destaca a relevância do Google for Startups Campus: “Em nove anos, aceleramos 470 empresas em São Paulo”. A Google Play, loja de aplicativos do Android, é um exemplo claro do impacto da big tech no ecossistema de desenvolvimento brasileiro. Regina Chamma, diretora da plataforma para a América Latina, adiantou alguns números que serão divulgados no fim do ano. “Estimamos que a média é de quase 200 000 empregos diretos e indiretos gerados por ano”, diz.

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Além de reforçar sua presença no Brasil, a companhia anunciou o compromisso de treinar mais de 1 milhão de brasileiros em inteligência artificial. Apenas no próximo dia 6 de dezembro, serão 200 000 pessoas capacitadas gratuitamente em IA generativa. O anúncio foi feito durante o Google Cloud Summit Brasil, que contou com a presença do CEO global, Thomas Kurian, em sua primeira visita ao país. Na ocasião, o Google Cloud — braço da empresa voltado a soluções corporativas — também revelou a instalação, em São Paulo, de seus processadores mais avançados, os Trillium TPUs, até então disponíveis apenas nos Estados Unidos e na Europa. A iniciativa contempla também programas de inteligência artificial voltados ao setor público e à educação. Ao se tornar peça estratégica no tabuleiro global da big tech, o Brasil não apenas recebe tecnologia, mas também passa a influenciar seu futuro.

Publicado em VEJA, setembro de 2025, edição VEJA Negócios nº 18

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