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De portas fechadas no país, varejo tem perdas de 53% em abril

Nem mesmo os supermercados se salvaram e tiveram retração de 6%, segundo levantamento de empresa do Santander; crise deve afetar comércio por longo período

Por Felipe Mendes 14 Maio 2020, 14h54

Diante das medidas restritivas para conter a disseminação do novo coronavírus, o comércio varejista segue acumulando perdas semana a semana. As vendas no varejo brasileiro registraram queda acachapante de 26,8% em abril na comparação com março, segundo levantamento, obtido em primeira mão por VEJA, da Getnet, empresa de tecnologia do Santander especializada em soluções para meios de pagamento. Em relação a abril do ano anterior, a redução foi ainda maior: 53%. Os dados são do IGet, índice que mede o desempenho do mercado a partir do volume de transações de pagamento em mais de 47.000 estabelecimentos no país. As perdas mais significativas, segundo a pesquisa, foram registradas em alguns estados do Nordeste, como Piauí (-88,7%), Paraíba (-83,8%), Rio Grande do Norte (-81,9%) e Ceará (-80,8%). No Sudeste, as vendas do comércio no Rio de Janeiro decaíram 54,1% e, em São Paulo, 53,5%.

Com as portas fechadas, alguns segmentos sofrem mais. É o caso do mercado de vestuário, onde as vendas decresceram 56,5% em relação a março e 78,2% na comparação com abril de 2019. As vendas de material para escritório e móveis, por sua vez, registraram perda de 73,7% na passagem anual, e o mercado de eletrodomésticos viu o consumo no país cair 69,1% em relação a abril do ano anterior. “As ações necessárias ao enfrentamento da pandemia da Covid-19 vêm impactando o varejo desde as últimas semanas de março”, afirma Pedro Coutinho, diretor-presidente da Getnet. “A diminuição da renda dos brasileiros leva à contenção de gastos e reflete neste cenário.”

Nem mesmo o segmento de supermercados, tido como comércio essencial, se salvou. Segundo o IGet, esse mercado retraiu 5,9% na comparação anual. No primeiro trimestre deste ano, tanto o Carrefour, dono da bandeira Atacadão, como o Grupo Pão de Açúcar (GPA), detentor dos supermercados Extra, Pão de Açúcar e Assaí Atacadista, registraram crescimentos expressivos em suas vendas. Enquanto o primeiro registrou um faturamento líquido de 14,4 bilhões de reais, 12,2% de avanço em relação ao mesmo período do ano anterior, o segundo, com mais opções de compra, viu sua receita líquida disparar 55%, para 19,7 bilhões de reais. Vender mais não significa, porém, lucrar mais. Com maiores impostos e despesas, o lucro líquido atribuído aos acionistas do Carrefour caiu 18% em relação ao primeiro trimestre de 2019, para 363 milhões de reais. Na visão do Credit Suisse, o desempenho foi “decepcionante”. O GPA, por sua vez, encerrou os primeiros três meses do ano com prejuízo líquido dos acionistas controladores de 130 milhões de reais. 

A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, a CNC, calcula que o comércio varejista já acumula uma perda de 124,7 bilhões de reais em sete semanas de paralisação das atividades (entre os dias 15 de março e 2 de maio) por causa da pandemia. Essa perda equivale a uma retração de 56% no faturamento habitual do varejo no período anterior à crise. “A nossa estimativa é a de que as vendas do varejo tenha caído cerca de 60% no Dia das Mães”, diz o economista sênior da entidade, Fabio Bentes, que não descarta novas quedas. “Seguramente, as demais datas comemorativas do varejo vão apresentar retrações, porque a pandemia, além de ser um problema complexo e difícil de ser solucionado no curto prazo, vai deixar uma herança econômica bastante negativa no que se refere às condições de consumo.” Em faturamento, as maiores perdas do varejo no período são registradas em São Paulo (-38,8 bilhões de reais); Minas Gerais (-10,03 bilhões de reais); Rio de Janeiro (-9,37 bilhões de reais) e Rio Grande do Sul (-9,31 bilhões de reais).

Além do avanço da enfermidade, que já atinge mais de 192.000 brasileiros, a restrição no acesso ao crédito e a deterioração do mercado de trabalho vão fazer com que o varejo continue registrando perdas. Com a escassez da oferta, pois a maior parte das lojas está fechada, e o avanço do dólar, produtos da linha marrom, como aparelhos televisores, celulares, itens de informática, dentre outros, valorizaram-se. Bentes acredita, no entanto, que as varejistas vão começar a sacrificar suas margens para não encalharem seus estoques. “Estamos passando por um momento de empobrecimento dos consumidores no mundo, e o Brasil não está fora disso. O número de ofertantes encolheu, mas o choque de realidade vai fazer com que essa estratégia de aumentos nos preços desses produtos não se sustente. O estímulo a implementar reajustes de preço para tirar proveito da situação será menor daqui para frente”, diz Bentes. Como a maioria dos itens de tecnologia são muito pressionados pelo giro rápido, as empresas vão ter que queimar margem para ganhar mercado. Segundo a CNC, a deterioração da economia pode eliminar cerca de 2,4 milhões de postos de trabalho formais no setor do varejo em até três meses. Um cenário desolador.

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